Por: Lúcio Alves
O Titanic de rodas
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Além de outras reivindicações, é de crucial importância a da mobilidade urbana. Em Belo Horizonte (MG), não tão belo assim, o Move (um equipamento de transporte que se diz moderno) foi inaugurado e o governo não teve a mínima preocupação de perguntar para a população os problemas que ele trouxe. Vou citar somente alguns:
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- O coletivo é lento e não melhorou a mobilidade.
- A espera nos pontos - quando se sabe - demora muito mais que a dos coletivos de outrora.
- Existe um vão (digo, um buraco) entre o ônibus e a plataforma. Nos dias em que o utilizei três coletivos pararam porque uma senhora havia prendido a perna nele.
- O coletivo começou a funcionar na Av. Antônio Carlos, a que leva ao Mineirão, e não avisando a população, só no meu ônibus foram quatro freadas para evitar atropelamento.
- o atendimento ao "cliente" é de péssima qualidade. Motoristas e trocadores - diga-se de passagem que têm alguns com compaixão - estão nervosos e claramente sem a paciência necessária para este tipo de trabalho. O pessoal que tenta explicar também.
- Como informação a PBH entrega um papelzinho que tenta ser explicativo, mas ninguém entende o 51, o 50 e o 52. Os erros são constantes e muita gente perde o bonde. Os de bom coração dizem que "é o começo, aí erra assim mesmo".
- Não estão claras as paradas no centro da cidade. As placas faltam aqui e ali e o "usuário da droga" fica sem saber onde e quando pegar o Move.
- Detalhe: para chegar à região dos hospitais, o moribundo que pegar o ônibus corre o risco de não chegar. Sugiro um especial para este caso.
- No interior do veículo, em um dia destes, o ar condicionado estava tão frio que era melhor ficar em uma geladeira. Uma idosa bem humorada disse, "não adiantou nada tomar a vacina da gripe". Coitados dos alérgicos.
- Os trocadores ainda andam gritando com a boiada, "pode ir, já desceram". Ainda batem as pratinhas e dizem, "vamos, ta liberado". E as freadas para ajeitar o povão ainda são utilizadas pelos motoristas.
- As catracas internas, agora controladas por um dispositivo, barram a entrada. Depois do pagamento o trocador libera como se o usuário tivesse a intenção de não pagar. Um clima de suspeita se forja entre os usuários que estão agarrados na catraca.
- No interior das cabines (algumas ainda em construção), que ostensivamente tomam as avenidas, as pessoas esperam entristecidas, cansadas e melancólicas. Um ferro é onde elas podem sentar. Ainda não existem cadeiras e idosos, gestantes e portadores de necessidades especiais ficam se equilibrando no ferro lá exposto. O ferro não comporta tanta gente. “É preciso chamar os direitos humanos", disse um jovem irritado. Outro, mais entristecido, "vou chamar a polícia, pois ela passa toda hora por aqui".
- Algumas cabines ainda estão mal iluminadas e ao redor de outras não existe iluminação. Local para a oportunidade de roubo, furto etc. Em tempos de diminuição de "fatores de risco" contra a violência e a criminalidade o poder público erra feio.
- Alguns coletivos possuem um sinal ensurdecedor e tenho dó do motorista.
- O coletivo ainda dá a partida com as portas abertas. Sabemos de um dispositivo através do qual o motorista só pode dar a partida com as portas fechadas. Segurança é tudo.
- Detalhe, a TV interna não funciona e os Moves tentam imitar com certa incompetência o metrô.
- Pessoas que entram pelas portas sem saber nas paradas no interior da cidade são chamadas em alto e bom som pelo trocador: "olha, tem que pagar". É a estratégia da vergonha e da violência simbólica em alto e bom som.
- As pessoas ainda continuam a desrespeitar os lugares dos seres humanos que merecem o direito de estarem em situação de vulnerabilidade social como os idosos, as gestantes, etc.
- As ruas no interior da cidade são claramente estreitas para o Move articulado. O sacrifício é tão grande que motoristas e trocadores, além das setas colocam mãos e o pescoço para fora no intuito de avisar os outros motoristas. A disputa pelo espaço se dá por gritos e buzinas e, logicamente, pelo tamanho do automóvel.
- Ainda é verdade que as pessoas nos automóveis não respeitam a faixa exclusiva para o "novo navio negreiro" ou o novo "transporte pós-moderno".
- Um detalhe: a mudança no trânsito na região dos hospitais e próximo ao Palácio das Artes ficou muito perigosa. Os sinais estão em descompasso. O tempo para atravessar é curto. Motoristas não sabem por onde passar e as pessoas (muitos adolescentes devido ao colégio próximo) ficam se amontoando na espera do sinal que custa a fechar. Não sei se aconteceu alguma fatalidade, mas se acontecer, a conta deve ser depositada na Prefeitura.
- Para completar, a prefeitura ainda teve a ousadia de jogar todo o trânsito para as avenidas laterais. Quilômetros de engarrafamento se formam e duas horas parece pouco para chegar a algum lugar.
- Vou parando por aqui. Desculpem-me o mal arrumado das palavras. Escrevi rápido devido a indignação. Daí a desorganização dos temas e de algumas palavras. Mas acho que fui contaminado pelo Move. Estou quase parando. Como o povo, estou cansado e estressado. O meu cartão está amarelo e – com muitos –ficará vermelho na Copa. A cidade está um caos.
- Que Deus abençoe e vamos torcer para o Titanic de rodas não afundar.
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