Tenho certeza que o título basta, não preciso escrever mais nenhuma linha, para ser condenado por muitos como um defensor dos governos militares (a ditadura militar), um coronel saudosista dos anos de chumbo vivenciados no país há poucas décadas.
O título é mais que suficiente para que eu seja condenado pelos meus juízes ao enforcamento em praça pública, não recebendo nem o benefício da guilhotina, a morte rápida e indolor. Eles sentenciarão, lendo o título, que o povo deve assistir o meu estrebuchamento, a minha agonia lenta e todas as minhas caretas, como forma de exemplo pela ousadia de escrever tal heresia democrática.
Não peço misericórdia aos algozes, uso meu derradeiro pedido - espero ter tal direito - para escrever algumas linhas e sonhar com uma reflexão por parte dos meus leitores.
Historicamente, os governos militares no Brasil terminaram ontem, considerando que três décadas se passaram, apenas uma geração. Isso significa que a maior parte da população viveu esse período e conhece bem os acertos e os erros que ocorreram, portanto, me reservo o direito de não dedicar o texto aos elogios ou às críticas aos fatos passados, quero escrever sobre o momento atual, o dia 19 de dezembro de 2010.
Sou um democrata, como a quase totalidade dos brasileiros diz ser, porém tenho uma visão a respeito do termo mais exigente que a maioria dos que eu ouvi tratar do tema. Não aceito a democracia unicamente como o exercício do direito de votar nos nossos governantes, construindo assim um governo do povo, um governo dos representantes do povo. Penso que isso seja uma redução simplória, a democracia que eu defendo só existe quando o povo é educado, tem acesso à educação de qualidade, que permite a todo cidadão formar as suas próprias opiniões, certas ou erradas, edificar as suas opiniões forjadas com a sua bagagem de conhecimento, o seu ferramental, para que assim possa escolher seus representantes.
Inúmeras vezes escrevi que no Brasil não existe democracia, a minha democracia, tendo em vista que votam milhões de analfabetos e milhões de analfabetos funcionais, inteiramente incapazes de formar opinião sobre os temas mais importantes relacionados com a governança de um país.
Como eles podem escolher sem conhecer adequadamente os problemas e sem terem condições de analisar as propostas dos candidatos?
Escolhem pelo que ouviram dizer na televisão e no rádio, pois não lêem livros, jornais ou revistas. Aliás, devo fazer uma correção imediata, o povo lê a primeira página de vários jornais, que ficam propositadamente expostas nas bancas, criando a cultura da primeira página, a formação de opinião através de manchetes que podem ou não ser verdadeiras.
O analfabeto funcional adora uma manchete, ele constrói todo um raciocínio baseado nas letras garrafais que iluminam o seu despertar no caminho para o trabalho.
O RIO VENCEU O TRÁFICO!
Pronto, ele não precisa de mais nada para ditar cátedra nas discussões do dia sobre a eficácia do atual governo estadual e a vitória no Complexo do Alemão.
No país temos a obrigação de votar, nada além disso, temos a democracia da urna eletrônica que não pode ser auditada, a maravilha da modernidade que nenhum país sério se interessou em comprar ou copiar.
Observem, caros leitores, que mesmo o voto sendo obrigatório, milhões não votam, pelos mais diferentes motivos, dentre eles a descrença na democracia brasileira e a vontade irresistível de ir à praia, ouso afirmar.
A verdadeira democracia deve ser alicerçada com vários pilares sólidos - não apenas com o direito de votar -, sustentáculos que inexistem em um país completamente incapaz, por exemplo, de controlar a criminalidade política, as oligarquias cleptocráticas que avançam sobre o dinheiro público e privado.
Uma cleptocracia não pode ser democrática, embora todos possam votar.
No Brasil a criminalidade política funciona de forma sistêmica e expandiu os seus tentáculos para os órgãos de controle, sobretudo para parcelas do poder judiciário e do ministério público.
No país temos um sistema corrupto que funciona muito bem, isso é fato. Aliás, tal sistema é o que melhor funciona neste país, um exemplo de eficácia incomum.
A democracia não coexiste com a falta de educação e com a corrupção crescente, portanto, algo precisa ser feito para que o Brasil possa um dia ser uma democracia de verdade, onde os votantes sejam capazes de formar cada um a própria opinião sobre os fatos e o dinheiro público possa ser tratado de forma honesta e em prol da população.
E o que deve ser feito diante da nossa incapacidade de controlar a corrupção política?
Uma nova revolução militar?
Um golpe?
Não, claro que não. Ninguém deseja isso, nem os militares brasileiros, hoje tão acomodados em seus quartéis.
Todavia, algo precisa ser feito e rápido.
Infelizmente, os brasileiros até a presente data, não estão conseguindo controlar a cleptocracia, não estamos chegando nem perto, somos incapazes de deter esse câncer nacional.
Urge que encontremos uma saída, pois o Brasil não pode continuar nessa direção indefinidamente, temos que por um fim na roubalheira de terno em gravata, uma autêntica ditadura que se locupleta nos nossos bolsos.
Diante dessa realidade, penso que a nossa incapacidade está nos empurrando para o próximo governo militar no Brasil, não tenho qualquer dúvida, pois algo precisa ser feito para construir uma democracia nestas terras, nem que seja uma nova revolução militar.
Devemos lembrar que a constituição “democrática” prevê que a “defesa da pátria” é dever das forças armadas e ninguém pode negar que a “pátria” está em grave perigo.
A culpa pela instauração de um novo governo militar será nossa, a responsabilidade será dos que lêem jornais.
Os que comem, ouvem e digerem as manchetes não terão qualquer culpa, eles só querem circo e cerveja, não exigem nada mais, vivem muito bem assim.
Circo e cerveja!
Origem: Blog NOQAP
Fonte: blog CEL PAULO RICARDO PAÚL
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