As polícias militares brasileiras vivem em um momento de conflito:
entre os princípios uniformizadores da formação militar e os princípios
democráticos de garantia das individualidades. Com a facilidade de
acesso à informação, não há mais exclusividade de conhecimento, algum
consenso só é atingido com o diálogo, a formatação impelida pela cega
disciplina só gera ebulições e contraprodução.
Neste contexto, o principal ponto de tensão se encontra na liberdade
de expressão, insumo democrático ainda restrito entre os PM’s
brasileiros. Isto porque em um ambiente onde se tenta reduzir as
complexidades e perspectivas individuais a um modelo “ideal”,
convenientemente adaptado ao prazer e às fragilidades de quem manda, os
suspiros de protesto tendem a ser sufocados.
E é problemático excluir a livre expressão num mundo caracterizado
pela fluidez de comunicação possibilitada, principalmente, pelas novas
mídias. O limite de acesso a verdades históricas, políticas, técnicas e
científicas é a vontade de cada um, de modo que as autoridades só se
constituem como tal quando se empenham mais que os demais no
entendimento de algum assunto.
Em batalhões de policiamento ambiental há soldados mestres em
biotecnologia, em unidades operacionais mal administradas há doutores em
administração. Como garantir alguma governabilidade em tão complexa
estrutura agarrando-se à (i)lógica do “sim senhor/não senhor”?
A humildade, o reconhecimento de erros, o diálogo, a clareza e a
construção colaborativa dos entendimentos parece ser o caminho para
evitar colapsos. Não se trata de renunciar às prerrogativas existentes
em cada grau hierárquico, mas de perceber quão inútil é tentar unificar a
variabilidade de personalidades e opiniões em um mundo cada vez mais
plural. Hoje não há fragilidade que dure alguns segundos escondida.
O ponto positivo disto é que há, nesta multiplicidade de
características e visões de mundo, um potencial enorme a ser explorado e
utilizado em favor das instituições policiais. Basta desistir de
mutilar o que cada policial-ser-humano tem de peculiar.
Autor: Danillo Ferreira - Tenente da Polícia Militar da Bahia, associado ao Fórum Brasileiro de Segurança Pública e graduando em Filosofia pela UEFS-BA. | Contato: abordagempolicial@gmail.com
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