Diante do tumulto na
manifestação que reuniu mais de 60 mil pessoas no entorno do Mineirão,
no sábado, e do prenúncio das autoridades de segurança, que consideram
inevitável novo confronto amanhã, a dúvida dos manifestantes é seguir ou
não até o estádio onde ocorre o jogo da Seleção Brasileira, com intuito
de dar visibilidade às reivindicações. A repressão policial e os atos
de vandalismo, dizem integrantes do movimento, enfraquecem e
criminalizam a manifestação, desestimulando a participação popular. Por
seu lado, a Polícia Militar nega excessos e afirma que agiu com rigor
para manter a ordem. Em reunião ontem, o comando iniciou planejamento
para evitar mais quebra-quebra em Belo Horizonte, identificando e
prendendo os vândalos. Nesse jogo de resultado imprevisível, o que já se
sabe é que, a partir do meio-dia de amanhã, a decisão será tomada na
Praça Sete, com o trajeto da manifestação sendo escolhido pela maioria.
Colaboradores do movimento acreditam que a caminhada pacífica deve
seguir até o palco da semifinal entre Brasil e Uruguai, mas, nas redes
sociais, muitos discutem se o melhor mesmo é chegar até lá, sugerindo
opções como fechar vias de acesso ao campo e até a outros destinos, como
a Cidade Administrativa, a Assembleia Legislativa, a prefeitura e a
Câmara Municipal.
A Comissão de Prevenção à
Violência em Manifestações Populares também se reuniu ontem no
Ministério Público e decidiu encaminhar ao governo estadual documento
pedindo que haja garantias sobre a segurança dos manifestantes. Do
contrário, sugerem participantes de movimentos que integram a comissão, a
partida entre o Brasil e o Uruguai deve ser suspensa. “O movimento está
preocupado com a segurança dos ativistas e a função da comissão é
manter o diálogo. Faremos o encaminhamento de sugestões às autoridades
estaduais e municipais, como manter a iluminação pública na Avenida
Antônio Carlos e as câmeras do Olho Vivo ligadas”, afirma o promotor de
Direitos Humanos Fábio Reis de Nazareth.
O movimento quer um
encontro com o governador Antonio Anastasia e o prefeito Marcio Lacerda,
para apresentar as pautas, que abordam 10 temas, entre eles saúde,
educação e transporte, inclusive com a revogação do aumento da passagem
de ônibus, que voltaria a custar R$ 2,65. Outro pedido diz respeito à
presença de pessoal e equipamentos do Corpo de Bombeiros e da saúde
suficientes para atender eventuais feridos durante atos de protesto.
De acordo com o
vice-presidente da União Brasileira de Estudantes Secundaristas (Ubes),
Gladison Reis, a convocação continua. “Muita gente tem intenção de ir ao
Mineirão e queremos que nosso direito seja respeitado”, diz ele,
defendendo apoio do time brasileiro. “Vamos pedir que os jogadores não
entrem em campo, se a gente não tiver segurança nos protestos.”
Com mais de 83 mil
apoiadores no Facebook, a página “BH nas ruas” sugeriu uma votação sobre
para onde deveria seguir a manifestação no dia do jogo. Até o
fechamento desta edição, 185 pessoas haviam escolhido fechar acessos do
Mineirão, 36 optaram por seguir diretamente para o estádio e somente 18
sugeriram desviar a passeata para outros rumos. Pelo menos 10 destinos
alternativos foram sugeridos pelos adeptos do Facebook, sendo os mais
votados a Cidade Administrativa, Assembleia Legislativa e Prefeitura de
Belo Horizonte.
A votação por múltipla
escolha destoava do tom dos comentários postados no Facebook, que são
assinados pelos responsáveis. Dezoito sugeriam destinos alternativos ao
Mineirão, enquanto oito que mostravam a cara na internet e se diziam
favoráveis a permanecer nas imediações do estádio. “Já basta o confronto
de sábado, né, galera?”, dizia uma estudante. Fazia coro a aluna R. S.,
para quem ir ao estádio é arcar com o ônus da confusão. “Dá margem para
baderneiros agirem e o movimento se enfraquecer.” Já o publicitário
F.D. reforçava a necessidade de a “manifestação se manter distante do
campo para fugir da guerra direta”. Em entrevista por telefone, F. disse
que preferia não ir, mas avaliou que será inevitável que os protestos
se aproximem do Mineirão. “Só vai dar para saber no dia o que vai
acontecer, porque não há líderes no movimento e as pessoas decidem tudo
na hora.” Enquando a dúvida persiste, ontem em vários dos locais que
foram alvo de vandalismo o dia foi de proteger fachadas com tapumes,
diante do temor de mais destruição.
PM vai reforçar isolamento
Ao mesmo tempo em que
ativistas se organizam, a Polícia Militar planeja sua ação para amanhã,
trabalho que deve ser concluído hoje, segundo o chefe de comunicação da
corporação, tenente-coronel Alberto Luiz. Ele disse que a PM vai
preservar o perímetro de segurança no entorno do Mineirão, determinado
pela Fifa (veja arte). Ele adianta que o policiamento vai ser reforçado
ao longo da Avenida Antônio Carlos. “Não vamos barrar ninguém, mas eles
não poderão entrar na Avenida Antônio Abrahão Caram e nem no entorno do
Mineirão”, disse. A PM pretende distribuir mais de 30 mil panfletos
orientando manifestantes a manter distância dos vândalos. Uma mensagem
também será direcionada aos pais, para que orientem seus filhos para uma
manifestação pacífica e que evitem locais que ofereçam perigo.
FONTE: UAI
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