Em um depoimento de duas horas e meia prestado nesta sexta-feira (15/6/12) a deputados estaduais, autoridades policiais e do Ministério Público, um ex-contraventor de Juiz de Fora confirmou o pagamento de propina a três delegados e vários investigadores da Polícia Civil, além de policiais militares daquela cidade. O nome da testemunha foi preservado pelas autoridades, a fim de resguardar a apuração das denúncias sobre o crime organizado na região. O depoimento foi colhido por iniciativa da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Os deputados Sargento Rodrigues (PDT) e Paulo Lamac (PT) ouviram a testemunha.
De acordo com o deputado Sargento Rodrigues, a testemunha afirmou ter pago pessoalmente, em 2010, R$ 10 mil de propina ao delegado Fernando Camarota, da Polícia Civil, e mais dois investigadores, identificados como Marcelo e Alexandre. Esse pagamento teria sido investigado pela Polícia Federal, que encaminhou denúncia ao Ministério Público em Juiz de Fora. Os promotores que receberam a denúncia na época, no entanto, não teriam solicitado providências da Corregedoria da Polícia Civil.
Por essa razão, o deputado Sargento Rodrigues disse que pretende solicitar o encaminhamento das notas taquigráficas do depoimento para a Corregedoria e para o Conselho Nacional do Ministério Público, para averiguações. Em entrevista a um jornal da Capital, Camarota disse não ter conhecimento dos fatos relatados na imprensa que indicariam seu envolvimento com recebimento de propina. Outro policial civil de Juiz de Fora foi denunciado pela testemunha como proprietário de máquinas de caça-níqueis na cidade.
O depoente também afirmou que conhece o empresário Frederico Arbex, há pelo menos 15 anos, como proprietário de pontos de jogo do bicho e de outras modalidades de jogos ilegais, em Juiz de Fora. De acordo com o depoimento, Arbex utilizaria a boate Prime Club e lanchonetes, de sua propriedade, para lavagem do dinheiro obtido com o jogo ilegal. Anselmo Fernandes, ex-comandante da Polícia Militar em Juiz de Fora, também foi apontado pelo depoente como sócio de Arbex. À imprensa, os dois têm afirmado que as denúncias não procedem.
De acordo com Sargento Rodrigues, o contraventor ouvido pelos deputados também informou que Arbex teria tentado implantar, em Juiz de Fora, 22 máquinas para jogo do bicho que teriam sido fornecidas por contraventores de Goiás. Nesse Estado, é acusado de liderar o jogo do bicho Carlos Cachoeira, atualmente investigado pelo Congresso Nacional. Diante dessas informações, o deputado Sargento Rodrigues disse que apresentará o conteúdo do depoimento para os parlamentares a fim de solicitar assinaturas necessárias para instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a questão em Minas Gerais.
“Esse depoimento foi uma confirmação do grau elevado de envolvimento dos policiais com recebimento de propinas e com o crime organizado em Juiz de Fora”, afirmou Sargento Rodrigues. Frederico Arbex foi convidado a prestar depoimento aos deputados, mas não compareceu.
O depoimento colhido pelos deputados em Juiz de Fora também foi acompanhado pelos promotores de Justiça Luiz Gustavo de Melo Beltrão, Vânia Menezes Pinheiro, Kelma Marsenal Pinto e Plínio Lacerda; pelo delegado-chefe de Polícia Federal em Juiz de Fora, Cláudio Dornelas; pelo subcorregedor da Polícia Civil, Alexandre Campbell França; e pelo subcorregedor da Polícia Militar, tenente-coronel Moisés Ricardo Pinto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Seu comentário é sua opinião, que neste blog será respeitada