No sábado (22), manifestação em BH terminou em confronto e vandalismo.
Polícia nega que tenha havido negligência.
O médico Giovano Iannotti, de 38 anos, participou da última grande manifestação em Belo Horizonte,
no sábado (22), como voluntário e conta ter visto exageros por parte da
Polícia Militar (PM) ao lidar com os integrantes do protesto, assim
como a omissão de socorro a feridos. O ato, que reuniu cerca de 70 mil
pessoas, foi marcado por confronto e vandalismo. Quarenta e oito
pessoas, entre elas dez policiais, ficaram feridas neste sábado.
Iannotti se uniu aos protestos pela redução das tarifas do transporte
público em Belo Horizonte na última segunda-feira (17) como um dos
manifestantes, mas, desde então, passou a atender os vários feridos e a
montar equipes para garantir o resgate a todos, mesmo com a violência ao
redor. Neste sábado, por causa das dificuldades, os voluntários
convocados por ele teriam sido até obrigados a abandonar feridos em
tratamento. “Eles aguentaram enquanto puderam, imobilizando o paciente.
Chegou um momento que a PM atirou tanto que eles tiveram que deixá-lo
morrendo lá”, contou sobre a tentativa de salvar um jovem após ele ter
caído de um viaduto.
Com cerca de 40 integrantes, entre profissionais e estudantes, a
equipe de atendimento foi montada em função da experiência com o
primeiro protesto, na segunda-feira (17). Na ocasião, Iannotti
participou com o meio de transporte usado por ele para transitar na
capital mineira: a bicicleta. Seguindo à frente dos manifestantes,
explicou ele, teria presenciado ações questionáveis dos policiais. O
número de feridos se tornou um incômodo, resultando na convocação.
Antes do protesto seguinte, na quinta-feira (20), os voluntários se
prepararam para tratar os tipos de ferimentos mais comuns, levando com
eles kits para primeiros-socorros. Na data, no entanto, ele disse ter
ficado feliz por não ter surgido nenhum trabalho. Iannotti esperava a
mesma tranquilidade no sábado, mas o clima da manifestação mudou
completamente quando a linha de frente do grupo encontrou o bloqueio dos
militares na Avenida Abraão Caram, próximo à Universidade Federal de
Minas Gerais (UFMG).
Quando bombas começaram a ser lançadas de ambos os lados e
manifestantes provocavam a PM, afirmou Giovano, ele e os voluntários
montaram um pequeno posto de atendimentos na Avenida Antônio Carlos,
sendo preciso recuar às vezes por causa das bombas. Eles também vestiram
jalecos para facilitar a identificação como médicos.
Durante a confusão, ele diz que identificou aos policiais para
atender os feridos, mas teria sido impedido e ameaçado. Quando um jovem
caiu do viaduto sobre a Av. Antônio Carlos, Iannotti tentou socorrê-lo,
improvisando uma maca, e, mais uma vez, como conta, teve a ajuda da PM
negada. “Era preciso evacuar essa vítima o mais rápido possível porque a
situação clínica dele não era boa”, disse.
O médico relata que, em determinado momento, um homem mascarado se
apresentou como policial e ofereceu ajuda para levar o ferido até a área
protegida pela PM. “Não sei se ele falou verdade ou se falou mentira,
mas pouco tempo depois os tiros diminuíram”, pontua. A PM nega a
presença de militares não identificados no local. Lá, Iannotti disse ter
visto uma ambulância e ter se dirigido em direção ao carro para colocar
um ferido, mas um oficial contou que o serviço era exclusivo a
policiais. O mesmo foi dito quando o médico teria pedido equipamentos
emprestados. “Como alguém impede de usar uma ambulância quando há gente
morrendo?”, questionou o médico.
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