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domingo, 18 de agosto de 2013

Um Concílio de toda a cristandade?




Com as categorias do Concílio Vaticano II, convocado por João XXIII (1881-1963), seguramente o papa mais importante do século XX, não daremos mais conta da nova realidade ameaçadora a que estamos inseridos. Tudo aponta para a necessidade de um novo Concílio Ecumênico.

Celebramos 50 anos da morte do Papa João XXIII (1881-1963), seguramente o Papa mais importante do século XX. A ela se deve a renovação da Igreja Católica que tentou definir o seu lugar dentro do mundo moderno. No dia 25 de janeiro de 1959, sem avisar a ninguém, declarou diante dos Cardeais estupefatos, reunidos na abadia beneditina de São Paulo junto aos muros, que iria convocar um Concílio Ecumênico.

Por sua própria conta havia feito um juizo crítico sobre a situação do mundo e da Igreja. Percebera que estávamos diante de uma nova fase histórica: a fase do mundo moderno com sua ciência, técnica, com suas liberdades e direitos. A Igreja precisava situar-se positivamente dentro deste fato emergente. Até então a atitude era de desconfiança e de condenação. O Papa entendeu que este comportamento levava a Igreja ao isolamento e à estagnação para seu próprio dano.

Ele repetiu a velho dito: ”vox temporis vox Dei (“a voz do tempo é a voz de Deus”)”; isso não significa”, disse ele, “que tudo no mundo, assim como se encontra, representa a voz de Deus; significa que tudo carrega uma mensagem de Deus, se boa para ser seguida, se ruim para ser mudada”.

Efetivamente, o Concílio Vaticano II se realizou em Roma (1962-1965); o Papa o abriu mas morreu antes de sua conclusão (1963). Seu espírito, entretanto, marcou todo o evento, com consequências até os dias de hoje.

Dois eram seus mottos principais: aggiornamento e Concílio pastoral. Aggiornamento é dizer: sim para o novo, sim para a atualização da Igreja em sua linguagem, em sua estrutura e em sua forma de se apresentar no mundo. Concílio pastoral queria exprimir uma relação para com as pessoas e para com o mundo de abertura, de diálogo, de acolhida e de fraternidade. Portanto, nada de condenações do modernismo e da “nouvelle théologie” como se fizera furiosamente antes. Em vez de doutrinas, diálogo, mútuo aprendizado e trocas.

Talvez esta afirmação de João XXIII resuma todo o seu espírito:” “A vida do cristão não é uma coleção de antiguidades. Não se trata de visitar um museu ou uma academia do passado. Isto, sem dúvida, pode ser útil — como o é a visita aos monumentos antigos — mas não é suficiente. Vive-se para progredir, embora tirando seu proveito das práticas, e mesmo das experiências do passado para ir sempre mais longe na trilha que Nosso Senhor nos mostra”.

De fato, o Concílio colocou a Igreja dentro do mundo moderno, participando de seus avatares e de suas conquistas. A Igreja da América Latina logo percebeu que não havia apenas o mundo moderno, mas o submundo sobre o qual pouco se disse no Concílio. Em Medellín (1969) e Puebla (1979) viu-se que a missão da Igreja no submundo, feito de pobreza e de opressão, deve ser de promoção da justiça social e de libertação.

Passaram-se já 50 anos do Concílio. O mundo e o submundo mudaram muito. Surgiram novos desafios: da globalização econômico-financeira e a consequente consciência planetária, a dissolução do império soviético, as novas formas de comunicação social (internet, redes sociais e outras) que unificaram o mundo, a erosão da biodiversidade, a percepção dos limites da Terra e da possibilidade de extermínio da espécie humana e com ela do projeto planetário humano.

Com as categorias do Concílio Vaticano II não daremos mais conta desta nova realidade ameaçadora. Tudo aponta para a necessidade de um novo Concílio Ecumênico. Agora não se trata apenas de convocar só os bispos da Igreja Católica. Face aos perigos que nos ameaçam, todo o Cristianismo, com suas igrejas, está sendo desafiado. Precisamos tomar a sério a aliança que o grande biólogo E. 

Wilson propôs entre as Igrejas e as religiões e a tecnociência, caso quisermos salvar a vida no planeta (cf. A Criação: como salvar a vida na Terra, 2008). Como estas forças religiosas podem contribuir para que tenhamos ainda futuro?. A subsistência da vida na Terra é o pressuposto de tudo. Sem ela se anulam todo SOS projetos e tudo perde sentido. Os cristãos deverão esquecer suas diferenças e polêmicas e se unir para essa missão salvadora.

O Papa Francisco tem todas as condições para convocar o conjunto das expressões cristãs, de homens e de mulheres, assessorados por pessoas de notório saber, mesmo não religiosas, para identificar o tipo de colaboração que podemos oferecer na linha de uma nova consciência de respeito, de veneração, de cuidado de todos os ecossistemas, de compaixão, de solidariedade, de sobriedade compartida e de irrestrita responsabilidade, pois todos somos interdependentes.

O Papa Francisco com seu modo de ser e de pensar despertou em todos nós a razão cordial, sensível e espiritual. Agregada à razão intelectual, protegeremos e cuidaremos, cuidaremos e amaremos essa única Casa Comum que o universo e Deus nos legaram. Só assim nos salvaremos.


Leonardo Boff é teólogo e escritor.

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