Vídeo que mostra delegados despindo à força escrivã suspeita de corrupção abala a credibilidade do órgão responsável pela moralidade da Polícia Civil
Cristina Christiano
DIÁRIO SP
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O afastamento dos delegados Eduardo Henrique de Carvalho Filho e Gustavo Henrique Gonçalves, que despiram à força em uma sala do 25 Distrito Policial (Parelheiros) uma escrivã suspeita de corrupção, fizeram a Corregedoria da Polícia Civil passar da condição de "estilingue" à "vidraça". Desde a semana passada, quando imagens da operação gravadas pela equipe, foram parar na internet, o órgão responsável pela fiscalização da conduta moral de policiais civis é alvo de críticas.
"O que fizeram àquela funcionária é uma violação aos direitos fundamentais do ser humano. É crime hediondo. É um processo de coação moral, física e psicológica", afirma o presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-SP, Martim de Almeida Sampaio.
O advogado defende punição exemplar a todos os envolvidos no episódio e até sugere demissão a bem do serviço público. "É uma boa oportunidade de o governador Geraldo Alckmin mostrar a sua autoridade", diz.
foto: Reinaldo Canato / Diário de SP
Atrás do símbolo da Justiça, escrivã espera provar sua inocência
DESGASTE / O episódio também desgastou a imagem da corregedora Maria Inês Trefiglio Valente, que vinha fazendo um bom trabalho à frente do órgão. Pessoas próximas a Alckmin dizem que Maria Inês ficou em situação desconfortável, principalmente após defender a ação, que classificou de "moderada".
A indignação da opinião pública com a truculência dos policiais é tanta que até o presidente do Sindicato dos Delegados de Polícia, George Melão, diz ter sentido "repugnação" ao assistir ao vídeo. "Infelizmente, os excessos são cometidos", diz. Para ele, o afastamento, determinado pelo secretário da Segurança Pública, Antônio Ferreira Pinto, é salutar. "Espero que não se limite a eles. A medida deve se estender à corregedora", diz. No site do sindicato, Melão cita inúmeras leis violadas pela Corregedoria durante a operação, entre as quais a Constituição e a Lei Orgânica da Polícia.
Cenas da escrivã no Youtube saíram do ar diversas vezes
O vídeo que mostra os delegados algemando a escrivã, jogando-a no chão e arrancando a calça e a calcinha dela à força para provar que ela havia escondido R$ 200 saíram várias vezes do ar ontem. Muitos internautas não conseguiram acessá-lo no Youtube em alguns momentos.
Especialistas explicam que, geralmente, isso corre quando alguém que se sente ofendido com as imagens exige a retirada delas do ar. Porém, como inúmeros internautas conseguiram fazer cópias do vídeo, alguém com interesse em exibi-lo o coloca no ar novamente.
As imagens causaram repúdio no presidente do Sindicato dos Escrivães de Polícia, Heber Souza dos Santos. Na opinião dele, além de abuso de autoridade, os policiais cometeram crime de tortura.
Para protestar e exigir a exoneração dos envolvidos, a categoria organiza um ato público na Praça da Sé, a partir das 11h de sexta-feira, seguido de caminhada até a Secretaria da Segurança Pública.
A psicóloga Fátima Marques, da Coordenadoria Municipal da Mulher, vê machismo no vídeo. "Ele mostra que homens ainda acham que têm poder sobre a mulher."
http://www.diariosp.com.br/_conteudo/2011/02/37348-corregedoria+da+policia+civil+entre+a+cruz+e+a+espada.html
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