"Se flagraram policiais alterando, adulterando, e fraudando a cena do crime, para assegurar a excludente da legitíma defesa, sob a legitimação do manto da impunidade, tal fato se caracteriza em fortes e contudentes indicios da contra indicação do ciclo completo de polícia às Polícias Militares.
Portanto, o ciclo completo de polícia, além de não ser a solução apregoada para a redução e prevenção da criminalidade e da violência, poderá se constituir em uma arma contra o cidadão, sua cidadania e dignidade humana, já que no atual modelo militarizado de segurança pública, as instituições e organizações policiais são quase intocáveis e avessas ao controle social e cidadão.
Não há confiança reciproca, e credibilidade entre os cidadãos e a Polícia Militar para que se conceda mais poder de polícia a uma instituição que cultural, histórica, e politicamente serve ao poder do estado, e que mesmo após o periodo autoritário, não estabeleceu e consolidou sua identidade profissional e cidadã."
José Luiz Barbosa, Sgt PM - RR, especialista em segurança pública, ativista de direitos e garantias fundamentais e militante na luta contra o assédio moral.
Imagens mostram PMs mexendo em cena de homicídio na Providência, Rio
Cinco PMs que participaram da ação foram presos administrativamente.
Policial põe arma na mão de jovem baleado e faz dois disparos; veja vídeo.
Moradores do Morro da Providência, na Zona Portuária do Rio, flagraram nesta terça-feira (29) policiais militares alterando a cena do homicídio de Eduardo Felipe Santos Victor, de 17 anos, em um beco da comunidade.
Nas imagens (veja no vídeo acima), PMs aparecem mexendo na cena do crime e um deles coloca uma arma na mão do jovem baleado e faz dois disparos para o lado, aparentemente simulando um confronto. Antes, um outro policial já havia faz um disparo com sua própria arma, para o alto.
O moradores que gravaram o vídeo narram a cena e dizem que ouviram o jovem ainda teria gritado de dor. "Eu ouvi o moleque falando: 'Ai, ai, ai, para, ai, ai, ai, para'", diz uma testemunha. "Eu levantei no primeiro tiro. Ele botou à queima-roupa. Olha lá o garoto cheio de sangue", narra.
Outra testemunha contou ao RJTV que, após a morte, os PMs ainda insultaram moradores que se aproximaram. "Chamou o morador de lixo. Quem mora no morro é lixo. Então, isso está errado", disse.
Os cinco policiais que teriam participado na ação foram presos administrativamente e vão prestar depoimento. Segundo o porta-voz das UPPs, major Ivan Blaz, eles podem ser expulsos da corporação.
"As imagens são de uma flagrância chocante, saltam aos olhos. E o bem maior é a credibilidade do processo. Uma medida imediata tem que ser tomada (...) Hoje houve confronto na Providência entre traficantes e PMs. Houve a morte em decorrência de intervenção policial. O comandante da UPP recebeu o vídeo pela associação de moradores, o que mostra a confiança da comunidade", disse Blaz.
Inicialmente, o caso foi registrado como auto de resistência. Com o vídeo nas mãos, no entanto, a Polícia Civil foi à favela para encontrar o policial que fez o registro e deu início à investigação. As armas dos PMs foram apreendidas. A morte também será investigada, pela Divisão de Homicídios.
No início da noite, equipes da DH e policiais militares voltaram ao Morro da Providência para realização de perícia.
Em nota, o secretário de Estado de Segurança, José Mariano Beltrame, informou que "repudia atos como esse" e determinou "rigor nas investigações com punição exemplar dos responsáveis".
O comando da Polícia Militar disse que avalia como "gravíssima a atitude dos policiais e não compactua com nenhum tipo de desvio de conduta". "A Corregedoria Interna da Polícia Militar determinou a abertura de um Procedimento Administrativo Disciplinar para analisar a permanência dos policiais na corporação. A apuração ficará a cargo da 8ª Delegacia de Polícia Judiciária Militar (DPJM)", diz o texto.
Em sua defesa, os PMs disseram que foram encontrados um rádio transmissor, uma pistola 9 mm e munições com o jovem.
Uma testemunha disse, em entrevista ao RJTV, que Eduardo tinha ligação com o tráfico e estava armado, mas tentou se render e não reagiu.
"Eu estava dormindo. Acordei assustada com os tiros. Muito tiro. Fui, olhei da janela. De repente eu deparei com o menino. Ele estava armado, mas ele se rendeu", contou.
Segundo moradores que flagraram a ação, os policiais estariam forjando uma reação de Eduardo, que teria sido morto por eles momentos antes.
No Instituto Médico Legal (IML), familiares disseram ao G1 apenas que têm certeza que o adolescente foi confundido com um traficante, mas não quiseram dar mais declarações.
Protesto
Moradores fizeram uma manifestação na região da Pedra Lisa, em um dos acessos que dão na parte de trás da Central do Brasil. Segundo a Coordenadoria de Polícia Pacificadora, os policiais da própria UPP Providência contiveram o protesto e a situação se acalmou sem feridos. O policiamento foi intensificado.
À noite, na porta da delegacia, muitos moradores da Previdência xingavam policiais de "assassinos". O Batalhão de Choque da PM foi chamada para evitar protestos violentos.
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