Com o crédito da conquista da prefeitura paulistana, no principal embate do 2º turno, pela eleição de Fernando Haddad como escolha pessoal a que o PT teve de submeter-se, o ex-presidente Lula reforçou seu reconhecimento como o maior “padrinho” nacional de candidatos e sua influência na condução política do governo Dilma, especialmente no preparo de uma reeleição da sucessora. E a vitória de Haddad foi viabilizada num contexto em que, de um lado, sua campanha final corria o risco do efeito das condenações dos réus do núcleo político do mensalão (que teve o peso reduzido pela forte predominância dos problemas locais), e no qual foi bem potencializado o desgaste do adversário José Serra com a renúncia anos atrás, no começo do mandato, ao cargo agora disputado. No estado de São Paulo, o PT ampliou sua força na Região Metropolitana, com a recuperação da prefeitura de Santo André, e a conquista de São José dos Campos, no interior. Sem que, porém o governador Geraldo Alckmin tenha perdido o controle – através do PSDB e de alianças – da maioria das cidades, inclusive de grande porte, como Campinas, Sorocaba, Santos, São José do Rio Preto, Bauru, Taubaté.
Quanto ao preparo da reeleição de Dilma, ela mesma terá de lidar com parte das condicionantes – a correspondente aos indicadores da economia, que dependem de expressiva recuperação do PIB e do bloqueio das pressões inflacionárias. Bem como para promover um salto da qualidade de gestão (cujo baixo nível é exemplificado pela queda de produção e por aumento dos custos da Petrobras e pela precária implementação das obras do PAC e de outros programas federais. Desafios aos quais se agrega o de respostas eficientes às repercussões domésticas da crise internacional. A outra parte dessas condicionantes – ligada ao tamanho e à operação da base governista, às relações com o Congresso e à montagem de alianças para 2014 – terá decisões definidas sobretudo por Lula. A perspectiva de tais alianças será facilitada pela persistência de favoritismo da candidatura de Dilma, ou poderá complicar-se progressivamente em função da precariedade dos indicadores econômicos e de gestão acima referidos e de possível desagregação da base governista.
No polo oposto, mudança significativa próoposição e de debilitamento do PT, ocorrida nas eleições municipais do Norte e do Nordeste, favorece a articulação pelo PSDB, com apoio do DEM e do PPS, da candidatura presidencial de Aécio Neves, propiciando-lhe superar um grande fator de inviabilização das campanhas dos seus antecessores Alckmin, uma vez, e Serra duas vezes: a extrema fragilidade nas duas regiões. A eleição de prefeitos oposicionistas – do de Vitória, do PPS, ao de Manaus, do PSDB, passando pelos de Salvador, Aracajú, Maceió, Teresina e Belém, assegura expressivos palanques regionais a uma campanha de Aécio. Cujos pilares básicos seguirão sendo os dois estados mais fortes do Sudeste, Minas Gerais desta vez à frente de São Paulo.
Mas uma reversão do favoritismo da candidata à reeleição dependerá do posicionamento sobre o pleito maior de 2014 que, ao longo de 2013, seja assumido por um influente ator que emergiu do pleito municipal: o governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Presidente do PSB, responsável por outras derrotas importantes do PT no Nordeste (Recife e Fortaleza) e no Centro-Oeste (Cuiabá), e parceiro do PSDB nas vitórias em Belo Horizonte, no 1º turno, e em Manaus e Campinas, no 2º. Esse posicionamento poderá ser o de progressivo afastamento do governo Dilma, seja com a perspectiva de uma terceira via, seja com a de uma composição com Aécio. Ou, ao contrário, o de manter o PSB no esquema governista, que implicará a aceitação de um papel secundário em relação ao PMDB, em troca da promessa de Lula e da presidente do exercício de um papel importante no pleito de 2018. Incerteza sobre a qual a oposição só poderá influir com o desencadeamento da candidatura do PSDB. Mas aberta à composição de uma chapa como a que o prefeito eleito de Manaus, Arthur Virgílio, sugeriu ontem – Aécio/Campos ou Campos/Aécio. Sugestão que pode ter sido feita com o aval do senador mineiro, cuja principal característica política é a de um aglutinador.
Jarbas de Holanda é jornalista
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