O
termo "Desmilitarização Cultural" é a primeira escada rumo à quebra de
um paradigma, que quase se tornou cláusula pétrea, da necessidade das
forças de segurança como militares. Esse modelo teve seus primórdios
quando do início da república os militares ganharam força e poder.
Segundo Paulo Sérgio Pinheiro "Praticamente ausentes do Congresso ao fim da Monarquia, os militares formam quase 20% do primeiro congresso republicano".
Paralelamente as polícias estaduais iam tomando corpo nos estados, mas
até então sem nenhum vínculo com as forças armadas e permanecendo "leais
aos respectivos presidentes" (governadores).
Para
Pinheiro "isso poderia eventualmente favorecer movimentos rebeldes
dentro do exército, como de fato favoreceu o tenentismo quando este se
aliou à oposições estaduais." Como manter o poder político com uma
ameaça crescente , e armada, como era o caso das polícias? "A brigada policial constitui propriamente a guarnição militar do Estado,
por isso mesmo, vai ser militarmente organizada, instituída e armada"
(mensagem apresentada ao Congresso Legislativo de São Paulo pelo Dr
Campos Salles, PResidente do Estado, a 7 de abril de 1897, p.55).
Percebe-se que desde seus primórdios as polícias , antes mesmo de terem a
ingerência das forças armadas, já eram concebidas como militarizadas.
Logo
após o fim da revolução constitucionalista ( 1932) e com Getúlio Vargas
no poder, as políciais passaram a ser militares e com vinculação ao
exército. As polícias passaram a ter uma identidade nacional imposta
pelas forças armadas, essas cada vez mais influentes no cenário politico
até que de fato assumem as rédeas do país com o golpe de 1964.
A
desmilitarização cultural nada mais é do que a rejeição daquilo
que engessa o trabalho policial, que impede a modernização das polícias.
Desmilitarizar culturalmente é trazer , em pequenas doses contínuas, o
senso crítico, a boa gestão, a melhor técnica, o profissionalismo e o
reconhecimento a todos os integrantes da instituição, e da própria
instituição, como necessários, indispensáveis à manutenção da ordem
pública e sensação de segurança sem as quais as atividades rotineiras se
tornam um risco. Em 2009 as mudanças estruturais foram confirmadas como
um dos dez (10) princípios da 1ª Conferência Nacional da Segurança
Pública – 1ª CONSEG NACIONAL- " Fomentar, garantir e consolidar
uma nova concepção de segurança pública como direito fundamental e
promover reformas estruturais no modelo organizacional de
suas instituições, nos três níveis de governo, democratizando,
priorizando o fortalecimento e a execução do SUSP – Sistema Único de
Segurança Pública -, do PRONASCI - Programa Nacional de Segurança
Pública com Cidadania – e do CONASP – Conselho Nacional de Segurança
Pública com Cidadania."
Precisamos
nos desvencilhar das velhas tradiçoes sem nenhum vínculo com a
realidade da segurança púbica, sem compromisso com o cidadão, que paga
seus impostos e exige uma prestação eficiente do serviço. É preciso
influenciar para mudar. Se cada individuo assumir uma postura crítica em
relação ao que está errado e buscar formas de agregar mudanças
chegaremos lá.
Desmilitarização cultural, cultive essa ideia.
Por Roner Gama/rededemocraticapmbm.com.br
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