* Rafael Augusto Mateus Machado
Nessa quarta-feira eu fui traído! E a Dona Maria não tem nada a ver com isso. Fui traído sim. Traída minha confiança, encerrada minha esperança. Não só minha, mas de muitos policiais e bombeiros militares que saíram de suas casas, seja na capital, na RMBH ou no interior do estado.
Saíram de casa armados de esperança e solidariedade. Mobilizados e motivados, sabiam que o momento era propício para a conquista de um aumento salarial expressivo, uma considerável valorização profissional. Atravessamos momentos de prosperidade econômica. Percebemos a sociedade acordar e entender que não há se falar em sociedade segura e protegida se o policial ficar abandonado à própria sorte. Nos sentimos mais importantes a medida em que se aproxima a copa do mundo... na primeira assembléia se reuniram um número considerável de militares. Na segunda falavam em 12 mil. Hoje não parecia ter menos. Deveriamos descer ao centro da cidade, ordeiramente, como da última vez, e lá nos juntar aos policiais civis e aos professores da rede estadual.
Mas isso não aconteceu. A chance única de pressionar o governo e conquistar o expressivo aumento que esperávamos foi desperdiçada.
Nossos supostos representantes, Cb Júlio, Sgt Rodrigues e Sub-Ten Gonzaga já haviam fechado seus acordos particulares com o governo. Na frente da tropa, se limitaram a desencorajar os manifestantes, induzindo e instigando todos a aceitação da proposta do governador. A nós, foi dada as costas e empunhada a bandeira do governo. Quem estava lá não acreditava no que via. O governo foi mais rápido e costurou suas alianças com linha mais grossa que os oficiais e praças que lá estavam. Seus soldados, Gonzaga, Julio e Rodrigues desmotivaram e desmobilizaram reformados, praças novos, duas velhinhas pensionistas que estavam no meio da quadra, Cabos, sargentos e alguns oficiais.
Não consigo imaginar o que o governador deve ter oferecido para que nossos líderes (ex-líderes) trocassem de lado. Nem quero imaginar. A assembléia terminou em clima de tensão e certa melancolia. Mais uma vez a esperança se esvai. O caráter se mostra maleável, a luz se apaga e triunfa a escuridão.
Penso nas palavras de um sargento que tomou o microfone: "Saí lá de Januária para lutar por um salário melhor. Com que cara vou chegar em casa...?" Ele devia ter feito como tantos militares daqui da capital: se limitado a ficar no conforto e segurança de sua casa enquanto outros lutam para mudar nossa realidade? Com essa nossa liderança, sim.
De tudo isso pude concluir:
1 - A greve de 1997 ficou no passado. Teve sua importância histórica mas o espírito ousado que fluia na coletividade da tropa, hoje foi definitivamente sepultado.
2 - Cb Júlio é só mais um vereador da cidade de Belo Horizonte. O ex-deputado Sangue Suga, da Máfia das Ambulancias. Aquele que vendeu sua candidatura a prefeitura de Belo Horizonte na primeira eleição municipal depois da greve. Agitador, fugiu da luta. Não me representa e acho que não representa nenhum policial militar. Ladrou, ladrou e na hora de mostrar os dentes, sorriu para o governo, impedindo o sorriso de tantos irmãos de farda.
3 - Sub Gonzaga é fraco. Não precisamos de um agitador, de um sindicalista, mas o sub é passivo, pacífico e diplomático demais. Não tem a força e agora não tem mais nem a legitimidade que esperamos de um líder.
4 - Deputado Sgt Rodrigues, seus atos hoje evidenciaram sua posição. Trata-se de um pelego, um pseudo-representante de nossa classe que, na realidade é aliado do governo.
5 - Conseguimos um aumento salarial razoável, mas quem esteve na última manifestação sabe que a gente podia mais. A insatisfação nem é tanto com relação aos índices, mas com relação ao fato de termos desperdiçado a oportunidade de conseguir valores superiores. E, é claro, a traição. Rídículo ver os três, numa ocasião motivando manifestantes e hoje, afinados, tocando como regia o maestro Anastasia.
6 - Ao aceitar os valores propostos pegamos um bilhete de loteria. Só o tempo e os rumos que a economia nacional trilhará mostrará se teremos algum reajuste real no longo prazo. É possível que em 2015, dependendo do desempenho da economia nacional, o nosso salário tenha poder real de compra inferior ao que tem hoje, aí sim vamos lamentar a oportunidade desperdiçada nessa ocasião...
Escrevo porque estive lá e fiquei indignado. Escrevo porque precisamos dar a resposta desse ato nas urnas. Escrevo porque assim posso evitar uma tonelada de peixes podres.
Fico por aqui. Peço que desconsiderem eventual erro de português. Não revisei nada. Escrevi rapidamente, com o coração. Dividi com voces para poder, enfim, tentar ir dormir em paz.
Quero, por um bom tempo, ficar sem ouvir falar nada de associação ou de representantes.
Que aqueles bons policiais que lá estiveram hoje consigam ter uma vida melhor, seja através de promoções, de novos concursos, seja um bom casamento, seja herança ou mega sena...
Que aqueles bons policiais que lá estiveram hoje consigam ter uma vida melhor, seja através de promoções, de novos concursos, seja um bom casamento, seja herança ou mega sena...
Que aquele sargento que saiu lá do norte de minas chegue em casa e contemple sua família com um olhar honesto, de quem saiu em busca de um ideal e voltou de forma honrada. Que os abrace, retome sua vida, prospere e enfim, encontre a sua felicidade.
Rafael Augusto Mateus Machado. Sd PM
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