O governo está politicamente espremido entre o quarto poder midiático e a oposição golpista que está disputando o terceiro turno.
José Carlos Peliano*
Tudo bem, as manifestações de domingo último, 15 de março, foram de cunho político. As reivindicações contra a corrupção, a inflação, a queda na atividade econômica, entre outras palpáveis, objetivas, típicas das inquietações das pessoas e famílias, passaram longe. Ficaram na vontade, nenhuma faixa, que se teve notícia, foi levantada a respeito.
Que a velha mídia jogou pesado, o que aliás ocorre desde o primeiro governo do PT, embora de maneira menos acintosa e golpista, já se sabia e muito se veicula sobre isso nas redes sociais. Estas são, na verdade, o reduto do contraditório. O único. Enquanto isso a velha mídia nada de braçada.
Daí a pressão da velha mídia, sob concessão toda ela, para calar as redes sociais, limita-las ou mesmo elimina-las, pois são elas no Brasil as fiéis e verdadeiras fontes de informação. As “socialleaks”. Elas desempenham o papel que a velha mídia deveria.
O Brasil real que sai às ruas, a pé, de carro, ônibus ou metrô, não é o mesmo daquele que é informado pelas rádios, jornais, revistas e TV. Dois Brasis, o do dia a dia dos cidadãos, e o da montagem, da deturpação, das cartas marcadas.
Este Brasil virtual caminhou pelas ruas no domingo. Insuflado, mal informado, enraivecido e incentivado pelos meios de comunicação, milhares foram bradar contra o governo e a Presidente. Claro, sim, traziam consigo ainda, mais uma vez, novamente, a síndrome dos derrotados pelas urnas. Ainda não engoliram o resultado. O presidente deles é outro.
Mas também sabia-se de tudo isso. O governo e a Presidente tinham isso em conta. A postura que adotaram, manifesta entre outros por Jacques Wagner, Miguel Rossetto, José Eduardo Cardozo, e a própria Dilma Rousseff, foi a de entender que as manifestações eram legítimas e faziam e fazem parte do regime democrático. Para eles, vale a tolerância.
De fato, se a unanimidade é burra, segundo o saudoso Nélson Rodrigues, a diversidade levada às últimas consequências, porém, pode ser também burra. Se aquela só cria vaquinhas de presépio, esta leva alguns bandos de vaquinhas de presépio a se juntarem para dar chifradas em adversários políticos. Reacionários, sim, mas também mal informadas dia após dia, mês após mês, ano após ano, pela velha mídia.
A questão não está em se proibir manifestações ou deixa-las soltas ao bel prazer. Não se trata obviamente disto. Esta dicotomia é um falso dilema. Ocorre que tanto uma quanto outra levam a desviar a atenção do foco principal e podem acabar em distúrbios de graves consequências. Este o verdadeiro dilema.
Outros já alertaram sobre a questão desde visões, algumas semelhantes, outras diferentes. Fico com dois exemplos, entretanto, dois textos publicados ontem, um de Luís Nassif, outro de Miguel do Rosário, em seus respectivos blogs. Ressalto apenas os pontos considerados mais importantes por mim. O primeiro menciona a falta de rumo político das manifestações, o segundo a deficiência de comunicação do governo.
A falta de rumo político vem do isolamento diante de “partidos e instituições como agentes agregadores”. A massa, então, recorre às “formas primárias de coesão”. É a diversidade levada ao limite de percepções e provocações que se agrega em torno de insatisfações reais ou virtuais.
Já a deficiência de comunicação é um fato consumado, o qual, de novo, valendo-me de Nélson Rodrigues, leva o eleitor do governo a chorar lágrimas de esguicho, sentado na rua dos aflitos. Aflitos pela reação política do governo que não chega, desde as manifestações de 2013, que foram um alerta para se entender, elaborar e enfrentar situações do tipo.
Mas nada foi feito. Vingou a tolerância oficial. Será? Parece mais uma letargia, uma paralisia. A sensação que passa é a de um governo meio que acuado. Sem saber ou poder exatamente agir como precisa, acaba permanecendo no mesmo lugar. Tipo deixando como está para ver como é que fica!
Reforma ministerial e melhor combate à corrupção, como pretende o governo, são medidas importantes, sim, mas não é este ainda o problema a ser enfrentado de imediato. Não é isso que os seus eleitores e não eleitores esperam ouvir. No fundo, eles querem saber a que veio o governo atual.
