BRASÍLIA — A ministra da Secretaria Nacional de Direitos Humanos, Maria do Rosário, disse nesta sexta-feira que a suspeita número um do desaparecimento do pedreiro Amarildo de Souza é a polícia. Ela informou que o governo está preocupado com o caso do morador da Rocinha, abordado no dia 14 de julho por policiais da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da comunidade e desde então, desaparecido.
— A situação do Amarildo não pode cair numa amplitude tal que tenhamos como resposta dizer que muitas pessoas estão desaparecidas após uma abordagem policial, mas não há nenhuma dúvida de que o inquérito ter sido levado para a Divisão de Homicídios e ter sido identificada a responsabilidade. A primeira suspeição que devemos ter é a de responsabilidade pública pelo desaparecimento — disse.
Maria do Rosário disse que está em contato com o governador Sérgio Cabral e com o secretário de Segurança Pública do estado do Rio, José Mariano Beltrame. Ela informou que ofereceu o apoio da Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (CDDPH). Segundo Maria do Rosário, a investigação do caso Amarildo aponta a hipótese concreta de que ele tenha sido vítima de violência policial e abuso de poder.
— Nos preocupa sobremaneira a abordagem policial e o posterior desaparecimento. Leva à responsabilidade pelo desaparecimento. Toda a investigação e o inquérito devem ser feitos com a hipótese concreta de que seja uma responsabilidade dos agentes públicos, do abuso de autoridade, da violência policial, algo com o qual nós não podemos conviver.
A ministra ponderou, no entanto, que não se pode “jogar fora” as experiências de pacificação de comunidades e disse que é preciso criar a cultura de que a polícia seja o mocinho da história.
Essa não é a primeira vez que a ministra faz críticas à atuação da Polícia Militar do Rio. Em junho, Maria do Rosário, criticou a atuação dos PMs nas manifestações, em especial no episódio ocorrido na Favela Nova Holanda, no Complexo da Maré, Zona Norte do Rio, que terminou com pelo menos dez mortos, entre eles três moradores.
— A polícia no Brasil precisa ser menos violenta e trabalhar a partir de uma perspectiva de inteligência, identificando onde estão os grupos criminosos e debelando quadrilhas. E não entrando simplesmente numa atitude repressiva contra quem quer que seja — disse Maria do Rosário, que comentou sobre a Maré:
— A investigação precisa ser muito séria e delicada. A polícia não pode sair matando.
Em maio, a ministra chegou a insinuar, no Twitter que os boatos de que o Bolsa Família, o principal programa social do governo federal, iriam acabar teriam partido da oposição. Depois, ela se retratou.
GPS das viaturas estavam desligados
Policiais da Divisão de Homicídios ouviram por cerca de duas horas na tarde desta sexta-feira a mulher do ajudante de pedreiro Amarildo de Souza. Mais cedo, a polícia fez uma perícia na Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da comunidade, local onde Amarildo foi visto pela última vez.
Na noite de 14 de julho, quando o auxiliar de pedreiro Amarildo de Souza desapareceu depois de ser levado por policiais para a sede da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Rocinha, as viaturas da unidade estavam com o GPS desligado, o que impossibilita que a Polícia Civil possa verificar, agora, se algum dos veículos fez um caminho suspeito ou deixou a comunidade. A Polícia já havia informado que, naquela noite, não estavam funcionando duas das câmaras de monitoramento da UPP que poderiam confirmar a versão do comandante da unidade, major PM Édson dos Santos, de que Amarildo deixou o local a pé, descendo as escadas de acesso à Rua Dioneia.
Embora o caso esteja agora na DH, a 15ª DP (Gávea) continuará investigando dois celulares que foram apreendidos na Rocinha no dia 13, durante a operação Paz Armada. Um dos aparelhos caiu do bolso de um traficante, e o outro que estaria com um casal que fugiu. Os dois celulares foram monitorados e, segundo investigações, pessoas que teriam ligado para aqueles números podem ter relação com o desaparecimento. Caso isso seja confirmado, essa parte da investigação também será levada para a DH.
O governador Sérgio Cabral, em entrevista ao GLOBO, também expressou sua preocupação com o caso:
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