Mãe do jovem que morreu após cair de viaduto durante o protesto que arrasou avenida em BH identificou filho pela TV
Flávia Ayer - Jornal Estado de Minas
Douglas tinha 21 anos e trabalhava em Contagem |
Belo
Horizonte ainda conta os prejuízos de uma das maiores ondas de
vandalismo de sua história. As primeiras estimativas falam em milhões de
reais. Mas uma família já sabe que jamais vai conseguir quantificar o
que perdeu durante a manifestação de quarta-feira, que arrasou a Avenida
Antônio Carlos. “A morte do meu filho não vai representar os cinco
centavos de redução da passagem
e os políticos vão continuar roubando. A única mudança que vai ter é na
minha alma, que agora tem um vazio. Ele não mudou a história do país,
mas a da nossa família.” A fala carregada de dor e revolta é de Neide
Caetano de Oliveira, de 43 anos, mãe de Douglas Henrique de Oliveira
Souza, de 21, morto durante a manifestação na Pampulha. Douglas não
pertencia a grupos políticos nem carregava bandeiras. Foi ao protesto
contrariando a mãe, que havia lhe pedido para ficar em casa. “Ele queria lutar por um Brasil melhor, por saúde e educação, que é o que todos querem, mas mudou a nossa família”, completa a irmã Letícia Aparecida, de 22.
Longe da
baderna e das confusões, o grito de protesto de Douglas foi interrompido
em um pulo dado em falso de cima do Viaduto José Alencar, que faz a
ligação das avenidas Antônio Carlos e Abrahão Caram, no acesso ao
Mineirão. Segundo um dos dois amigos que o acompanhavam na manifestação,
Fernando Fernandes, Douglas tentou pular a mureta do viaduto para
alcançar a outra pista, mas não viu o vão livre entre os dois lados. De
acordo com a Polícia Civil, não haverá investigação sobre a morte, pois
ainda não há indícios de crime. Outros cinco manifestantes foram pegos
pela mesma armadilha nos protestos de sábado e quarta-feira. A proteção
instalada pela Prefeitura de Belo Horizonte na terça-feira não evitou o
risco, pois impedia o acesso apenas nas cabeceiras do elevado
A mãe assistiu a tudo pela televisão e, na hora do acidente, identificou
o filho pela cor da camisa. “Vi o Douglas deitado no chão. Meu filho
era muito especial
na minha vida, falava que me amava todos os dias”, diz Neide, em
prantos. “Não sei se conseguirei superar esta dor”, completa. Filho de
pais separados, Douglas se mudou com a mãe, as duas irmãs e uma
sobrinha, há cerca de dois anos, de Curvelo, na Região Central, para
Contagem, na Região Metropolitana de BH. O pai mora em São Francisco de
Paula, no Centro-Oeste do estado. Teve que ser internado com hipertensão
ao saber da morte do filho.
O
jovem nasceu em Oliveira, também no Centro-Oeste de Minas, mas passou
grande parte da vida em Curvelo, onde será sepultado hoje, às 8h, no
Cemitério Santa Rita. O velório começou ontem, às 18h. “Viemos do
interior para estudar, pois lá não há muitas oportunidades.
Queríamos uma vida melhor”, diz a irmã. Segundo o primo Pedro Henrique
Caetano, de 23, Douglas sonhava em cursar engenharia elétrica. De
família simples, o jovem não voltou aos estudos e acabou se dedicando ao
trabalho.
Havia seis meses que era funcionário da Usifast, empresa de logística em
Contagem. Lá, trabalhava como auxiliar de logística e ajudava a colocar
as mercadorias nos caminhões. Pegava serviço às 6h da manhã, mas, na
quarta-feira, faltou ao expediente para ir à manifestação. Desde a
semana passada estava entusiasmado com os movimentos de protesto e, no
perfil do Facebook,
chegou a convocar os amigos para irem para a rua. Compareceu à
manifestação de sábado e chegou a postar fotos dos protestos de quarta,
pouco antes do acidente. Ontem, a morte virou assunto nas redes sociais, onde muitos lamentaram a tragédia.
“Ele morreu lutando, mas não sei se valeu a pena. Fatalidade ou não,
morreu por aquilo que acreditava. Era uma pessoa cheia de planos,
aventureiro, bonito”, lamenta a irmã Letícia. Para o primo, fica a imagem
de um jovem que tentou fazer a diferença. “Ele tinha uma luz própria e
não esperava ninguém fazer nada por ele. Ia sempre atrás. No sábado,
chegou a me falar que a manifestação tinha a nossa cara e que ele iria participar, porque, desse jeito, faria a diferença”, conta.
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