Após o impasse da véspera, líderes da base governista cederam e incluíram, na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) sobre as atividades de Carlinhos Cachoeira, a investigação de agentes privados ligados ao bicheiro. Apesar de ter conseguido um acordo que prevê ampla apuração, a oposição diz contar com a pressão da opinião pública, já que será minoria na CPMI. Parte dos governistas reagia à inclusão de agentes privados entre os alvos da comissão por temer que a investigação chegue à Delta, construtora que tem bilhões de reais em contratos no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e com governos estaduais comandados por aliados. Com o acordo fechado ontem, começou a coleta de assinaturas necessárias para a instalação da CPMI e o início dos trabalhos, previsto para a próxima semana
Acordo prevê investigação ampla em CPI
Requerimento inclui agentes privados que tenham ligação com Cachoeira; oposição pede que opinião pública pressione
Isabel Braga, Maria Lima, Paulo Celso Pereira e Cristiane Jungblut
Tentáculos da contravenção
BRASÍLIA. Líderes da base governista e da oposição chegaram ontem a um acordo em relação ao texto do requerimento para a criação da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investigará o bicheiro Carlinhos Cachoeira e sua relação com políticos e empresas. Assim, as assinaturas começaram a ser coletadas, e a expectativa é que a CPMI comece a funcionar em, no máximo, duas semanas.
O texto acordado permite uma investigação ampla, incluindo agentes públicos e privados citados ou envolvidos nas práticas criminosas de Cachoeira. Os aliados governistas, no entanto, tentarão ter o controle da investigação, para impedir que a oposição crie constrangimentos para o governo. A oposição reconhece que o trabalho só avançará com apoio público:
- Teremos seis parlamentares titulares contra 24 do governo. Por isso, precisaremos da opinião pública para avançar - disse o líder do DEM, ACM Neto.
Apesar de a CPI ter 180 dias para funcionar, o PT tem dito que pretende fazer um trabalho rápido - até porque em julho o Congresso começa a ficar esvaziado devido à campanha eleitoral.
Uma das grandes preocupações de petistas e peemedebistas é sobre o alcance das investigações nas empresas, especialmente a Delta, que tem bilhões de reais em contratos no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e nos governos de estados comandados por integrantes da base aliada, especialmente o Rio.
Entre os nomes que devem integrar a CPMI estão o do líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros, e o ex-líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR). Outros nomes da base cotados são: os deputados Iris Araújo (PMDB-GO) e Luiz Pitiman (PMDB-DF); e os senadores Gim Argello (PTB-DF), Ciro Nogueira (PP-PI), Wellington Dias (PT-PI) e José Pimentel (PT-CE).
A oposição decidiu indicar um espécie de tropa de choque. Os escolhidos serão os de maior experiência em investigações. Dois deputados já foram escalados: Ônix Lorenzoni (DEM-RS) e Carlos Sampaio (PSDB-SP). O PSDB espera ainda ficar com sub-relatorias da comissão.
Ontem, o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) protestou no plenário contra o texto do requerimento da CPMI. O PSOL também reclamou que não foi consultado sobre o acordo e criticou a dubiedade do texto em relação a investigação de agentes públicos e privados com a rede de Cachoeira.
O partido, no entanto, pode assegurar uma vaga de suplência. O líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias, avisou que conversará na próxima semana com o DEM para discutir a possibilidade de cederem uma dessas vagas para Randolfe e outra para o senador Pedro Taques (PDT-MT).
A ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, foi alertada na terça-feira à noite sobre o alcance que pode ter a CPI.
- Esse é um caso atípico de CPI. Geralmente, a gente não sabe onde ela acaba. Mas essa, a gente não sabe nem onde começa - ironizou o petista Jorge Viana (AC).
FONTE:O GLOBO
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