Lúcio Alves de Barros*
Introdução
Os media não apenas se referem aos atos violentos, como também exercitam
um certo grau de violência ao mostrá-los ao público, a partir de seus modos próprios
de enunciação. Esse gesto de violência simbólica ocorre devido ao poder que os
meios de comunicação têm de interceder na realidade, dela extraindo fatos,
descontextualizando-os, nomeando-os, categorizando-os, opinando sobre eles e
expondo-os nas imagens, por vezes exorbitantes, dos closes e big-closes. (Rondelli,
1995: 100)
Nós, policiais e jornalistas, nunca vamos nos dar bem.
E é bom que seja
assim mesmo, porque a função da imprensa é cobrar, exigir. E cobrar correto, exigir
correto, com dados. Vocês têm que exigir que a gente volte atrás quando estiver
errado. Vocês têm que, inclusive, nos processar, quando a gente for injusto. Nossa
função é informar direito e eu sempre vou estar querendo saber o que vocês estão
fazendo de errado. Eu sempre vou estar mostrando, para o aborrecimento de vocês,
que o certo não importa; o errado é que importa. E é muito chato, eu sei que é chato,
mas é assim que funciona a estrutura da notícia. (Gilberto Dimenstein, 1996)
“Temos que tomar cuidado, o vandalismo está tomando conta de Belo
Horizonte”, disse um comerciante próximo a minha casa. “O Pedro vai deixar a
empresa”, diz aos berros o trocador do ônibus. “Por quê?” Pergunta o motorista. “Ele
está com medo de ser assaltado”. “Mãe! Coloque sua bolsa para frente”. Diz a
criança na fila do banco após um doce olhar sobre minha pessoa. A antropóloga Alba Zaluar, em palestra no I Fórum Metropolitano contra a violência ocorrido em
Belo Horizonte, disse que tinha medo da polícia.
Um major, sentindo-se visivelmente
desrespeitado, afirmou para a pesquisadora que medo de polícia tem quem é
bandido. Alba Zaluar retrucou perguntando se ele achava que ela era bandida. Sem
discutir o falatório desnecessário naquele e nesse local, o fato é que o pânico e o
medo estão disseminados em todas as camadas sociais. A discussão entre a
professora e o militar e os casos relatados não são mais do que reações que não
apontam para o que é mais importante. O determinante da discussão está velado,
para usar um termo policial, nas falas dos atores: em questão está o sentimento que
algo não está indo muito bem nas políticas públicas voltadas para a segurança
social e individual.
E, pior, não existe consenso entre aqueles que de alguma forma
materializam opiniões institucionais.
Creio que boa parte das pessoas tenha passado ou presenciado tais
experiências. A violência cotidiana, mais do que secular e de muitas faces, que
atinge a vida de determinadas pessoas, produz sentimentos de medo. Digo
sentimentos, pois não existe outra forma para definir a “sensação de insegurança”
que, de uma forma ou de outra, vem interferindo e moldando o imaginário social.
Não obstante, é possível afirmar que estamos diante de um “novo” problema
social? Por que a violência só agora tem invadido o imaginário social e intensificado
o sentimento de insegurança? Quais os atores responsáveis por tal investimento?
Neste texto não pretendo responder todas essas questões.
Porém, com base
nelas, procuro delinear três reflexões: a primeira é que a violência tornou-se uma
mercadoria como outra qualquer e tal condição tem fornecido a munição necessária
para a manutenção do sentimento de insegurança que perpassa a sociedade.
Em segundo, afirmo que o principal vilão, ou mesmo refém da “notícia não
objetiva” sobre a violência, tem sido o trabalho policial, notadamente o trabalho
ostensivo feito pela Polícia Militar.
Defendo que os meios de comunicação, em sua
maioria, são ignorantes no que concerne aos princípios, valores e a ascese do
trabalho de polícia. Essa ignorância, indubitavelmente, tem colocado em xeque não
apenas o trabalho dos policiais mas também as instituições responsáveis pela justiça
e ordem pública. Concluo apontando para a necessária revisão dos conteúdos e da
transparência do fazer jornalístico, um dos poderes responsáveis pela cobrança e
averiguação de informações e mensagens indispensáveis à democracia.
CONTINUE LENDO: file:///C:/Users/usuario/Downloads/artigo_midia_e_policia.pdf
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