MAURO PAULINO DIRETOR GERAL DO DATAFOLHA ALESSANDRO JANONIDIRETOR DE PESQUISAS DO DATAFOLHA
A pesquisa divulgada hoje pelo Datafolha reflete o peso da violência urbana no imaginário do paulistano e também a distância existente entre o universo da gestão pública, da cobertura feita pela mídia e a realidade das ruas.
São raros os assuntos que em pesquisas de opinião alcançam quase a totalidade de conhecimento.
Apesar dos esforços de setores da imprensa para não propagarem a sigla, 98% dos moradores da capital já ouviram falar no PCC.
Mesmo com a relutância do governo em admitir uma guerra velada, 96% tomaram conhecimento da onda de homicídios dos últimos dias.
Eduardo Anizelli-02.nov.2012/Folhapress | ||
Familiares de homem que foi morto a tiros no início deste mês observam local do crime no Jd. Arpoador, em SP |
Se há algo democrático hoje em São Paulo é o medo. Quase todos os entrevistados revelam algum grau de temor de serem pessoalmente atingidos pela onda de violência. Essa tendência beira o pânico na periferia, regiões da cidade onde as chacinas são mais frequentes.
Para se ter ideia dos efeitos imediatos dessas mortes na rotina da população, a taxa dos que se sentem muito inseguros ao andarem à noite pelas ruas de seus bairros disparou 35 pontos percentuais se comparada à do DNA Paulistano realizado até o último mês de agosto.
Talvez porque boa parte dos moradores identifique naqueles que deveriam protegê-los uma ameaça concreta. O índice expressivo dos que enxergam a formação de grupos de extermínio por parte de policiais é equivalente ao dos que reconhecem a participação do PCC nos episódios recentes.
São significativas também as taxas dos que dizem ter mais medo do que confiança nas forças policiais, especialmente na Polícia Militar, principal responsável pela crise, segundo os paulistanos.
Com isso, num confronto entre polícia e bandido, apenas metade diz temer mais os bandidos.
O vetor que catalisa o medo é a desinformação gerada pela falta de transparência.
Para a grande maioria dos paulistanos, o governo vem escondendo dados sobre a onda de homicídios, há a impressão majoritária de que boa parte das vítimas era inocente e a imparcialidade da imprensa no tratamento dos episódios divide opiniões.
Os dados mostram um cenário preocupante do ponto de vista da opinião pública e historicamente familiar.
Grupos de extermínio, sonegação de dados, facções criminosas, imagem de parcialidade da mídia, disseminação do medo.
A gestão da segurança pública mantém raízes na repressão, é um tabu da redemocratização.
Fora dos períodos eleitorais, não há representação política reconhecida na periferia que dê voz aos que se encontram na linha de fogo. Não é surpresa que "a sigla" ameace ocupar esse espaço.
Folha de S.Paulo
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