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O verdadeiro desafio não é inserir uma idéia nova na mente militar, mas sim expelir a idéia antiga" (Lidell Hart)
Um verdadeiro amigo desabafa-se livremente, aconselha com justiça, ajuda prontamente, aventura-se com ousadia, aceita tudo com paciência, defende com coragem e continua amigo para sempre. William Penn.

segunda-feira, 17 de março de 2014

Chegada de Rubens Paiva ao DOI foi testemunhada e confirmada por ofício


  • Deputado foi preso em casa, no Leblon, dia 20 de janeiro de 1971

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Família marcada. Sentados, Eunice e Rubens, ao lado de sua mãe, D. Aracy, e Vera, Atrás em pé, Eliana. No chão da esquerda para direita, Ana Lúcia, Maria Beatriz e Marcelo<br />
Foto: Terceiro / Arquivo de família Família marcada. Sentados, Eunice e Rubens, ao lado de sua mãe, D. Aracy, e Vera, Atrás em pé, Eliana. No chão da esquerda para direita, Ana Lúcia, Maria Beatriz e Marcelo Terceiro / Arquivo de família
RIO — O coronel Ronald José Mota Batista de Leão, ex-chefe do Pelotão de Investigações Criminais (PIC) da Polícia do Exército, provável pivô da remoção do corpo de Rubens Paiva do Recreio dos Bandeirantes, responsabilizou o Centro de Informações do Exército (CIE) pela recepção e pelo interrogatório do ex-deputado no Destacamento de Operações de Informações (DOI-I), em 21 de janeiro de 1971. Leão, que morreu recentemente, virou proscrito na repressão, depois do episódio, e era acusado de se apropriar de bens pessoais de membros das organizações armadas de esquerda, arrecadados nos estouros de aparelhos.
Superiores foram alertados
Leão, cujo comportamento provocou desconfiança no CIE em 1973 por ameaçar dizer o que sabia sobre o caso, apontou no ano passado o então capitão Rubem Paim Sampaio como o chefe da equipe que recebeu Paiva no DOI. Paim Sampaio, por conta deste depoimento, será agora chamado a depor no Ministério Público Federal. O coronel disse também que o ex-deputado foi levado até lá pelo CIE e entrou por um portão dos fundos.
— Ao tomar conhecimento do fato, da chegada de um preso à noite, procurei me certificar do que se tratava, mas fui impedido pelo pessoal do CIE (major Sampaio e capitão Perdigão), sob a alegação de que era um preso importante, sob responsabilidade do CIE/DOI. Alertei ao comando e fui para casa — contou Leão, em abril de 2013, à Comissão Nacional da Verdade.
Em 1978, o mesmo Leão, conhecido por parecer-se com o cantor Nelson Gonçalves, contou a uma equipe do “Jornal do Brasil” que viu Paiva pendurado num pau de arara. Disse que o ex-deputado estava nu e que ele chegou a dar um tapinha no traseiro do preso, dizendo “que b.. gorda, deputado”. Mas, na época, garantiu que não chegou a torturá-lo, embora, como chefe do PIC, fosse o responsável pela carceragem.
Paiva foi preso em casa, no Leblon, dia 20 de janeiro de 1971, por uma equipe do Centro de Informações de Segurança da Aeronáutica (Cisa), que não apresentou mandado de prisão, mas permitiu que ele trocasse de roupa e saísse guiando o próprio carro. Desde então, o ex-deputado é considerado desaparecido. Na época, Paiva era acusado de manter correspondência com exilados políticos brasileiros no Chile. O ex-deputado havia sido cassado em 1964. A mulher, Eunice, e a filha, Eliana, de 15 anos, também foram sequestradas. A jovem foi libertada no dia seguinte, mas Eunice ficou 15 dias presa.
O então tenente Armando Avólio Filho, que também pertencia ao PIC, disse que, logo após testemunhar torturas a Paiva, chamou Leão e levou o caso aos comandantes do DOI, major José Antônio Nogueira Belham, e da PE, coronel Ney Fernandes Antunes, mas nenhuma providência foi tomada.
Até então, a presença de Paiva nas masmorras do DOI fora reconhecida apenas pelo ex-tenente médico Amilcar Lobo (já falecido). Em depoimentos dados na época em que foi denunciado pela ex-presa política Inês Etienne Romeu, considerada a única sobrevivente da Casa da Morte de Petrópolis, Lobo disse que deu assistência a um “desaparecido político", a quem viu “moribundo, uma equimose só e roxo da raiz dos cabelos às pontas dos pés", numa cela do DOI da Rua Barão de Mesquita, na Tijuca.
Farsa para forjar fuga
Em depoimento recente à Comissão Estadual da Verdade e ao Ministério Público Federal, o então major Raimundo Ronaldo Campos admitiu ter montado, por ordens superiores, uma farsa para forjar a fuga de Paiva. Com a ajuda dos irmãos e ex-sargentos Jacy e Jurandyr Ochsendorf, ele atirou na lataria de um Fusca e o incendiou no Alto da Boa Vista, no Rio. A montagem se destinava a sustentar a versão oficial, segundo a qual, ao ser levado por militares, o ex-deputado teria sido sequestrado por terroristas.
Campos disse saber que se tratava de uma operação para justificar o desaparecimento de um prisioneiro. Revelou também ter informações de que ele já estava morto.
Além dos depoimentos, documentos arrecadados na casa do ex-coronel Júlio Molinas Dias, em Porto Alegre, assassinado em 2012 durante um assalto, comprovaram que Paiva, depois de preso pela Aeronáutica, foi levado para o DOI.
Documento relata prisão
Molinas, que comandou o DOI em 1981, guardava uma folha de ofício amarelada e preenchida em máquina de escrever, na qual o Exército relatava a prisão de Paiva. Intitulado Turma de Recebimento, o documento contém o nome completo do político (Rubens Beyrodt Paiva), de onde ele foi trazido (o QG-3), a equipe que o trouxe (o CISAer, Centro de Inteligência da Aeronáutica) e a data (20 de janeiro de 1971), além de uma relação de papéis, pertences pessoais e objetos de valor do ex-deputado. Consta também uma assinatura, possivelmente de Paiva, que era acusado de manter correspondência com exilados políticos.
O Exército jamais admitiu responsabilidade pelo sumiço do político.

