Atualizado em 14/04/2015 08:30
LUCAS PRATES / HOJE EM DIA
Vigilância privada armada será a solução para o problema crônico da insegurança e do vandalismo nas estações do Move de Belo Horizonte. Diante do avanço da criminalidade nos terminais de transferência e da recusa de militares reformados em atuar no sistema, a BHTrans se vê obrigada a lançar mão de um edital para contratar guardas particulares.
Assaltos, agressões, tentativas de estupro e destruição do patrimônio têm se tornado comuns e reforçam a fragilidade do modal, conforme o Hoje em Dia mostrou nos últimos dias. Levantamento obtido com exclusividade aponta que pelo menos 327 ocorrências foram registradas pela PM apenas no corredor Antônio Carlos, desde março de 2014.
Um convênio com o governo do Estado para a utilização de praças e oficiais aposentados na vigilância das estações foi proposto pela prefeitura de BH, mas a Polícia Militar descartou a possibilidade de acordo. Um dos motivos é a negativa dos próprios reservistas. O Comando de Estado-Maior da PM encaminhou a solicitação aos militares reformados, mas ninguém manifestou interesse.
“Os policiais não aceitam porque a proposta não tem atrativos. Somos formados para combater a criminalidade nas ruas e não para sermos vigias”, afirma o presidente da Associação dos Praças Policiais e Bombeiros Militares de Minas Gerais (Aspra-MG), Marco Antônio Bahia.
Para reforçar a negativa, sargento Bahia disse que a mesma dificuldade de recrutamento está sendo encontrada no atendimento dos setores administrativos da própria instituição. “Há dois meses, a polícia tenta recrutar homens da reserva para o atendimento ao público pelo telefone 190 e para o Hospital Militar, porém, a adesão é mínima. Isso não mudará em relação ao Move”, completa.
A BHTrans tinha adiantado que, caso não houvesse acordo, a elaboração da licitação para contratar a empresa de vigilância estaria em estágio avançado. O edital, inclusive, pode ser publicado já nos próximos dias no Diário Oficial do Município (DOM). A empresa não informou detalhes nem estudos preliminares de como será feito o processo de concorrência pública.
Vandalismo pode influenciar no preço da passagem
A inexistência de vigias nas estações de transferência do Move não só favorece atos de vandalismo como pode impactar diretamente no bolso dos usuários. Dados do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros (Setra-BH) apontam que, por dia, pelo menos duas portas automáticas são danificadas.
Vândalos são os responsáveis pela maioria dos estragos. Conforme o Hoje em Dia mostrou, atualmente mais de 20% das TVs estão inoperantes. Dos 250 equipamentos, 55 foram quebrados.
Pelo contrato de concessão vigente, o custo operacional e o investimento feito pelos concessionários devem ser compatíveis com as receitas tarifárias. Na prática, significa dizer que as ações de baderneiros como pichações, furto e quebradeira do patrimônio contribuem para o aumento dos custos operacionais.
Segundo a BHTrans, a situação “pode refletir no cálculo do valor da tarifa”. Procurado, o Setra disse que nenhuma fonte foi localizada para falar sobre o assunto.
O estudante Rodrigo de Freitas, de 21 anos, reclama do vandalismo. “O Move foi criado para facilitar a vida de quem depende do transporte público e não para colocar o passageiro em risco. Estamos largados à própria sorte”.
Além da insegurança e dos constantes atos de vandalismo, a fiscalização também deixa a desejar no Move, favorecendo a atuação de ambulantes. Desde março do ano passado, os conhecidos baleiros vêm adaptando o modo de trabalhar. O comércio irregular de doces, balas, pipocas, café e salgados tem invadido terminais e estações de transferência.
No início, apenas os ônibus serviam como locais de venda. Agora, os usuários disputam espaço com os vendedores nos pontos de transferência. Alimentos e variadas guloseimas ficam em cima de caixas de papelão ou até mesmo espalhadas pelo chão. Alguns vendedores trabalham em pé, próximo às pilastras da estrutura.
Para chamar a clientela, valem gritos, assobios e até música. A cena se repete nos terminais Pampulha, Vilarinho e São Gabriel. “Já temos o barulho dos ônibus e os vendedores fazem de tudo para chamar a nossa atenção. Isso incomoda bastante”, afirma a estudante Amanda Bizanne.
Além da venda ilegal de mercadorias, os passageiros também são abordados por artistas de rua e têm que conviver até com pregação religiosa. Questionada sobre as irregularidades, a PBH se limitou a informar que “está consolidando os dados de fiscalizações feitas no Move pelas regionais da cidade”.
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