Vamos dar as mãos 1...2...3... Quem dos policiais militares incluídos na Policia Militar em Poços de Caldas no ano de 1996 não ouviu esse trocadilho dos “mais antigos”? [1]
Pois bem amigos, completamos 15 anos de efetivo serviço dedicados à Polícia Militar de Minas Gerais. Muito se passou durante essa jornada, que, diga-se de passagem, não foi fácil, mas com as graças de Deus seguimos em frente.
Alguns por algum motivo não estão entre nós exercendo a profissão, mas certamente não serão esquecidos. Outros constituíram família, outros constituirão, outros possuem outras prioridades, estão se especializando em cursos, graduando, sendo promovidos e outros devido a impedimentos judiciais e administrativos (nosso estatuto não admite a Constitucional presunção de inocência), mas enfim, o importante é que aqui estamos (por cima da terra), vivos e com saúde (e para os que não estão com saúde plena, cuide-se, ame-se acima de tudo).
Tenho ótimas recordações do nosso inesquecível Curso de Formação de Soldados da Policia Militar de Minas Gerais, iniciado no dia 1º de junho de 1996, na cidade de Poços de Caldas/MG. Os ilustres monitores de curso então 1º Sgt Oliveira e 1º Sgt Abelardo, [2] figuras históricas que muito nos ensinou com suas doutrinas e experiências vividas nas cidades de Bandeira do Sul e Passa Quatro. Os chefes de curso, Ten. Beethoven e Ten. Wenceslau, [2] excelentes oficiais, cada qual com seu dinamismo, se encaixaram como “luvas” no curso. O comandante da companhia escola Cap. Diovany sempre puxando a orelha dos “bodinhos”. [3] Sempre que um dos mencionados superiores hierárquicos agia com a emoção o outro aplicava a razão e vice-versa. Todos tinham uma sensatez acurada, pareciam combinar as ações. No final dava tudo certo, saía conforme planejado por eles logrando os objetivos de nos repassar o aprendizado. Sempre se esforçaram em prol de nosso aperfeiçoamento pessoal e profissional, preocupavam-se com nossa estabilidade. Não pensem que apesar da dedicação e conhecimentos de nossos Comandantes, éramos protegidos pelos erros que cometíamos, longe disso, quando tinham que punir, não hesitavam, contudo sabíamos que era para nosso aperfeiçoamento para nosso bem. E os professores civis e militares? Muito bem qualificados e dedicados, agradeço a todos pelos ensinamentos.
Hoje vejo que esses ensinamentos nos deu suporte para seguir o livre arbítrio e saber distinguir o bom e o ruim, o bem e o mal e aos que trilharam nas tentações e nos desvios de conduta, o próprio regulamento disciplinar assegurou a integridade e transparência dos ensinamentos dos mestres militares e civis
Éramos simples, mas dignos da profissão, nossas escalas eram confeccionadas às vezes a maquina de datilografar (nem sei se ainda existe) às vezes à caneta. Isso mesmo, tinta de caneta! Não importava como eram confeccionadas as escalas, o que nos interessava era nosso nome na escala de serviço, vestir a farda e sair às ruas, estagiando e patrulhando os bairros da maravilhosa cidade de Poços de Caldas. Retornávamos do estágio contando aos demais sobre nossas abordagens, prisões, debatíamos nossas “bodinhagens”. [4] E quando essas “bodinhagens” chegavam ao conhecimento de nossos comandantes, a detenção era certa. Não raras vezes os alunos ficavam detidos para análise do vacilo de uma abordagem ou um excesso cometido. Eram nas detenções que refletíamos nossas ações e omissões. Aluno as vezes excede por vibrar demais.
E os “rancas”? [5] Serviam para unir o grupo, incutir o “espírito de corpo”, ninguém chegava na frente, ou chegavam todos juntos ou não chegava ninguém, existia o companheirismo.
Aos poucos nosso caráter militar ia sendo moldado. Tínhamos entusiasmo e vibrávamos por sermos policiais militares (àquela época ganhávamos pouco mais de R$ 200,00 duzentos reais, meu pai completava meus vencimentos. [5] Ninguém tinha interesse em ser policial militar, muitos preferiam trabalhar como motorista, pois essa classe era bem mais remunerada que a classe de policiais militares. Quem era incluído na Polícia Militar, permanecia porque gostava, porque “estava no sangue”.
