“A falta de humildade para reconhecer o erro é o vírus que está locado na mente do administrador público. E quando um erra, o pior é que todos acompanham o erro. A cegueira é generalizada” por Congresso em Foco
Severino Coelho Viana *
A pessoa ingressa na vida pública, no caso meritório, através do
concurso público, honestamente homologado; no caso de cargo eletivo,
eleito democraticamente pelo povo sem a ingerência do poder econômico.
Todo o serviço público deve ser realizado com eficiência correspondendo
às expectativas do cidadão; o cidadão, por sua vez, cobrando e exigindo
do agente público um melhor funcionamento da máquina administrativa. E
deve ser cobrado. É retorno dos impostos em forma de serviços, programas
e obras de qualidade em favor da comunidade.
A falha no ato administrativo será criticada em decorrência da função
pública que exerce, no entanto, a crítica no campo pessoal não se
condiz com o Estado democrático de direito. A ineficiência
administrativa deve ser, sim, criticada; os atos pessoais devem ser,
sim, respeitados. O particular e o público não devem ser misturados,
quando isso acontece existe uma desordem pública, uma confusão, um caos
administrativo. É preciso saber distinguir o joio do trigo.
A Constituição da República Federativa do Brasil proclama no seu
preâmbulo a instituição de um Estado Democrático de Direito, destinado a
assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a
segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como
valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem
preconceitos. Ressalta-se que pluralista é uma sociedade em que todos os interesses são protegidos
O melindre sensitivo do administrador público que se sente um ser
intocável e que realiza uma administração perfeita, não há mistério a
ser guardado na redoma, ninguém neste planeta Terra agrada à
unanimidade. Quando se consegue agradar à maioria já é de bom tamanho.
O erro administrativo deve ser apontado em todos os níveis
hierárquicos, o acusador tem o olho de lince, não escapa nada do seu
olho angular. Isto não é ruim para o administrador democrático que não
guarda melindre e aceita crítica, principalmente vindo da oposição, isto
serve como meio de alerta. É o errar para corrigir. Quem ganha com isso
é a coletividade.
Agora quando a crítica parte para o campo pessoal é um verdadeiro
desastre, e mais confusão cria no senso comum do povo. É uma verdadeira
ridicularidade.
Cada um deve saber os limites de suas atribuições, cada macaco no seu
galho, o secretário de Saúde responde pela sua área, o secretário de
Educação pelo seu setor, a Secretaria de Comunicação no âmbito de sua
missão de publicidade de caráter educativo etc. Quando um invade
atribuição de outrem ninguém sabe quem é quem no meio do tabuleiro. A
casa fica desarrumada, a bagunça toma conta dos seus quadrantes.
Inseticida na barata tonta!
Urbanidade e civilidade são princípios que regem a conduta funcional ,
quando o servidor público extrapola com o uso de palavras agressivas e
irritantes ver-se que houve a perda do controle emocional, pode esperar
que logo mais vem a pane da máquina administrativa.
A violência verbal é a expressão que designa o fenômeno de
comportamento deliberadamente transgressor e agressivo, apresentado pelo
conjunto dos cidadãos ou por parte deles, nos limites do espaço
interpessoal. Têm qualidades que a diferenciam de outros tipos de ação
violenta praticados por pessoas ou grupos de pessoas e se desencadeiam
em consequência das condições de vida ou convívio. Sua manifestação mais
evidente são os altos índices de agressões após discussões acirradas; a
mais constante é a infração dos códigos elementares de conduta
civilizada.
A observação da conduta moral da humanidade, ou civilidade, ao longo
do tempo revela um processo de progressiva interiorização, existe uma
clara evolução, que vai da aprovação ou reprovação de ações externas e
suas consequências à aprovação ou reprovação das intenções que servem de
base para essas ações, portanto, os fundamentos da moralidade não se
deduzem de um princípio metafísico, mas daquilo que é mais peculiar ao
homem. O desrespeito e a violência vão contra todos os princípios
éticos, seja esta moral, verbal ou física.
O povo quer a solução dos problemas, não briga pessoal entre A e B,
pois o crítico e o criticado esqueceram completamente a coisa pública e
estão se digladiando na arena da vida pessoal.
Crítica vem do grego ckritike, que quer dizer “apreciação
minuciosa”. Significa processo de purificação. Dizem os estudiosos que a
palavra originou-se na prática de purificar o ouro: trata-se de
derreter (destruir) o minério bruto e natural, a fim de retirar suas
impurezas, para aproveitar somente à parte purificada, para que o
minério adquira valor.
A crítica construtiva se caracteriza por apresentar o lado positivo,
deve funcionar como uma alavanca para o desenvolvimento da outra pessoa e
não simplesmente falar mal do trabalho ou da atitude do outro. A
crítica deve ser uma ferramenta de desenvolvimento e não de punição. A
pessoa deve perceber que a crítica tem fundamento e lhe ajudará no seu
desenvolvimento pessoal ou profissional e não está sendo utilizada como
ferramenta de manipulação e poder.
Uma das maiores dificuldades encontradas pelas pessoas, tanto em
relação à sua vida pessoal, quanto no aspecto profissional, é a falta de
habilidade para resolver problemas. É comum elas se sentirem ansiosas
quando surge a necessidade de resolver problemas que, se presumir, estão
além de sua capacidade. Ocorre um sentimento de angústia e impotência,
fatores agravantes, que aumentam ainda mais o grau de dificuldade.
Em geral, os problemas são percebidos pelas pessoas de forma
diferente. Algumas, mais otimistas, encaram problemas como oportunidades
de resolver assuntos e até mesmo como forma de melhorar seu padrão de
vida. Outras transformam pequenos problemas em verdadeiras tragédias
anunciadas, sofrendo por antecipação.
A falta de humildade para reconhecer o erro é o vírus que está locado
na mente do administrador público. E quando um erra, o pior é que todos
acompanham o erro. A cegueira é generalizada. Ou, então, vê demais, não
diz com medo, não aponta o erro por incapacidade e não alerta para o
perigo por verdadeira submissão. São os áulicos do poder.
Quando a crítica parte de um ferrenho opositor ou desafeto, de cara,
para o administrador melindroso não dá a mínima importância, não observa
o tom de verdade que existe por trás da ideia, logo é rechaçada com
veemência, ou seja, o revide é maior do que o ataque. Será que a crítica
não tem certo de fundamento? Não está alertando para evitar um perigo
maior?
Não! Vinda de fulano de tal, não merece o menor crédito!
E os áulicos do poder respondem:
- Amém!
* Escritor e promotor de Justiça em João Pessoa.
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