(fabiobrito@asprabahia.com.br)
A linha de frente de qualquer instituição de segurança pública é o
seu policiamento ostensivo e preventivo. É ele o responsável pela
manutenção da ordem pública e a sensação de segurança dada à sociedade. É
fácil observar isso: Se a Policia Civil, que é a polícia judiciária
que, aliás, representa um excelente papel na segurança pública em seu
papel investigativo e até mesmo, muitas vezes, ostensivo, entrar em
greve poucos cidadãos se aperceberão disso. A não ser que tenha alguma
necessidade de comparecer a uma delegacia. Sem querer desmerecer o
trabalho da Polícia Judiciária. Mas se a PM entrar em greve a cidade
para. Estabelece-se um estado de sítio geral e, não raras vezes, o
Estado tem que convocar forças externas para compor este importante
trabalho.
O problema hoje na segurança pública baiana é que, apesar da suma
importância do policial militar no sistema, esta importância não se
reflete no cuidado do estado em zelar por este mesmo policial. Justo ele
que zela, em primeira instância, pelo maior bem social: a vida. Mas a
sua própria é relegada a último plano pelo Estado. Tanto no que se
refere à segurança do policial quanto ao seu bem-estar e de seus
familiares.
Internamente, a PM baiana, sofre de falência múltipla. Em seu
ordenamento interno os praças, real linha de frente no trabalho
ostensivo e preventivo contra violência urbana, não são valorizados, não
têm um plano de carreira ou salários dignos, sem equipamentos de
proteção adequados, sem treinamentos e recursos para salvaguardar sua
própria vida. São vítimas diuturnamente de um regulamento arcaico e
perverso que as deixam reféns dos comandos, que, aliás, pouco ou nada
são alcançados por este mesmo regulamento. Regulamento este que fora
criado especificamente para calar e punir, nos moldes da mais fiel e
podre ditadura. Este deveria ser um código de ética, uma proteção
interna a favor do policial militar, na verdade se torna, hoje,
ferramenta cruel nas mãos de seus algozes.
E o pior de tudo, muitos, tanto abaixo quanto acima da linha de
comando, já perceberam esta falência. Mas, então, fica a pergunta que
não quer calar: então por que não há uma reestruturação do sistema? A
resposta é simples, porém só pode ser visualizada por quem está dentro
da corporação. Os oficiais, principalmente os superiores (de major em
diante) recebem gordas gratificações chamadas DAS ou “símbolos” que
variam por unidade que eles comandam, estas gratificações são dadas ao
bel-prazer do governo tornando a cadeia de comando um objeto de disputa
política. Não é raro ver dentro da própria instituição oficiais se
degladiando internamente em troca de “posições” melhores.
Por isso, a descentralização do sistema e a criação de diversas CIPMs
(Companhias Independentes), com isso o sistema mata dois coelhos com
uma só cajadada: desune os praças, descentralizando lideranças e
evitando o que ocorreu na greve de 2001 (observem que esta mudança
ocorreu depois de 2001, é a estratégia maquiavélica de separar e
conquistar) e cria verdadeiros cabides de “funções” para os oficiais
superiores aparelhando o sistema e o tornando mais ainda refém da
política. O pior de tudo que os DAS, entre outras gratificações são
inconstitucionais, por que a Carta Magna prevê que a remuneração dos
policiais seja através do subsídio, ou seja, um salário único sem nenhum
tipo de gratificação, porém o governo não cumpre a Constituição
justamente para que se possa manter o sistema de segurança refém.
Estas gratificações, a depender do tempo que se recebe, são
incorporadas aos vencimentos da reserva (quando um militar se aposenta)
por isso muitos oficiais superiores matam e morrem por elas. E é por
isso que vemos discrepâncias absurdas no Diário Oficial quando um
determinado oficial vai para reserva com R$ 25.000 e outro, de mesma
patente e tempo de serviços prestados vai com R$ 15.000, justo por que
isso irá depender do comprometimento político que este ou aquele oficial
teve em sua carreira.
Mas quem protege e defende a continuidade deste sistema? Praticamente todo mundo.
Mas quem protege e defende a continuidade deste sistema? Praticamente todo mundo.
Os oficiais superiores se valem do regulamento para calar a base
oprimida e desvalorizada, a sociedade e a imprensa muitas vezes se
omitem ou desconhecem estes fatos, os poucos praças que se aventuram a
desafiar o sistema são punidas e muita vezes demitidas da corporação
como forma de exemplo para atemorizar outros “aventureiros”. Além disso
tudo, alguns oficiais se valem de uma ferramenta fundamental de
vigilância contra os “rebeldes”, a CME (Missões Especiais ou P2 como
antigamente era conhecida). Este departamento da PM é praticamente uma
instituição dentro da outra, foi criada com o falso intuito de
investigar policiais envolvidos em crimes ou com a marginalidade, porém
raramente cumpre seu real papel, ao invés disso é responsável por
investigar, observar, fotografar, grampear (ilegalmente, diga-se de
passagem) e filmar os policiais que se rebelam contra o sistema e querem
mudar o estado de coisas. Toda e qualquer manifestação de policiais que
se faz lá está a CME fotografando e filmando os líderes, preparando
verdadeiros “dossiês” contra os mesmos, que servirão futuramente como
ferramentas de um possível processo administrativo (demissão mesmo) ou
disciplinar (punição).
Dificulta-se o acesso das praças ao oficialato, impondo-se que
concorram com os indivíduos de fora da corporação (com a mente mais
fresca, prontos para serem alienados ao sistema), ao invés de se ter uma
carreira única (para ser oficial teria que obrigatoriamente ter passado
pelo quadro de praças por no mínimo três anos) , dificulta-se até mesmo
a ascensão dentro do quadro de praças, temos hoje praças com quase 30
anos de casa que, sequer, galgou a graduação de sargento, este mesmo
praça já viu o aspirante a oficial se tornar coronel fechado e isso,
além de desanimador, é revoltante.
Enfim, é o que vemos hoje: uma PM desestimulada, despreparada, um
sistema corrompido pela política onde nosso próprio comando maior é
escolhido politicamente e que muitas vezes não tem nenhuma preparação ou
aceitação da tropa para o cargo.
Há outras mazelas internas que nos aflige, porém estas citadas são as
principais e a mudança se torna cada vez mais urgente. Com o
crescimento da criminalidade, a sociedade hoje é refém da violência, e
nós, policiais militares baianos, somos reféns deste sistema podre,
politiqueiro, corrompido e ineficiente.
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