Eduardo Schiavoni Do UOL, em Americana (SP)
A
PM (Polícia Militar) de Campinas (93 km de São Paulo) determinou, em
uma OS (Ordem de Serviço), de 21 de dezembro, que seus integrantes
abordassem jovens negros e pardos, com idade entre 18 e 25 anos, na
região do bairro Taquaral, uma das áreas mais nobres da cidade. Segundo a
determinação, dirigida ao Comando Geral de Patrulhamento da região,
pessoas que se enquadrem nessa categoria são consideradas suspeitas de
praticar assaltos a casas na região e devem ser abordadas
prioritariamente.
Cópia da ordem de serviço da PM de Campinas
A
orientação foi passada de forma oficial, em papel timbrado da PM,
assinada pelo capitão Ubiratan de Carvalho Góes Beneducci, e pede que os
policiais foquem "abordagens a transeuntes e em veículos em atitude
suspeita, especialmente indivíduos de cor parda e negra, com idade
aparentemente de 18 a 25 anos, os quais sempre estão em grupo de 3 a 5
indivíduos na prática de roubo a residência daquela localidade".
A
instituição nega cunho racista e disse que se baseou em uma carta de
moradores para ter a descrição dos suspeitos e determinar as abordagens.
O documento, no entanto, não foi enviado à reportagem.
Segundo o ofício, uma patrulha deverá ser feita nas proximidades do Colégio Liceu Salesiano, todos os sábados, entre 11h e 14h, e a abordagem deverá ser feita nos indivíduos descritos acima caso estejam em atitude suspeita.
Segundo o ofício, uma patrulha deverá ser feita nas proximidades do Colégio Liceu Salesiano, todos os sábados, entre 11h e 14h, e a abordagem deverá ser feita nos indivíduos descritos acima caso estejam em atitude suspeita.
A
assessoria de imprensa da PM informou que existe a carta dos moradores,
que chegou para o capitão. O órgão informou ainda que a carta pedia
providências, pois vários roubos e furtos estavam sendo realizados. Essa
carta descrevia o perfil dos criminosos e as ações, informou a
assessoria de imprensa da instituição, acrescentando que "não existiu
cunho racista".
A
PM informou ainda que o capitão Beneducci é, ele mesmo, pardo, e que
ele "ficou triste" com a repercussão do caso. Ele foi procurado para
comentar no 8º Batalhão, mas não foi encontrado.
Racismo
Para
o coordenador do Cepir (Coordenaria Especial de Promoção da Igualdade
Racial), Benedito José Paulino, a indicação de procura de negros e
pardos é claramente racista. Ele afirmou não acreditar que recomendação
semelhante fosse dada caso os suspeitos fossem brancos.
"Isso é racismo. Se ele está atrás de qualquer negro, sem apontar um em específico, isso é racismo. Se fosse um negro identificado, não teria problema. O jovem negro é que o mais sofre nas mãos da polícia", afirmou.
"Isso é racismo. Se ele está atrás de qualquer negro, sem apontar um em específico, isso é racismo. Se fosse um negro identificado, não teria problema. O jovem negro é que o mais sofre nas mãos da polícia", afirmou.
Foto 15 de 19 - 20.nov.2012 -
Integrantes do Movimento Negro de Ribeirão Preto (SP) realizam caminhada
pelo centro da cidade para marcar o Dia da Consciência Negra, nesta
terça-feira (20) Mais Luis Cleber/Estadão Conteúdo
A
SSP (Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo) informou
que somente a PM pode comentar o caso, e por isso, não iria se
pronunciar.
Análise
O
advogado Dijalma Lacerda, especialista em direito criminalista e
ex-presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), em Campinas,
afirmou que não vê racismo na atitude do capitão, e que ela precisa ser
analisada com cuidado.
"Quando a causa é nobre, é maior, o capitão acaba assumindo o risco. Eu não conheço o capitão, e nem o caso por um todo, mas, em tese, se o mote for encontrar as pessoas que estão assaltando a residência naquele bairro, não há racismo", afirmou o advogado.
Para o jurista, o racismo depende de um contexto. "Digamos que o suspeito não tivesse uma perna, o foco seria em pessoas sem uma perna. Se ele estivesse atrás de pessoas nipônicas, uma pessoa da Ásia acharia que é preconceito. O que precisa ser verificado é se quem deu a ordem teve a intenção discriminatória", disse.
"Quando a causa é nobre, é maior, o capitão acaba assumindo o risco. Eu não conheço o capitão, e nem o caso por um todo, mas, em tese, se o mote for encontrar as pessoas que estão assaltando a residência naquele bairro, não há racismo", afirmou o advogado.
Para o jurista, o racismo depende de um contexto. "Digamos que o suspeito não tivesse uma perna, o foco seria em pessoas sem uma perna. Se ele estivesse atrás de pessoas nipônicas, uma pessoa da Ásia acharia que é preconceito. O que precisa ser verificado é se quem deu a ordem teve a intenção discriminatória", disse.
Djalma
chegou a ser condenado a uma pena de dois anos e um mês de reclusão
pelos crimes de injúria e calúnia motivados por ato de racismo, por
supostamente ter chamado o delegado da Polícia Federal de Foz do Iguaçu
Adriano Santana de "negrão", em 1999, mas a condenação foi revertida, em
instância definitiva, no ano de 2007.
Ele afirmou, na ocasião, que o caso foi um grande mal entendido.
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