Acorda, Policial e Bombeiro Militar!


O verdadeiro desafio não é inserir uma idéia nova na mente militar, mas sim expelir a idéia antiga" (Lidell Hart)
Um verdadeiro amigo desabafa-se livremente, aconselha com justiça, ajuda prontamente, aventura-se com ousadia, aceita tudo com paciência, defende com coragem e continua amigo para sempre. William Penn.

sábado, 23 de maio de 2015

Sobre médicos, facas, bicicletas e mortes que comovem

Por Douglas Belchior

Quem merece ser esfaqueado? Quem merece ser torturado? Quem merece ser estuprada? Quem merece ser arrastada? Quem merece ser assassinado com um tiro na cabeça aos 10 anos de idade? Quem merece ser morto aos milhares, antes dos 18 anos de idade, pela polícia em todo o país?

Não defendo pessoas, sejam adolescentes ou adultos, que saem por aí esfaqueando umas às outras. Tanto quanto não defendo que “criminosos” ou “policiais” – e coloco aspas por achar que não há grandes diferenças entre eles – saiam por aí distribuindo tiros e matando, sobretudo jovens negros.

E por que há mortes que chocam, comovem, mobilizam e outras que não?

Bem melhor escrito no texto incrível de Antonio Engelke.


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Por Antonio Engelke

Antigamente, o bandido dizia “passa tudo!” e pronto: se a vítima não reagisse, perdia os pertences mas não sofria violência. Hoje, o assaltante muitas vezes já chega dando soco, facada ou tiro, antes mesmo de anunciar o roubo. Crueldade pura, desprezo absoluto pela vida humana.

Há duas maneiras de compreender este fenômeno. A primeira é acreditar que, de uns 10 ou 15 anos para cá, assaltantes vêm deliberadamente escolhendo ser cruéis. Começaram a nascer gerações de miseráveis que não se contentam em roubar: precisam sadicamente ferir suas vítimas, mesmo que isso lhes seja prejudicial (se os jornais repercutem, a polícia vai atrás). Mas esta explicação esbarra num problema. Se há criminalidade em toda parte, por que tal fenômeno é exclusividade de certas metrópoles brasileiras? Você seria obrigado a concluir que, por uma infeliz e gigantesca coincidência, indivíduos que nasceram já propensos à crueldade, ou que escolheram depois pelo sadismo, calharam de se reunir em cidades como o Rio de Janeiro.

Se uma coincidência dessas, por absurda, não te parecer convincente, você irá procurar outra explicação. E ela começa exatamente no ponto onde a primeira termina. Deve haver alguma particularidade na periferia de metrópoles como o Rio de Janeiro, alguma coisa no ambiente em que esses meninos-que-viram-bandidos são criados, que cada vez mais os influencia no sentido de desprezarem a vida humana. A resposta é simples: na favela, a vida vale cada vez menos. O que você acha que acontece na cabeça de um menino que cresce vendo cotidianamente pessoas sendo mortas ou torturadas? Traficante matando traficante. Traficante matando morador. Polícia matando traficante. Polícia matando morador. Morador, revoltado em protesto, sendo morto pela polícia. Polícia torturando morador para saber de traficante. Traficante torturando morador para saber de polícia. Polícia extorquindo traficante. Todos os dias alguma viela suja de sangue, algum corpo estendido sem vida, algum buraco de bala de fuzil na parede.

Não, eu não estou “desresponsabilizando” o assassino do ciclista na Lagoa. O que estou dizendo é que não podemos tratar este episódio, e os tantos outros que vem sendo exaustivamente registrados, como se fossem apenas irrupções aleatórias de sadismo.

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