As empresas que doaram recursos para as campanhas de políticos do PSDB em grande medida são as mesmas que doaram recursos para o PT. Pelo menos foi assim nas eleições de 2010, segundo uma pesquisa realizada por pesquisadores da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e da Universidade Estadual de Ponta Grossa, que analisou as doações feitas para as candidaturas em todos os cargos em disputa em 2010, nos diferentes Estados, segundo base de dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
A reportagem é de Vanessa Jurgenfeld, publicada pelo jornal Valor, 30-10-2014.
"A conexão mais comum realizada por empresas foi entre PT e PSDB em 2010", explicou Rodrigo Horochovski, pesquisador da UFPR, que apresentou o estudo no 38º Encontro da Anpocs, em Caxambu (MG). Ou seja, a maior parte das empresas preferiram doar para os dois partidos.
A segunda conexão mais comum encontrada foi a de doações de mesmas empresas ao PMDB e ao PSDB. "Isso significa que as empresas acendem uma vela para Deus e outra para o diabo. As empresas não têm preconceito ideológico, mas sim têm preconceito contra partidos periféricos, sujeitos sem experiência política e de pequenos partidos", explicou.
A pesquisa também apontou que os candidatos que receberam mais recursos e uma variedade maior de fontes coincidentemente são aqueles que receberam o maior número de votos, o que mostra a centralidade do papel da doação das empresas. Segundo ele, dessa forma, entende-se que as principais empresas doadoras de recursos para partidos políticos possuem uma grande capacidade de identificar aqueles que são os partidos mais competitivos e que têm maiores chances de eleger vencedores.
A análise foi feita sobre as doações às campanhas de 2010 e, além de empresas, mostrou como outros dois atores diferentes colocam dinheiro em campanha (pessoas físicas e agentes partidários). Segundo ele, as empresas se fixam por objetivos de competitividade do candidato, ou seja, doam aos que na sua visão possuem maiores chances de vencer o pleito, independentemente da ideologia do partido em questão. As pessoas físicas, por sua vez, doam recursos por questões ideológicas, enquanto e o agente partidário doa de acordo com a determinação dada pela coligação no âmbito nacional, mesmo que em algumas vezes ela fuja de uma certa identidade partidária.
A pesquisa mostra que não há na rede de doações das empresas diferenças entre os partidos por questões de bandeiras (e por aí seria difícil traçar uma ideologia de esquerda ou direita) e também isso não ocorre com os agentes partidários. Somente nas pessoas físicas as doações seguem critérios de ideologia partidária.
O trabalho não se preocupou em dizer quem são as empresas, nem os demais doadores, mas a mostrar como funciona a rede de doações, a estrutura dos relacionamentos, independentemente de quem é quem. A volume de recursos doados em 2010 somou R$ 2,9 bilhões, havendo 256 mil atores na rede de doação. Desses, 21,3 mil são candidaturas e comitês de candidaturas; 22,5 mil são empresas, há cerca de 396 agentes partidários e 212,6 mil pessoas físicas.
Horochovski destaca que nas doações de pessoas físicas geralmente se observou a constituição de uma rede de doações de centro-esquerda/esquerda e outra de centro-direita/direita." Isso é esperado intuitivamente, mas isso agora é revelado matematicamente. A pessoa física que doa para o PT dificilmente doa para o PSDB. PT e PCdoB é bem mais comum", exemplificou. "Existe uma rede de esquerda forjada pelas doações pessoas físicas. Agora as redes criadas pelos agentes partidários não são ideológicas, nem a das empresas", acrescentou.
Sobre a discussão do financiamento de campanha, um dos temas da reforma política, o pesquisador entende que a empresa é um ator legítimo, que tem interesses e que deveria continuar podendo doar. Horochovski diz que não concorda com a interpretação de que se a empresa não vota, ela não poderia doar. "Há atores de carne e osso, mas a empresa também é um ator, ela tem uma existência, e tendo interesses legítimos por que não assumir isso como parte do sistema?", disse ele, colocando-se favorável à doação de empresas. Mas diz que o modelo atual é muito desigual porque a doação é baseada no faturamento da empresa, então empresas grandes têm uma capacidade muito maior de doação do que outras e isso gera diferentes poderes de pressão. Ele tem sugerido um valor máximo absoluto de doação para cada candidato como alternativa.
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