Prestes a anunciar sua candidatura à presidência do Senado, de onde foi apeado após uma série de denúncias
em 2007, o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) é alvo de nova
investigação no Supremo Tribunal Federal (STF). Chegou ao gabinete da
ministra Cármen Lúcia, no último dia 2, pedido da Procuradoria-Geral da
República (PGR) para apurar se o senador cometeu crime contra o meio
ambiente e o patrimônio genético em uma unidade de conservação federal
no interior de Alagoas. Caberá a Cármen Lúcia dar andamento ou não ao
inquérito autuado sob o número 3589. A nova investigação se soma às
outras duas que já correm no Supremo contra aquele que é dado como nome certo para presidir o Senado pelos próximos dois anos.
Como proprietário da Agropecuária Alagoas Ltda, Renan é acusado pelo
Ministério Público Federal no estado de pavimentar ilegalmente, com
paralelepípedos, uma estrada de 700 metros na estação ecológica Murici,
administrada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade (ICMBio), no município de Flexeiras, a 66 km de Maceió. O
instituto, porém, não foi consultado e não concedeu qualquer licença ou
autorização para a obra. A unidade, de 6 mil hectares, conserva áreas
de Mata Atlântica. A estrada liga a Fazenda Alagoas, de propriedade do
grupo de Renan, à principal rodovia que corta o estado, a BR-101.
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As investigações avançaram em novembro do ano passado, quando o
Ministério Público Federal em Alagoas entrou com uma ação civil pública
contra o senador. O processo (000016334.2012.4.05.8002), que apura a
responsabilidade civil do peemedebista, continuará correndo na 7ª Vara
da Justiça Federal em Alagoas. Mas como o MPF entendeu que há também
indícios de crime, a apuração criminal acabou remetida para o Supremo. É
que, como senador da República, Renan só pode ser investigado e julgado
criminalmente pela mais alta corte do país. Coube à Procuradoria-Geral
da República enviar o inquérito ao STF.
Por enquanto, Cármen Lúcia não terminou a análise do pedido da PGR.
Apesar do recesso no Supremo, a ministra está de plantão no Tribunal
Superior Eleitoral (TSE), corte que preside desde o ano passado.
Informada sobre a matéria, a assessoria de imprensa de Renan disse que o
peemedebista não vai se manifestar sobre o assunto. De férias, ele só
retorna a Brasília no fim do mês.
Passado à porta
O Supremo já rende preocupações a Renan. O senador responde a um
inquérito (Inq 2998) por improbidade administrativa e tráfico de
influência, que tramita em segredo de justiça. O caso também é relatado
pela ministra Cármen Lúcia.
No outro procedimento (Inq 2593), investiga-se se o senador teve
despesas pessoais pagas por um lobista. Essa, aliás, foi a primeira de
uma série de denúncias que resultaram na abertura de cinco processos de
cassação no Conselho de Ética contra Renan e que o obrigaram a renunciar
à presidência da Casa para preservar o mandato. Esse inquérito também
apura a autenticidade dos documentos apresentados pelo peemedebista em
sua defesa à época para comprovar que podia honrar suas despesas.
Na época, para justificar seus rendimentos, Renan surpreendeu até os
próprios colegas ao revelar ser um próspero criador de gado. A nova
investigação, curiosamente, também remete ao lado produtor rural do
senador. Baseado em laudos da Polícia Federal e do ICMBio, o Ministério
Público Federal alega que a pavimentação causou diversos danos
ambientais à estação ecológica Murici, como impermeabilização, erosão e
compactação do solo e poluição sonora em razão dos veículos que por ali
transitam, o que provocou o afugentamento de animais.
Lucro
“Em diversos pontos, a estrada pavimentada ilegalmente está a menos
de um metro da floresta; noutros, está dentro da própria floresta”,
conta o procurador da República Anselmo Henrique Cordeiro Lopes, na ação
civil pública. A motivação do ato ilícito, nas palavras do procurador, é
claro: o lucro. “De fato, a pavimentação da estrada na unidade de
conservação tinha o escopo de facilitar o escoamento de produtos bovinos
da Fazenda Alagoas, garantindo o lucro de sua atividade empresarial”,
acrescenta.
Com sede na Fazenda Santa Rosa, também de propriedade de Renan, a
Agropecuária Alagoas Ltda foi constituída pelo senador e outros quatro
sócios em janeiro de 2008. Em 2003, outras três propriedades rurais do
peemedebista, entre elas a Fazenda Alagoas, foram incorporadas ao grupo.
Segundo o Ministério Público, apesar de ter 49,47% do capital da
empresa, o senador fica com 90% de todo o lucro.
“Quanto à autoria, também resta bastante evidente que o demandado
José Renan Vasconcelos Calheiros determinou a realização da obra ilegal e
utilizou a pessoa jurídica Agropecuária Alagoas Ltda para tentar
esquivar-se da responsabilidade civil, administrativa e criminal
decorrente de tal ato ilícito”, acusa o procurador. De acordo com a
legislação brasileira, a pessoa física deve responder por danos
ambientais ainda quando utiliza de pessoa jurídica para cometer atos
danosos.
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