O professor Washington Albino se foi
Contemplo a linha do horizonte de repente reta, discreta. Como se estivesse em mar alto. Não existe mais, no horizonte, a serra de São José. Seu modo de ser, barroco, diluiu-se. Já não se vê o horizonte que Washington ensinou-nos ao nos trazer, há quarenta anos, a Tiradentes. Sua ausência transtorna o horizonte.
Ensinou-me o Direito Econômico, que um professor da Faculdade de Direito da UFMG dizia ser "o Direito do Washington". Mais importante para a nossa existência, ensinou-nos a fraternidade mineira. Amigos como o professor Orlando de Carvalho e dona Lourdes. Ronaldo Cunha Campos, Ariosvaldo.
Apresentou-nos a Minas. O "chinesismo", dizia, de Sabará. Congonhas. O velho Caraça. Vinha a Tiradentes com o neto, Ricardo, e um cachorro amarrado em uma corda. Um dia corremos todo São João del Rei à procura de bolinhos de feijão. As viagens com ele eram sempre longas, todos os arredores dos caminhos de Minas visitados, cada pequena estória e cada desvio da Historia palmilhados. Sua casa, na serra de BH, um mundo que Washington inventou, no qual não alcançávamos os livros, os livros nos alcançavam.
Foi-se o nosso Amigo. Contemplo a linha do horizonte de repente reta, vazia na sua ausência, um momento depois, contudo, recomposta. À imagem e semelhança da que os emboabas e os inconfidentes divisavam, tal como ele nos ensinou. Desde o momento da sua partida, no entanto, a serra parecia ter mudado ou não haver mais, qual na Poesia. Foi-se o Amigo que nos deu Tiradentes e Minas de presente. Há de ter sido recebido com sorrisos de carinho pelos anjos, os anjos barrocos do Washington.
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