Peemedebistas da Câmara acusam o vice-presidente de ser “falso interlocutor” do PMDB no governo e de se aliar a Dilma contra Eduardo Cunha para se manter na chapa à reeleição da petista
Egoísta, falso interlocutor e prisioneiro do cargo. Esses foram alguns dos termos mais utilizados por deputados peemedebistas para se referir ao vice-presidente Michel Temer (PMDB), na reunião em que decidiram declarar independência da bancada na Câmara em relação ao governo. No encontro a portas fechadas, realizado ontem (11), Temer foi o principal alvo das críticas dos parlamentares, ao lado da presidenta Dilma.
Na avaliação dos peemedebistas, o presidente licenciado do PMDB não funciona como interlocutor do partido com a presidenta e fecha os olhos para a insatisfação da legenda para continuar como vice na chapa da petista à reeleição. Para eles, o vice-presidente desprezou os parlamentares da sigla ao endossar a tentativa de Dilma de isolar o líder Eduardo Cunha (PMDB-RJ). “O Michel não pode falar pela bancada”, sentenciou um deputado que participou da reunião de mais de três horas.
Em nota divulgada ao final do encontro, um item deixou claro o mal-estar entre deputados e Temer. “O único interlocutor da bancada é o Eduardo Cunha”, diz um trecho do documento, aprovado por 39 parlamentares. O isolamento do líder do partido na Câmara foi a principal aposta de Dilma na conversa que teve com Temer no final de semana para tentar conter a crise no PMDB.
Na nota, os parlamentares repetiram o discurso feito por Eduardo Cunha, na segunda-feira, de que tentar isolar o líder seria o mesmo que isolar a bancada inteira. A resposta não se restringiu a palavras. Veio no plenário, logo após a divulgação da nota dos deputados. Os peemedebistas e aliaram à oposição e a outros partidos da base insatisfeitos com o Planalto para aprovar a criação de uma comissão externa para apurar denúncia de corrupção envolvendo funcionários da Petrobras. O governo era contra o pedido, feito pelo DEM, alegando que não há fundamento nas denúncias e que a apuração pode afetar a imagem da empresa brasileira no exterior.
Para tentar conter a crise, Dilma recebeu, na segunda-feira (10), os presidentes da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), além do próprio Temer e do líder da bancada no Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE). E deixou Eduardo Cunha fora da conversa. O líder na Câmara não escondeu o incômodo por não ter sido chamado ao Planalto. “Se quiser ouvir a bancada da Câmara, vai ter que conversar com a bancada da Câmara”, afirmou o deputado fluminense.
Manter o emprego
Deputados ouvidos pelo Congresso em Foco responsabilizaram Temer pela exclusão do representante do partido na Câmara das negociações com Dilma. Para eles, o objetivo único do vice-presidente foi agradar à presidenta para manter sua vaga na chapa à reeleição. “A gente não pode encolher o partido para manter a vice-presidência”, disse um deles. Outro parlamentar afirmou que os deputados se sentiram desautorizados. “Não podemos viver para manter o emprego do Temer.”
Dilma tem isolado Eduardo Cunha, o porta-voz da insatisfação do PMDB, mas até o presidente da Câmara criticou essa postura. “Não é possível isolar um líder de uma bancada de 75 deputados. Pode ter dificuldades, mas faz parte do jogo político”, disse Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN).
Independência ou rompimento
No maior sinal da crise entre o PT e o PMDB até o momento, a bancada do PMDB na Câmara decidiu desembarcar da base aliada de Dilma. Eles resolveram não participar mais de reuniões dos governistas, apoiar requerimentos da oposição para investigar denúncias no programa Mais Médicos e convocar ministros, além de votar contra projetos considerados cruciais para o Planalto, como o marco civil da internet.
Durante reunião dos deputados, eles chegaram a cogitar colocar em votação a saída permanente da base de Dilma, mas, como o quórum estava baixo, a decisão ficou para outro momento. Mais tarde, quando foi colocada em votação a posição da bancada a partir de agora, a maioria dos deputados se manifestou por discutir a ruptura da aliança nacional.
Estavam presentes 39 deputados, dos quais 27 votaram a favor e 12 contra. O fim da aliança é o que a bancada vai defender na convenção nacional do partido, que pode ser antecipada para abril. O evento estava marcado para junho, mas a crise política com o PT levou peemedebistas a defenderem a antecipação da conferência.
Problemas regionais
A Câmara é o maior foco de insatisfação dos peemedebistas com o governo federal. O principal motivo é a indefinição de alianças nos estados. O PMDB avalia que o PT quer dominar as chapas estaduais para eleger um maior número de deputados nas eleições de outubro. O objetivo dos petistas seria eleger 130 deputados para tornar o Palácio do Planalto mais independente de outros partidos nas votações de seu interesse. Aumentar a bancada do PT significa diminuir a representação de outros partidos no legislativo.
O PMDB também luta para aumentar sua bancada, que hoje é de 75 deputados, a segunda maior da Câmara, atrás apenas do PT. Os deputados peemedebistas reafirmaram que a bancada não vai indicar nomes para a reforma ministerial do governo.
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