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sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

No plenário da Câmara, deputados acusam lobby dos bingos de comprar parlamentares

'A corrupção está rolando solta'  

Evandro Éboli

A votação da urgência do projeto que legaliza os bingos, na noite de anteontem, na Câmara, foi marcada por acusações de compra de parlamentares pelo lobby do setor. No total, 258 parlamentares votaram a favor da apreciação imediata do texto, apenas um a mais que o mínimo necessário. O deputado Marcelo Itagiba (PSDB-RJ) disse, durante a sessão, que foi procurado por um funcionário do Ministério da Justiça que queria barrar o projeto e dizia saber que houve pagamento de propina:
- Foi-me dito por esse representante do Ministério da Justiça que muito dinheiro está correndo para que se vote e para que se aprove, ainda nesta semana, matéria referente à legalização dos bingos e dos caça-níqueis nesta legislatura.
Na votação, o mais exaltado ao denunciar a corrupção foi Fernando Chiarelli (PDT-SP).
- No meu entender, quem estiver votando a favor da urgência e a favor do projeto, no linguajar do deputado Marcelo Itagiba, está levando uma graninha para colocar no bolso. A corrupção está rolando solta aqui. Vamos ver ali, no placar, quem está ganhando dinheiro de traficante. Traficante, hoje, eu vi pelo menos uns 200 rodando aqui em Brasília. Eles não estão nos morros do Rio de Janeiro, não. Estão aqui, fazendo lobby para aprovar o bingo. E vão aprovar o bingo, os molequinhos dos traficantes.
Dois deputados do PDT, partido de Chiarelli, estão à frente da pressão pela aprovação dos bingos: Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força, e João Dado, ambos de São Paulo, circularam pelos corredores da Câmara com dirigentes da Associação Brasileira dos Bingos (Abrabin), tentando convencer colegas da necessidade de votar a urgência para a votação.
Mas há outros pedetistas contra o projeto. Um deles, Miro Teixeira (RJ), fez um discurso duro no plenário e disse ao GLOBO que foi procurado pelos representantes desse lobby.
- Disse a eles que não quero estar na companhia de pessoas que subornam. E digo publicamente também - disse Miro, que, no plenário, após a aprovação da urgência, afirmou que não gostaria de estar na foto ao lado dos vencedores. - Isso não é o PDT. Não foi uma noite agradável e não pode parecer um baile da Ilha Fiscal.
Um acordo dos líderes permitiu a aprovação porque vinculou a apreciação do requerimento de urgência do projeto dos bingos à votação do texto da prorrogação da Lei Kandir, que interessa a governadores. O mérito da proposta para legalizar a modalidade de jogo deve ser votada na semana que vem.
Legalização dos cassinos também é defendida
Miro disse que há parlamentares contrariados com a obrigação de votar a favor da urgência da legalização dos bingos para desobstruir a pauta. Esses deputados, segundo ele, vão se opor ao projeto, durante a votação de mérito, na semana que vem. A urgência para o projeto dos bingos já havia sido rejeitada na noite anterior, quando os pró-legalização conseguiram apenas 226 votos.
- Nunca vi isso antes, votar tão rápido um assunto, duas vezes, de um dia para o outro - disse Manuela D"Avila (PCdoB-RS).
Devanir Ribeiro (PT-SP), que votou a favor da urgência do projeto, disse ontem que, no mérito, será contra a legalização desse jogo.
- Votei para poder aprovar a Lei Kandir. Aqui é assim, uma vela para o santo e outra para o diabo - disse Devanir.
Também à frente da aprovação dos bingos, Silvio Costa (PTB-PE) defende até a legalização de cassinos. Costa defende o lobby e considera a atuação desse grupo no Congresso tão legítima quanto à pressão de sindicatos das mais diversas categorias, de banqueiros e de empresários.
- O pessoal do bingo fica abordando nos corredores como todo mundo. Sou a favor da legalização e do lobby também - disse Costa. - O pessoal que é contra (os bingos) e diz que essas abordagens são não republicanas. A mim, nenhum deles ousou comprar. Não sou a bala que matou Kennedy e nem a última Coca-Cola do deserto. Desafio qualquer macho ou fêmea.
Um dos dirigentes do bingo mais atuantes no Congresso é o presidente da Abrabin, Olavo Sales Oliveira. Ele está sempre acompanhado de Paulinho da Força e de João Dado, que foi relator do projeto na comissão especial. A assessoria de imprensa da Abrabin informou que Olavo só irá se pronunciar após a votação final. Paulinho não retornou às ligações e a assessoria de Dado disse que ele não se manifestará até a votação final.
Em nota, a Abrabin argumenta que a legalização dos bingos irá injetar mais de R$7 bilhões em impostos. "Se aprovada pelo Congresso e sancionada pelo presidente da República, a proposta permitirá a legalização e disciplina, com total transparência, da atividade a ser exercida pelas casas de bingo, que passarão a atuar sob normas rígidas de fiscalização".
 

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