Comandante de UPP pede desculpas pelo desaparecimento de Amarildo.
Coordenador das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora), o coronel Frederico Caldas pediu desculpas aos moradores da Rocinha, zona sul do Rio de Janeiro, pelo desaparecimento de Amarildo de Souza, 43.
O ajudante de pedreiro desapareceu em 14 de julho deste ano após ser levado por um grupo de policiais da UPP para a sede da unidade. Esse foi o primeiro pedido formal de um representante do governo estadual à família e aos moradores da comunidade.
A declaração aconteceu quase quatro meses depois do desaparecimento de Amarildo de Souza e aconteceu durante cerimônia do Conselho Nacional do Ministério Público que lançou nesta quarta-feira (6) uma cartilha de comportamento entre cidadão e polícia na quadra próximo ao acesso à favela.
Ao menos 4.000 exemplares devem ser distribuídos a partir de hoje na comunidade.
"O que aconteceu foi inadmissível. Foi um absurdo. Inaceitável. O que temos aqui é que pedir desculpas à família e à comunidade", afirmou Frederico Caldas, acrescentando que a cartilha simboliza o pensamento da corporação que, segundo ele, trabalha para que nunca mais ocorra um caso como este.
Entre os direitos da população citados está o de "não responder às perguntas sobre os fatos da investigação ou só falar com a presença de um advogado".
Denúncia do Ministério Público do Rio diz que no dia 14 de julho Amarildo Souza foi sequestrado por PMs da UPP local e torturado até a morte atrás da sede da unidade para ser obrigado a passar informações do tráfico de drogas. O corpo do ajudante de pedreiro não foi encontrado até hoje. No total, 25 PMs foram denunciados por envolvimento no caso.
"Escolhemos o Rio de Janeiro e particularmente a comunidade da Rocinha por ser emblemática no tocante a necessidade de melhor orientação das pessoas e de apoio aos cidadãos diante de abusos praticados por maus policiais. É claro que nós levamos em conta os recentes acontecimentos que resultaram no desaparecimento de Amarildo e que já foi objeto de resposta por parte das autoridades com a identificação dos responsáveis", disse o presidente do Conselho Nacional do Ministério Público, Mário Luiz Bonsaglia, um dos idealizadores da cartilha, durante evento de lançamento na quadra da Acadêmicos da Rocinha, na tarde de hoje.
O libreto de 14 páginas será distribuído por representantes de ONGs e líderes comunitários. Em dezembro, será divulgado na Dona Marta, em Botafogo (zona sul), em comemoração aos cinco anos da UPP na favela. "A ideia é distribuir essa cartilha em todo país. Estamos abertos a receber pedidos de Organizações de Direitos Humanos ou órgãos públicos que queiram receber impressos dela", afirma Bonsaglia.
O conteúdo ainda pode ser acessado no site do Conselho Nacional do Ministério Público ( www.cnmp.mp.br/publicacoes).
"CARTEIRADA"
Entre os direitos dos cidadãos citados na cartilha está que " nenhum policial pode pedir 'ajuda', 'favor' ou 'dinheirinho' para 'livrar a cara' de ninguém ou para cumprir seus deveres". Dar "carteirada", ou seja furar filas, não pagar ingressos ou deixar de pagar produtos que consumirem também é errado e o policial que fizer isso deve ser denunciado - alerta.
"Às vezes é necessário dizer o óbvio porque apesar de ser óbvio tal prática acontece. Então, acreditamos que o cidadão instruído será mais resguardado", afirma o presidente do Conselho Nacional do Ministério Público.
Folha de São Paulo
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