Frederico Haikal/Hoje em Dia
Greve branca, operação tartaruga e 'cana zero' podem prejudicar a segurança
PMs, de soldados a oficiais, cobram diálogo do governo do Estado



O atraso nos salários dos servidores públicos de Minas Gerais pode ter impacto direto na segurança pública. Trabalhadores da área iniciam uma mobilização, segundo uma fonte que pediu anonimato. O governo do Estado já anunciou que o pagamento deve ser depositado apenas no dia 13, e não no dia 8, quinto dia útil. O salário de fevereiro também poderá ser postergado, havendo ainda a possibilidade de parcelamento dos proventos a partir de março.

Nos batalhões em todo o Estado, militares já se movimentam. Ainda de acordo com esta fonte, policiais e bombeiros militares, agentes penitenciários, socioeducativos e policiais civis não descartam ações como greve branca, operação tartaruga (quando pouco efetivo é empenhado para patrulhamento) e o termo muito utilizado na década de 1990 – cana zero – , quando policiais reduziram drasticamente no número de prisões.

“O servidor não pode pagar pelo erro de gestão do governo. A área de segurança pública em Minas está mobilizada. Vamos preservar a segurança da população, mas precisamos cuidar das nossas famílias”, disse um oficial que pediu para ter a identidade preservada.

Segundo o presidente da Associação dos Praças Policiais e Bombeiros Militares (Aspra-PM/BM), sargento Marco Antônio Bahia, a categoria não descarta a realização de atos públicos em protesto aos atrasos de pagamento. “Esperamos que o governo reveja seu ato e que estabeleça o diálogo com os servidores. Não vamos admitir que os servidores paguem a conta pela falta de administração”, enfatizou o sargento Marco Antônio Bahia.

Oficiais

As entidades que representam os oficiais militares também defendem a realização de ato público com a presença de todos os servidores do Estado. “Estamos nos mobilizando para um protesto envolvendo todas as entidades de classe”, reforça o deputado federal subtenente Gonzaga.

Na próxima quarta-feira (13), os servidores da segurança pretendem ir até a Cidade Administrativa cobrar do governo do Estado a garantia do pagamento integral dos salários, na data correta – até o quinto dia útil. O deputado estadual sargento Rodrigues, que também participa das articulações junto aos servidores do Estado reforça que a população não terá a segurança pública prejudicada.

Governo

Em nota, a Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão informou que mantém o diálogo com todas as categorias de servidores. E que o governo não tem conhecimento sobre supostas greves ou paralisações dos servidores públicos. Quanto ao parcelamento dos pagamentos, a Seplag alegou que “trabalha para minimizar os impactos da crise financeira sobre o pagamento dos salários dos servidores”.

Sindicatos avaliam eventual paralisação em diversos setores

Entidades sindicais e associações de servidores do Estado se reúnem na próxima segunda-feira (11) para discutir medidas a serem tomadas por causa do atraso no pagamento dos salários do funcionalismo público. A possibilidade de paralisação e greve não é descartada, mas o assunto é tratado com cautela.
“Os servidores se sentem amedrontados porque qualquer assunto em torno de paralisação geral gera ameaças de todos os tipos, coisa que a gente não esperava. O grande problema, hoje, é que o governo até então não conversou com os sindicatos, então não existe diálogo”, afirma o diretor político do
Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público do Estado de Minas Gerais (Sindpúblicos), Geraldo Henrique da Conceição.

O representante da entidade, que publicou nota em seu site se dizendo decepcionado com o governo do Estado, defende que o problema da crise financeira tem raiz na gestão da União, mas aponta falhas do governo mineiro.

“O governo, que está com problema de arrecadação, ao invés de ter políticas criativas, aumenta impostos. Além disso, há vários cargos comissionados em todas as secretarias e, até agora, o governo Pimentel não fez nada para reduzir. O governo está ineficiente, ineficaz e ruim”, critica o sindicalista.

O encontro da próxima semana vai reunir, ao todo, 12 sindicatos e associações de servidores públicos, entre eles os representantes de fiscais, policiais civis e servidores da saúde. A preocupação dos profissionais é que o governo do Estado possa estar usando a crise como forma de pressão para outros fins.

“Isso também pode ser uma estratégia para que o servidor não peça reajuste e para buscar apoio na sociedade para aprovação da CPMF”, observa Geraldo Henrique.

Os servidores estaduais do governo de Minas somam, aproximadamente, 403 mil.

(*) Com Alessandra Mendes