Murillo de Aragão
O Tempo - B.H
As últimas semanas foram pródigas em informações e contrainformações, com amplas repercussões na cena política, o que faz a delícia do analista político. Afinal, temos matéria-prima para interpretações para todos os gostos.
Comecemos pelo leilão de Libra. Para o Palácio do Planalto, foi um sucesso. Vendeu-se bem uma reserva que vai gerar petróleo e divisas. Para a oposição, foi um fracasso pela falta de competidores, e a imprensa internacional seguiu na mesma linha.
Comecemos pelo leilão de Libra. Para o Palácio do Planalto, foi um sucesso. Vendeu-se bem uma reserva que vai gerar petróleo e divisas. Para a oposição, foi um fracasso pela falta de competidores, e a imprensa internacional seguiu na mesma linha.
O FMI e a OCDE afirmaram que a economia do Brasil não vai tão bem como o governo imagina. A oposição e a grande mídia fizeram coro com os organismos internacionais. Já a presidente Dilma Rousseff se irritou e disse que não responderia a tais comentários. Antes teria dito inclusive que um país com US$ 378 bilhões de reservas e inflação sob controle não pode ser mal-avaliado.
As contas externas também têm sido motivo de críticas. Alguns apontam uma grave deterioração que não estaria sendo reconhecida pelo governo. Como o rombo nas transações correntes atingiu US$ 60 bilhões, a situação só não seria precária porque os investimentos diretos estrangeiros compensam.
Novamente, as interpretações se chocam, pois, para outros, embora a deterioração seja evidente, a situação não é calamitosa, já que pode ser revertida. O desafio seria fazer o governo ser mais eficiente no trato da questão.
Em meio a acusações de xenofobia e estatismo, o governo Dilma ampliou a participação do capital estrangeiro no Banco do Brasil. Recebeu mais críticas ainda de todos os lados. Em especial, do seu próprio partido, o PT, que acha que a presidente faz um governo conservador.
Eleitoralmente, também temos tempos misturados. Dilma lidera com folga a corrida presidencial de 2014. Mas sua performance é avaliada como fraca para o nível de conhecimento de sua figura pelo eleitorado. Tal fato mostra que, apesar do favoritismo, seu desempenho poderia estar chegando perto do teto.
Politicamente, também vivemos tempos confusos. O Planalto conseguiu melhorar o diálogo com o Congresso, mas não há garantia de que tudo ficará bem neste fim de ano de agenda cheia. PT e PMDB andam se estranhando, e os demais aliados estão em compasso de espera por causa da reforma ministerial que vem por aí.
Socialmente, as contradições são ainda mais intrigantes. Os protestos de rua que abalaram o país em junho continuam a ocorrer de forma esporádica. Porém, além de perderem a força, foram sequestrados por vândalos e baderneiros que atrapalham mais do que ajudam o fortalecimento da democracia.
O que fazer com movimentos e ações tão contraditórios? Redobrar as atenções ao interpretar os sinais dos tempos. Ter a certeza de que nada é tão simples quanto parece. De que o interesse eleitoral polui a crítica e nubla os sentidos. E de que não existem donos da verdade.
Nem a política econômica está tão mal conforme dizem, nem tão boa como o governo apregoa.
Socialmente, as manifestações ainda não foram o despertar da cidadania. Foram, apenas, produto de uma sequência de erros e equívocos turbinados pelo noticiário espetacular dos eventos.
Politicamente, temos uma fórmula confusa que vai continuar assim, tanto pelas características pessoais de Dilma quanto pela configuração de nosso presidencialismo de coalizão.
Eleitoralmente, Dilma continua favorita. Mas a eleição de 2014 está em aberto, por conta das incertezas da economia, sobretudo.
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