Acorda, Policial e Bombeiro Militar!


O verdadeiro desafio não é inserir uma idéia nova na mente militar, mas sim expelir a idéia antiga" (Lidell Hart)
Um verdadeiro amigo desabafa-se livremente, aconselha com justiça, ajuda prontamente, aventura-se com ousadia, aceita tudo com paciência, defende com coragem e continua amigo para sempre. William Penn.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

ANATOMIA POLICIAL



Acontecimentos recentes que envolvem o aumento da ocorrência de todas as modalidades de crimes colocam em questão as ações de profissionais da segurança pública. Um vídeo demonstra uma ação da corregedoria de São Paulo, onde uma escrivã sob suspeita de corrupção é revistada a força, sendo despida em uma sala com vários homens - policiais e delegados - além de duas mulheres policiais. O fato mobilizou a opinião pública e revidou críticas ferozes contra o sistema utilizado em nossas delegacias na investigação ou detenção de criminosos ou suspeitos de crimes.

A pergunta de todos é: por que motivo uma ação considerada marginal - a violência e o desrespeito à lei, que determina a preservação da dignidade mesmo durante ordem de prisão ou revista de suspeitos, acontece em  uma delegacia, com omissão de delegados e policiais? E  no entanto o que se pretendia ali era esclarecer um ato de corrupção dentro da polícia.

Há fatores históricos que interferem na criação de uma corporação isenta de passionalidade, de violência ou de deslizes criminais. Policiais são cidadãos que integram uma sociedade determinada pelo padrão cultural. Não é possível treinar e controlar grupos da sociedade que por sua vez supostamente criariam meios de controle social isentos e sem influência do comportamento padrão. Além disso devemos considerar que a agressividade está ligada ao comportamento de policiais a partir da própria formação e treinamento profissional. O argumento é imbatível: não se combate a violência marginal, máfias e traficantes, com gentilezas ou preocupações de ordem ética. O policial é de carne e osso, precisa preservar a vida a todo custo e isso seria impossível sem o uso da violência.

Será mesmo? Existe uma interpretação errada a respeito da ética em guerras ou em batalhas urbanas ou combate à violência. Supõe-se que agir sob regras éticas diminui a força de combate. No entanto a energia de combate não depende da agressividade desarvorada, muito pelo contrário. É na concentração do objetivo e no domínio da passionalidade - ou da violência exagerada-  que podemos encontrar maiores oportunidades de vencer situações de descontrole social ou criminoso. É no domínio da situação, considerando um padrão ético mínimo, que desencadeamos a confiança popular nas instituições.

Quem vigiará os vigias? Esta foi a questão proposta por Platão em "A República". É extremamente atual. Séculos antes de Cristo os antigos pensadores, críticos da sociedade, encontravam problemas em relação a instabilidade existente dentro dos próprios organismos de segurança comunitária, em conflitos que demostram ser persistentes.

Quem julgará a Justiça? O elemento humano pode ser extremamente frágil e as estruturas de poder dependem de um controle permanente e comunitário. A união faz a força, quando está em jogo a idoneidade  que determina a sobrevivência de setores essenciais à ordem pública, como as estruturas do sistema judiciário, do Exercito, Policia Militar e Policia Civil, além do nosso sistema Legislativo e da política em geral.

A diferença entre o terceiro milênio e os tempos da "República de Platão" não é exatamente a evolução da cultura humana. Muito pelo contrário, vivemos no mundo uma crise de identidade, onde os valores que norteiam comportamentos e permitem o respeito à regras estão confusos. Um novo fenômeno abarca o pensamento da massa, que já se iniciou em um processo de contradições, bombardeada por uma mídia que privilegia  sonhos impossíveis e por uma realidade que não oferece alívio na sobrevivência pura e simples.

Naturalmente isso provoca uma convulsão em todos os setores. Cresce a criminalidade, por questões decorrentes, como ineficiência da Justiça e superpopulação carcerária, mas crescem  também a corrupção e a violência dentro dos organismos de defesa da sociedade, como nos tribunais, na política e na polícia.

Ao extrapolar o limite, ocasião em que as ações marginais ganham espaço dentro das instituições, a sociedade passa a vivenciar o desencanto e desânimo. No entanto é preciso lembrar que a interferência dos fatores desagregadores da ordem não chegam a atingir toda a estrutura. Em todas as instituições há uma maioria que trabalha no sentido de moralizar as ações, consciente de que a corrupção e os abusos são a principal desvantagem do sistema, que favorece uma minoria em detrimento de toda a sociedade.
Instituições de segurança são instrumentos de proteção e
a polícia  não é oposta ao cidadão, mas parte dessa mesma
sociedade. Esta foto é exemplar ao mostrar um professor
que não hesitou em ajudar um policial que
 passava mal por causa dos gases usados para reprimir a
manifestação por ordem  da  Secretaria da Segurança.
A solidariedade humana  se sobrepõe aos conflitos
de ordem política

A experiência demonstra que o combate aos abusos de toda ordem nas  instituições é tão importante quanto o combate à criminalidade no meio social . E a nossa mídia, que tanto colabora para a sensação de frustação que também leva à ações marginais nos orgãos de segurança, deve ser usada para responsabilizar toda a comunidade pelo estado das coisas - pelo voto ao político que não trabalha pela sociedade, mas por interesses de pequenos grupos, pela admissão da violência  e da falta de ética no meio comunitário e pela ausência de comprometimento de pessoas que assumem funções na segurança pública.
A valorização do profissional é outra questão importante e se a "auto-valorização" dos congressistas em seus salários conseguir erradicar a corrupção e o tráfico de influência no Congresso, também a valorização do policial deve obter resultado semelhante! Afinal dinheiro público deve ser usado em setores que garantem a sobrevivência da sociedade! (MM)


Fonte: artemirna.blogspot.com

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