Uma semana antes de ser morto por PMs da UPP do Complexo do Lins, Patrick Ferreira Queiroz, de 11 anos, foi levado por policiais da unidade à 26ª DP (Todos os Santos). Ele havia sido identificado como um menor que aparecia num vídeo gravado pelos próprios policiais dentro de uma boca de fumo na região da favela da Zona Norte conhecida como Cachoeira Grande cercado de jovens armados. Na delegacia, Patrick foi fotografado pelos agentes e liberado em seguida, por ter 11 anos e, por lei, não poder responder por crime.
O menino foi atingido por um tiro de fuzil na axila por volta das 15h de quinta-feira. Segundo registro de ocorrência feito na 25ª DP (Engenho Novo), com Patrick foram apreendidos uma pistola calibre 9mm, um radiotransmissor e uma mochila com maconha, cocaína e crack. O delegado Niandro Ferreira, que acompanhou a perícia, registrou o caso como morte decorrente de intervenção policial. Os três PMs envolvidos no caso relataram na delegacia que atiraram porque viram a arma da mão do menino. Quando o delegado chegou ao local, a arma já havia sido recolhida pelos policiais.
Um mês antes de Patrick, seu irmão mais velho, de 16 anos, foi apreendido durante a Operação Elo de Paz, que contou com agentes da 26ª DP e da UPP. O jovem foi flagrado num vídeo feito por policiais militares, que faz parte do inquérito, com uma pistola na mão direita. Nas imagens também é possível ver outros dois menores e outro maior de idade, de 18 anos. Durante a operação, foram apreendidos 12 menores. Ao todo, a Justiça expediu mandados de busca e apreensão para 18 adolescentes.
Ontem pela manhã, o pai de Patrick negou que o garoto estivesse armado quando foi morto por PMs. Daniel Pinheiro de Queiroz, de 48 anos, acusa os PMs de terem plantado a pistola que disseram estar nas mãos do menino.
— Tinha arma. Mas quem vai falar que não foram eles que colocaram? Só vi ele com uma mochila e um radinho. Como um garoto de 11 anos vai ter pistola? — disse Daniel, enquanto cuidava da liberação do corpo do menino no Instituto Médico-Legal (IML).
A Coordenadoria de Polícia Pacificadora (CPP) sustentou, por nota, a versão de que Patrick integrava o tráfico no local e estava, além da arma, com maconha, cocaína, crack e um radiotransmissor.
Lanchonete
Segundo a família de Patrick, o menino havia abandonado a escola há seis meses, mas trabalhava numa lanchonete na favela. “Não se negava a fazer nada para ninguém. Era trabalhador. Trabalhava numa lanchonete”, afirmou o pai, que morava com Patrick e seu irmão mais velho, até este ser apreendido na Operação Elo de Paz.
Já a prima de Patrick, Denise Balu da Silva, de 24 anos, afirmou, no IML, que o menor brincava na rua quando foi morto. “Queremos uma resposta das autoridades. Vou lutar para a morte dele não ser em vão. Ele era como um filho para mim”, contou Denise, emocionada.
Scarlet Ferreira de Queiroz, de 20 anos, irmã de Patrick, criticou a ação da polícia. Segundo ela, os PMs retiraram do local do crime a pitola que diziam estar com Patrick. “A arma tinha que ficar lá. Se ninguém podia chegar perto, por que eles tiraram a arma? Não deixaram nem cobrir o corpo”, afirmou Scarlet.
As armas utilizadas pelos policiais militares foram apreendidas, e foi aberto um inquérito na 26ª DP para apurar a morte do garoto. Durante o dia de ontem, o clima na favela era de apreensão entre os policiais da UPP, que temiam represálias do tráfico.
http://extra.globo.com/casos-de-policia/menino-de-11-anos-foi-detido-uma-semana-antes-de-ser-morto-por-pms-15080569.html
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