Acorda, Policial e Bombeiro Militar!


O verdadeiro desafio não é inserir uma idéia nova na mente militar, mas sim expelir a idéia antiga" (Lidell Hart)
Um verdadeiro amigo desabafa-se livremente, aconselha com justiça, ajuda prontamente, aventura-se com ousadia, aceita tudo com paciência, defende com coragem e continua amigo para sempre. William Penn.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Para se entender o terrorismo contra o Charlie Hebdo de Paris


Leonardo Boff


O efeito deste atentado é instalar um medo generalizado. Esse efeito é visado pelo terrorismo: ocupar as mentes das pessoas e mantê-las reféns do medo.



Uma coisa é se indignar, com toda razão, contra o ato terrorista que dizimou os melhores chargistas franceses. Trata-se de ato abominável e criminoso, impossível de ser apoiado por quem quer que seja.

 Outra coisa é procurar analiticamente entender porquê tais eventos terroristas acontecem. Eles não caem do céu azul. Atrás deles há um céu escuro, feito de histórias trágicas, matanças massivas, humilhações e discriminações, quando não, de verdadeiras guerras como as do Iraque e Afegasnistão que sacrificaram vidas  de milhares e milhares de pessoas ou as obrigaram a ir para o exílio.

Os USA e países europeus estavam presentes nesta guerra. Na França vivem alguns milhões de muçulmanos, a maioria nas periferias em condições precárias.  Muitos, mesmo nascidos na França, são altamente discriminados a ponto de surgir uma verdadeira islamofobia. Logo após o atentado aos escritórios do Charlie Hebdo, uma mesquita foi atacada com tiros, um restaurante muçulmano foi incendiado e uma casa de oração islâmica foi atingida também por tiros. 

Trata-se de superar o espírito de vingança e de renunciar à estratégia de enfrentar a violência com mais violência ainda. Ela cria uma espiral de violência interminável, fazendo vítimas sem conta, a maioria delas inocentes. E nunca se chegará à paz. Se queres a paz prepara meios de paz, fruto do diálogo e da convivência respeitosa entre todos.

 Paradigmático foi o atentado terrorista de 11 de setembro de 2001 contra os Estados Unidos. A reação do Presidente Bush foi declarar a “guerra infinita” contra o terror e instituir o “ato patriótico” que viola direitos fundamentais dos cidadãos.         

 O que os USA e aliados ocidentais fizeram no Iraque e no Afeganistão foi uma guerra moderna com uma mortandade de civis incontável. Se nestes países houvesse somente ampla plantação de tâmaras e de figos, nada disso ocorreria. Mas lá há muitas reservas de petróleo, sangue do sistema mundial de produção. Tal violência deixou um rastro de raiva, de ódio e  de vontade de vingança em muitos muçulmanos vivendo em seus países ou pelo mundo afora.

 A partir deste transfundo, se pode entende que o atentado abominável em Paris é resultado desta violência primeira e não causa originária. Nem por isso se justifica.

 O efeito deste atentado é instalar um medo generalizado. Esse efeito é visado pelo terrorismo: ocupar as mentes das pessoas e mantê-las reféns do medo. O significado principal do terrorismo não é ocupar territórios, como o fizeram os ocidentais no Afeganistão e no Iraque, mas ocupar as mentes.         

 A profecia do autor intelectual dos atentados de 11 de setembro, Osama Bin Laden, feita no dia  8 de outubro de 2001, infelizmente, se realizou: “Os EUA nunca mais terão segurança, nunca mais terão paz”. Ocupar as mentes das pessoas, mantê-las desestabilizadas emocionalmente, obrigá-las a desconfiar de qualquer gesto ou de pessoas estranhas, eis o objetivo essencial do terrorismo.         

 Para alcançar seu objetivo de dominação das mentes, o terrorismo persegue a seguinte estratégia:

(1) os atos de terror têm de ser  espetaculares, caso contrário, não causam comoção generalizada;

(2) os atos, apesar de odiados, devem provocar admiração pela sagacidade empregada;

(3) os atos devem sugerir que foram minuciosamente preparados;

(4) os atos devem ser imprevistos para darem a impressão de serem incontroláveis;

(5) os atos devem ficar no anonimato dos autores (usar máscaras) porque quanto mais suspeitos, maior é o medo;

(6) os atos devem provocar permanente medo;

(7) os atos devem distorcer a percepção da realidade: qualquer coisa diferente pode configurar o terror. Basta ver alguns rolezinhos entrando nos shoppings e já se projeta a imagem de um assaltante potencial.

Formalizemos um conceito do terrorismo: é toda  violência espetacular, praticada com o propósito de ocupar as mentes com  medo e pavor.

O importante não é a violência em si,  mas seu caráter de espetáculo, capaz de dominar as mentes de todos.

Um dos efeitos mais lamentáveis do terrorismo foi ter suscitado o Estado terrorista que são hoje os EUA. Noam Chomsky cita um funcionário dos órgãos de segurança norte-americano que confessou: “Os USA são um Estado terrorista e nos orgulhamos disso”.

Oxalá não predomine no mundo, especialmente, no Ocidente, este espírito. Aí sim, iremos ao encontro do pior. Somente meios pacíficos têm a força secreta de vencer a violência e as guerras. Essa é a lição da história e o conselho dos sábios como Gandhi, Luther King Jr. Francisco de Assis e Francisco de Roma.

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