A paralisia do governo deve ser superada pela ida à população. Insatisfeitos, uns pela derrota eleitoral não assumida, outros pela falta de reação do governo diante do massacre midiático. Além, por certo, da virada econômica: de um período de expansão a um de contenção. Virada com gosto de inflação voltando, economia parando, desemprego chegando. Tudo contrário à proposta eleitoral da candidata eleita.
Sim, há petistas envolvidos na Operação Lava a Jato. Serão punidos pela Justiça, se for o caso. Mas o massacre, velho conhecido, vem da veiculação de notícias, escolhidas a dedo. Primeiro o mensalão, após a Lava a Jato. Qual a próxima bandeira a ser levantada contra o governo pela velha mídia? O governo se cala e pouco reage ou quase nada.
O que precisa ser dito em alto e bom som, incluindo nomes e provas, é que corrupção e tráfico de influência vêm desde as capitanias hereditárias. Os governos passados, longevos e recentes, igualmente passaram por isso. Não é criação do governo eleito.
Qual a diferença, então, a novidade? Antes engavetavam-se as denúncias, hoje se pune! E os governos que não levam às gavetas os processos são exatamente os que vêm sendo odiados ultimamente pela massa mal informada por uma mídia falsa e corrompida. Dirão eles que foi a Justiça quem expôs a ferida da corrupção; há que responder que este governo não calou a boca dos denunciantes ou mesmo trancafiou os processos sob sete chaves, como em governos anteriores.
Há muito não se vê, não se lê, não se escuta, nem se sabe, das boas realizações do governo. E não são poucas. Os eleitores prós e contras devem e precisam tomar conhecimento delas já que a velha mídia nada veicula. Está à disposição do governo diuturnamente, no entanto, os veículos da rede social. Há que mobiliza-los para contrapor ao massacre midiático oficial.
De fato, o governo está politicamente espremido num elevador entre o quarto poder midiático, os eleitores derrotados, a oposição (ainda atrás do 3o turno), uma base política de desapoio e presidentes da Câmara e Senado de ocasião. Não é uma tarefa fácil administrar tudo isso para chegar ao andar de cima da dignidade política e do bem estar econômico e social.
Mas a melhor defesa é o ataque, já dizia Nenen Prancha, velho conhecido peladeiro das praias cariocas. A grande tarefa agora é sair da armadilha do elevador. Coisa que já poderia ter sido trabalhada muito antes, diga-se de passagem. Valer-se de um grupo sólido de orientação política, gente do ramo, especialistas, profissionais. Há que se defender o governo e leva-lo em frente com segurança, pois a oposição quer sangue, instabilidade, caos.
É urgente e necessário orientar-se para uma boa comunicação, efetiva, eficiente. Os pronunciamentos oficiais têm de ter melhor apresentação, roteiro e, principalmente, tocar nos pontos essenciais que afligem de pronto à população, tanto pobres quanto ricos.
Reforma política e corrupção são pontos e questões da mais alta relevância, mas não estão nos preços dos produtos e da cesta básica, nas tarifas de ônibus, nas contas de água, luz e telefone, na redução dos empregos, no massacre virtual midiático ao partido do governo e do próprio.
Aconselhar-se com gente que entenda de economia, fora do governo, para fazer sintonia fina. Há muitos economistas irritados com a austeridade ensaiada. Qualquer ajuste mal feito da Fazenda entorna o caldo da economia, leva de roldão as percepções e a boa vontade dos consumidores. E a velha mídia acaba usando qualquer insatisfação em seu benefício próprio mais uma vez.
Levar a velha mídia às cordas. Apenas fazer valer a Lei 4.117, de 27/08/62, especialmente o artigo 53, alíneas a, d e j. Lembrar aos que têm memória curta de um lado e ordenar aos que se esquecem nos arquivos oficiais de outro: é ilegal os meios de comunicação incitarem a população à desobediência das determinações contidas em lei.
Cabe, por fim, ao partido do governo tentar mobilizar novamente seus militantes como em momentos anteriores. A paralisia do governo leva à estagnação e à falta de argumentos de combate político. Não se vive de história, valiosa história, ela se faz dia a dia nas lutas cotidianas. Mas ela serve, sim, de exemplo, desde que construída com novos instrumentos de luta política, relações e ambiente. O momento atual não está fácil e há outra manifestação marcada para 12 de abril.
*Economista, colaborador da Carta Maior
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