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segunda-feira, 25 de maio de 2015

Psicopatia e mal social por trás da violência


Especialistas atribuem brutalidade dos crimes a distúrbios mentais e a bandidos sem respeito pela vida








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RIO - A vítima nem teve tempo de seguir à risca o protocolo durante assaltos que todo carioca já decorou: não reagir. O médico Jaime Gold foi esfaqueado pelas costas quando pedalava na Lagoa, na noite da última terça, e morreu horas depois, deixando, além da revolta pela covardia, uma pergunta no ar. 

O que tem levado bandidos, em diferentes pontos da cidade, a extremos de violência gratuita? Psicanalistas e psiquiatras tentam entender o motivo de tanta crueldade — maio começou com as imagens de um pedestre esfaqueado no Centro e seguiu com ataques a uma vietnamita na Praça Quinze, uma mulher em São Conrado e uma chilena na Glória — e não chegam a uma única conclusão. Para alguns, não há dúvidas de que os ataques têm sido feitos por psicopatas violentos, incapazes de ter empatia pelo outro ou demonstrar remorso; para outros especialistas, no entanto, os assaltantes não sofrem de um transtorno mental, mas de outro problema. São extremamente agressivos porque, sem atenção da família e do Estado, não têm a vida valorizada e, por isso, acabam não dando importância à vida do outro.
Professora do Instituto de Psiquiatria da UFRJ, Magda Waismann é taxativa: para ela, quem esfaqueia uma outra pessoa, durante um assalto, sem a vítima ter reagido, tem, sem dúvida, um transtorno de personalidade antissocial. Em outras palavras, é um psicopata.

— No caso do médico, o jovem não só esfaqueou, ele rasgou a vítima. Ele já é um psicopata, e não começou agora, é desde a infância. A mãe abandonou, deixou sem comida, ele sofreu maus-tratos, tudo isso tem uma repercussão cerebral. Ele evoluiu até o homicídio — opina Magda, que lamenta a falta de atenção dada ao adolescente até agora. — Ele foi detido inúmeras vezes, e nada foi feito. Não teve ação psicossocial ou coercitiva. Não teve punição ou intervenção do Conselho Tutelar.

VIDA SEM VALOR LEVA À BRUTALIDADE

A psiquiatra Isabella Souza, também professora do Instituto de Psiquiatria da UFRJ, vê mais nuances nos casos de violência gratuita que o Rio tem enfrentado. Para ela, a banalização do mal existe, mas não se pode generalizar que todo bandido cruel tem traços psicopatas. — Muitos até apresentam sinais, mas a grande maioria não é psicopata. São jovens que crescem abandonados pelos pais, que têm muito pouca projeção de melhora, sofrem muitas vezes abuso sexual. Com o tempo, eles passam a ter pouco apreço pela vida deles. E, por isso, não valorizam a vida alheia também. Não pensam que não devem ferir uma pessoa, que ela pode ser um pai de família, porque não têm esses valores. Vão crescendo com raiva pelo abandono, com ódio pelo outro, pelo grupo ao qual eles não pertencem — diz Isabella, acrescentando que um psicopata apresenta, normalmente, certa habilidade social, capacidade de manipulação. — Esses jovens não, são só agressividade.

Na mesma linha, a psicóloga Andreia Calçada diz que os bandidos têm sido cada vez mais agressivos porque vêm percebendo, cada vez mais, seu pouco valor na sociedade:

— Eles têm dificuldade de se colocar no lugar do outro, de se identificar com a dor alheia. É um raciocínio “eu não sou valorizado, dane-se o outro". Se eu sofro violência, por que o outro não pode sentir? A impunidade também contribui para explicar a escalada da crueldade. 

‘UM DOENTE MENTAL NÃO SAI ÀS RUAS PARA ASSALTAR’

Para o psiquiatra Fábio Nascimento Silva, o comportamento cada vez mais cruel de bandidos não pode ser atribuído a doenças mentais, mas, sim, aos modelos de vida conhecidos pelos criminosos.

— Se ele cresceu num ambiente onde é com a violência que se consegue as coisas, o jovem vai ser violento. Esfaquear alguém é um desvio de comportamento para quem mora no asfalto, mas para quem convive com a agressividade será que é também? É uma questão de valores diferentes dos nossos — diz Fábio, lembrando que apenas uma parcela da população — entre 1% e 2% — sofre de transtornos mentais. — Se esses jovens tivessem pais presentes, governo que oferecesse oportunidades, talvez não acontecessem crimes tão bárbaros.

Com décadas de prática em psiquiatria forense, Talvane de Moraes diz que os bandidos acham que só a violência intimida, e não hesitam em ser cada vez mais violentos porque sequer enxergam a vítima como pessoa:

— Para despersonalizar quem eles mataram ou feriram, não chamam a vítima de pessoa. Falam “matei um boneco".

Além disso, Talvane diz que, dentro do mundo do crime, a violência é valorizada:

— Quem comete atos mais violentos ganha status ao ser preso. Essas pessoas violentas em assaltos não são psicopatas nem psicóticas. O crime do psicótico é diferente, ele ataca o pai, a mãe. Um doente mental não sai às ruas para assaltar.


ENTREVISTA:

A psiquiatra Katia Mecler, autora do livro “Psicopatas do cotidiano”, que será lançado em junho, diz que, além de traços de psicopatia, o comportamento cada vez mais agressivo de bandidos pode estar associado ao abuso de drogas.

O que explica a crueldade cada vez maior de assaltantes?

A gente vive um momento de fracasso de várias instituições, e os crimes cada vez mais violentos são uma expressão disso. A falta de educação e famílias desestruturadas são nocivas à formação da personalidade de um jovem. Eles são mais vulneráveis a comportamentos agressivos.

Pode-se imaginar que assaltantes extremamente violentos são psicopatas?

Não se pode generalizar. Os que agem com requintes de agressividade até podem ter traços patológicos de personalidade, mas há outros fatores. O abuso de cocaína, muitas vezes usada com crack, aumenta as chances de o criminoso ser violento. É preciso avaliar caso a caso.

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