Acorda, Policial e Bombeiro Militar!


O verdadeiro desafio não é inserir uma idéia nova na mente militar, mas sim expelir a idéia antiga" (Lidell Hart)
Um verdadeiro amigo desabafa-se livremente, aconselha com justiça, ajuda prontamente, aventura-se com ousadia, aceita tudo com paciência, defende com coragem e continua amigo para sempre. William Penn.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Premiação para cumprimento de metas pode ser uma medida que privilegie somente indicadores escolhidos

Premiação é positiva, mas pode trazer eventuais distorções
Medida põe foco em planejamento; polícia, porém, pode passar a trabalhar apenas os indicadores analisados

O PERIGO É A POLÍCIA MAXIMIZAR O RESULTADO APENAS DOS INDICADORES CONSIDERADOS NA PREMIAÇÃO

IGNÁCIO CANO
ESPECIAL PARA A FOLHA

A instituição de incentivos econômicos é um mecanismo padrão de gerenciamento em organizações públicas ou privadas para garantir a consecução de metas.
Nos últimos anos, as corporações de segurança pública fizeram esforço para melhorar a gestão institucional e se afastar dos velhos paradigmas baseados no modelo militar, no caso das PMs, ou no modelo exclusivamente jurídico das Polícias Civis.
A criação de premiações é um elemento dentro desta nova abordagem, que inclui, entre outras coisas, a ênfase no planejamento, o estabelecimento de metas, a integração entre as diferentes instituições, o georrefenciamento das ocorrências criminais para mapear a incidência etc.
Em suma, as premiações devem ser consideradas como uma ferramenta potencialmente positiva na modernização institucional das polícias. Inclusive, elas podem atingir um impacto potencialmente maior em instituições que oferecem baixas remunerações aos agentes da base da pirâmide organizacional (soldados, detetives).
Entretanto, elas envolvem também riscos e efeitos potencialmente negativos. Assim, os prêmios devem ser concedidos em função de indicadores de desempenho amplamente divulgados. O perigo é que qualquer pessoa ou instituição cuja remuneração dependa de indicadores ficará tentada a maximizar o resultado apenas dos indicadores considerados.
O problema na polícia é maior, porque ela mesma produz informações em relação às quais será avaliada. E possui diversas formas de influenciar registro dos crimes. A tentativa de registrar os crimes em outras áreas diferentes não é preocupante, desde que haja instância superior que resolva os conflitos.
Uma questão mais delicada é que, segundo as pesquisas, parte das vítimas vai à delegacia, mas acaba não registrando a ocorrência por diversos motivos: longa espera, policiais que insistem em que o fato não tem gravidade ou não vai dar em nada.
As soluções para este problema não são fáceis. Idealmente, as premiações deveriam depender não apenas de dados da própria instituição mas também de informações externas, como pesquisas de vitimização, mas essas pesquisas comportam custos bastante elevados. Também é preciso aprimorar a fiscalização das corregedorias sobre a forma como as delegacias produzem os registros.
Por último, recomenda-se que as premiações sejam coletivas em vez de individuais, que incluam todos os membros das equipes (e não só os chefes), que incentivem colaboração interinstitucional e prevenção ou resolução dos crimes minimizando o grau de violência empregado.

IGNÁCIO CANO é professor da UERJ e membro do Laboratório de Análise da Violência

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