‘Nada fiz além de cumprir o meu dever’, diz coronel sobre desaparecimento de Rubens Paiva

  • Arrependimento nenhum: militar disse que, se precisasse, faria tudo novamente
Publicado: 16/03/14 - 7h00
Atualizado: 16/03/14 - 9h21
RIO — Arrependimento nenhum. O coronel que assumiu a responsabilidade pelo desaparecimento de Rubens Paiva disse que, se precisasse, faria tudo novamente.
Quem matou Rubens Paiva?
Sinceramente, não faço ideia. Eu não estava no Rio. Mas sei que foi excesso de zelo, excesso de vontade.
Então, o senhor admite a tortura a Rubens Paiva. Torturava-se intensamente na repressão?
Guerra é guerra. O guerrilheiro que não usa uniforme, que se disfarça, não está subordinado à Convenção de Genebra. É a guerra suja. Nós mesmos, os militares, nos tornamos guerrilheiros.
Como começou?
Os meninos resolveram brincar de guerra. Viraram guerrilheiros, mas lhes faltavam coragem, disposição e aprendizado. Houve, então, o enfrentamento, e eles levaram a pior, coisa cara até hoje às suas famílias, que sentem a falta daqueles que ficaram pelo caminho.
A ferida continua aberta?
O rei Ostrogodo dizia: “Ai dos vencidos!”. Eles nos veem até hoje como inimigos. Mas nada fiz além de cumprir o meu dever. Era do Exército e fui chamado para combatê-los. Fui usando a minha melhor inteligência.
O senhor participou da Guerrilha do Araguaia. Por que terminou com mais de 50 desaparecidos?
Sim, fui para lá em 1973. Fiz parte das equipes que atuaram sem uniformes, as zebras, como éramos chamados. Cada equipe tinha 13 componentes e um mateiro, que fez toda a diferença. Ele sabia, pelas plantas, há quanto tempo alguém havia passado por uma picada. Isso pela quantidade de insetos que se juntavam em torno do suor deixado nas folhas. Aquilo ali não era brincadeirinha de bandido e mocinho. Sentávamos o dedo neles, antes que eles fizessem o mesmo. Não tínhamos como fazer prisioneiros.
Por que as zebras?
Porque até então, com uma força convencional, o governo não havia conseguido resolver o problema. Aí, o general Bandeira (Antônio Bandeira, chefe da campanha militar no Araguaia entre 1972 e 1973), que não entendia nada de guerrilha, resolveu chamar as zebras.
E por que fazer os inimigos desaparecerem?
O desaparecimento é mais importante do que a morte porque causa incerteza no inimigo. Quando um companheiro morre, o guerrilheiro lamenta, mas acaba esquecendo. Não é como o desaparecimento, que gera uma expectativa eterna.
O senhor se arrepende do que fez?
Nem um pouco. Foi tudo racionalizado. Se precisar novamente, estou preparado. Tenho 76 anos, mas ainda posso dar instrução aos mais jovens.

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