DÉBORA ÁLVARES / BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo
O desmatamento na Amazônia Legal caiu 27% entre julho de 2011 e agosto deste ano na comparação com o período anterior e atingiu o menor nível desde que começou a ser medido, há 24 anos. "Essa é a única boa notícia ambiental que o planeta teve em 2012", disse a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira.
O decréscimo em um ano foi de 1.762 km², atingindo 4.656 km² - a última medição havia registrado 6.418 km². "É um marco jogar para baixo de 5 mil km² o desmatamento na região", destacou a ministra, em Brasília.
A reportagem é de Débora Álvares e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 28-11-2012.
Em 2005, quando a média de desmatamento era de 19.625,40 km², a Política Nacional sobre Mudança do Clima se comprometeu a reduzir o índice em 80% até 2020. O desempenho atual coloca o País a 4% de atingir a meta, de 3.925 km².
A ministra destacou a expressiva redução de 44% no desmatamento registrado no Pará, que ficou em 1.699 km², ainda assim a maior área de desmate no País. Izabella Teixeira demonstrou preocupação com crescimento de 33% em Tocantins, 29% no Amazonas e de 10% no Acre. "Não sabemos se é legal ou ilegal porque os Estados não tornaram disponíveis as bases de informação que tratam de investigações", explicou.
Em Mato Grosso, a taxa diminuiu 12% no último período, após a instauração de um "gabinete de crise" por conta do aumento registrado de 2010 para 2011, com aumento da fiscalização e avanços tecnológicos.
O governo descartou qualquer relação entre a desaceleração da economia e a queda no desmatamento. Segundo dados do ministério, os últimos anos em que houve aumento do Produto Interno Bruto (PIB) foram justamente os que registraram maior queda no desmatamento.
Tecnologia
Afim de intensificar a redução do desmatamento na Amazônia Legal, o MMA vai usar, a partir do próximo ano, um auto de infração eletrônico, que será utilizado em campo pelos fiscais do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama).
"O fiscal do Ibama estará em campo monitorado. A partir de imagens de satélite se identifica o desmatamento ilegal. As coordenadas são remetidas para bancos de dados em Brasília e é emitido um auto de infração eletrônico", explicou Teixeira.
O projeto dos aparelhos custou R$ 15 milhões. Por questão de segurança, a ministra não divulgou quantos equipamentos serão usados, mas destacou que cada equipe de fiscalização terá um. "Temos 1,2 mil fiscais federais, mas também equipes da Polícia Federal, Ibama, além de operações especiais que teremos com o Exército." Outra novidade apresentada durante o balanço do desmatamento é sobre o uso de dois novos satélites no monitoramento da Amazônia Legal.
O ministro da Ciência, Tecnologia e Informação, Marco Antônio Raupp, diz que os satélites estão em construção e começarão a ser usados já no ano que vem. "Ele tem maior precisão geométrica e maior amplitude. Com isso será possível enxergar uma área maior de forma mais clara", diz Raupp.
Os números do governo comprovam o monitoramente independente feito pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), que, com dados menos precisos, havia detectado queda de 36% no mesmo período, em boletim divulgado em julho deste ano.
O pesquisador Heron Martins, porém, diz que há um alerta de tendência de aumento - de agosto a outubro deste ano, o desmatamento acumulado cresceu 125% em relação aos mesmos três meses de 2011. "Há uma brecha provocada pela indefinição a respeito do novo Código Florestal. Além disso, o asfaltamento de uma região que liga Cuiabá a Santarém tem facilitado a extração no local", diz Martins.
País divulga redução de desmate e cobra desenvolvidos
O anúncio da redução de 27% da taxa de desmatamento deve ser usado pelo País nas negociações do clima para pedir mais ambição dos países desenvolvidos em seus esforços de redução das emissões de gases de efeito estufa.
Chefe da negociação brasileira na Conferência do Clima das Nações Unidas, André Corrêa do Lago, que chegou a ser aplaudido quando fez o anúncio em plenária, disse à imprensa que essa é uma indicação forte de como os países em desenvolvimento estão cumprindo seus compromissos. "Estamos falando da redução da maior fonte de emissões que o Brasil tinha. O desmatamento respondia por mais de 60% das nossas emissões", declarou.
Lago disse ainda que essa é "uma demonstração de que os países em desenvolvimento estão fazendo tudo o que disseram que iam fazer nesta convenção. E os desenvolvidos não estão entregando o que concordaram em fazer".
Com essa redução, o Brasil se aproxima da meta voluntária acordada em 2009, na COP do Clima de Copenhague, de chegar a 2020 com uma taxa de desmatamento de 3.907 km - 80% menor do que poderia estar se a taxa média de desmatamento verificada entre 1996 e 2005 continuasse crescendo no ritmo anterior.
"A redução de desmatamento é um processo de longo prazo. Ter reduzido agora não significa que ainda não seja necessário um esforço para continuar nesse ritmo e ter certeza de que ele será mantido", completou Lago.
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