Apesar das pregações do espírito de corpo (não confundir com corporativismo), às vezes surgiam desavenças, mas por incrível que pareça os ânimos eram serenados. Ocorriam as intrigas, mas estas não perseveravam, a paz era retomada e todos continuavam amigos.
Os horários de “lazer” rendiam histórias nos alojamentos, e o alojamento 312 era o mais famoso pelas “bodinhagens” e principalmente pelo companheirismo, passávamos longe da viatura do CPU quando “caíamos” na noite poços caldense nas poucas folgas que tínhamos. Para falar a verdade, quando éramos alunos, procurávamos ocorrências em vez de diversão ou as ocorrências nos procuravam em vez da diversão.
Passado o final de semana, o comandante da companhia escola no início das instruções, era sempre o primeiro a falar, e “cuspir marimbondos” nas manhãs de segunda-feira sobre as “alterações” do final de semana e dizia que havia suspeitas de que tinha “dedo de aluno” nos acontecimentos.
Cada um dos alunos tinha sua particularidade, e acabava por receber uma alcunha, as quais não tinham cunho pejorativo e sim uma identificação de seu detentor. Com a permissão de todos e preservando suas identidades, citarei algumas (só de começar a imaginar relembro as cenas cômicas):
Agendinha(anotava tudo em uma bendita agenda, Sgt Abelardo temia essa agenda); Chulé (ate hoje não vi pé mais fedorento); Cat (ninguém viu esse camarada tomar banho); Down; Moita; Saci; Formigão (consegue falar mais de 9 mil palavras em menos de um minuto); Verme; Bicho de goiaba, Durock; Manitu (deus da chuva); Rei do gado; Brepbrep; Xaxim; Bisqui; Buiú; Menor; Quermacho; Piu-piu; Bala onda; Turco; Demônio da tasmânia; Diet; Gavião; Terrorista/Hi Hitler; Baturé; Índio Canibal; Cara inchada, Pigmeu; e os lendários: Batatinha (protagonista da música “dormi na praça” interpretada por Bruno e Marrone); Jegueira; Tio Chico; Cara de gato e Jaca paladium (quem não se recorda das historias do porco de conselheiro pena que pedia cachaça ao dono e dizia “estar rachando”? [acredite se puder, um porco que falava]) e outras pérolas, porém peço perdão por não lembrar-me de todas, afinal, 15 anos se passaram e minha memória não é mais a mesma.
Amigos, escrevi este texto para dizer-lhes o quanto são importantes por fazer parte de minha vida, e muitos ainda fazem, quer seja pessoalmente quer seja pela aproximação que a rede virtual nos proporcionou, mesmo estando longe fisicamente devido a distância.
Enfim formamos e estamos formados! Daqui mais 15 anos com as bênçãos de Deus estaremos reformados! Fomos moldados com a maravilhosa hierarquia e disciplina (base de nossa instituição), os que seguiram os ensinamentos de nossos mestres hoje aqui estão completando 15 anos nesta corporação de onde nos orgulhamos e usufruímos nossa subsistência. Durante esses 15 anos encontramos decepções, perseguições, tristeza, mas graças a Divindade Suprema sempre agiu em nosso favor, nos amparando e mostrando uma forma de contornar tais situações, soerguendo positivamente através de nossa virtude, dedicação, conquista, motivação, labor e tendo a satisfação em dividir nossas alegrias e conquistas com nossos familiares e amigos.
Orgulhamo-nos em pertencer à família policial militar, estamos no meio do caminho e se no meio do caminho surgir uma pedra, não desanime e não se dê por vencido. Você é o responsável do que fazer com a pedra: uma muralha ou um castelo!
Vamos dar as mãos 1...2...3..., e que não erremos os passos e não percamos a vez, mas se cambalearmos nos passos, sabemos que os amigos, companheiros, mestres e Deus, (a inteligência suprema e causa primária de todas as coisas) dar-nos-ão o suporte necessário.
[1] mais antigos: denominação no meio militar para referir-se aos policiais militares que já estão a mais tempo na corporação, militar com estabilidade profissional, efetivado.
[2] permitam-me referir ainda aos postos e graduações da época de curso (1996), no intuito de materializá-los no texto.
[3] Bodinho: termo usado no meio militar que define o recruta errante ou inocência profissional.
[4] Bodinhagem: vide bodinho
[5] Ranca: termo militar que define os treinamentos físicos de sobrevivência
[6] Vencimento: salário do militar
*Eliomar Correia de Araújo, Sargento da Polícia Militar de Minas Gerais e orgulhoso em ser um dos 123.000
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