Financiamentos de campanhas aos governos podem servir para abafar “acidente” na Samarco
Mais de R$ 1,2 milhão foi o valor que as empresas subsidiárias da Vale/Samarco investiram em candidatos ao governo do Espírito Santo nas eleições de 2014 para governador. Em Minas Gerais, o montante que a mineradora investiu nos candidatos ao governo foi ainda maior.
Valores esses acabam por justificar o tratamento amigável dos poderes constituídos dos dois estados à Samarco Mineradora – que possui entre suas principais acionistas, a Vale; após duas de suas barragens terem destruído toda uma região, assassinando dezenas de seres humanos, milhares de animais e espécies vegetais e causando um impacto ambiental e social incalculável.
Denúncias revelam que as atividades em uma das barragens já deveriam ter sido suspensas, mas mesmo assim receberam autorização para continuar a funcionar. Além disso, reforça-se que a atividade de mineração é uma das que mais comprometem o lençol freático, causando a diminuição do volume de água bem como poluindo os mananciais devido a alta toxidade dos sulfetos utilizados.
A mineração pode inclusive causar zonas de depressão e afundamento no solo, como ocorreu na década de 90, na cidade de Vazante (MG), onde o rebaixamento do nível d’água, não só promoveu o desaparecimento de lagoas, a extinção de nascentes e o comprometimento do abastecimento de água potável da cidade, como também causou milhares de depressões, semelhantes a crateras, fenômenos conhecidos por dolinas.
Mesmo com tantos prejuízos que podem ocasionar, os governos são omissos na fiscalização às empresas, e mais ainda na punição quando ocorrem desastres como o de Mariana (MG).
Até o momento, os governos sequer divulgaram as atitudes que serão tomadas civil e criminalmente quanto à tragédia que já era anunciada por moradores e relatórios técnicos. Mais uma vez, ao que tudo indica o Estado irá prejudicar o cidadão, e isentar as empresas culpadas por essa tragédia.
É lamentável que os governos eleitos sejam reféns de grande aglomerados empresariais pelo fato de terem suas campanhas eleitorais financiadas por eles. A sociedade capixaba já tem vivenciado o caos com a falta d’água, sendo que a Vale é uma das empresas que mais consomem água tratada, além de poluir nosso meio ambiente com o pó preto que causa câncer e outros males.
Mesmo com tantos prejuízos que as mineradoras oferecem aos seres humanos, o Espírito Santo, bem como o governo federal, em contrapartida aos valores que as mineradoras investem durante as campanhas políticas, além de abrandarem a fiscalização, ainda isentam as empresas ao pagamento de inúmeros impostos. Segundo pesquisa divulgada pela Amazônia Pública, são tantas isenções ao setor de mineração, que é difícil calcular quanto o Brasil deixa de arrecadar. Para se ter uma noção, apenas em 2011 a receita operacional com as exportações da Vale foi superior a US$ 39,6 bilhões, no mesmo período, a empresa pagou apenas US$ 1,39 bilhão de impostos. Enquanto outros países as taxas para as mineradoras são superiores a 50%, o Brasil tem a menor carga tributária, chegando, quando cobrada, ao máximo de 39% de tributação de suas receitas.
E devido à total negligência dos governos estaduais e da própria empresa, a população das cidades afetadas pela lama do acidente da Samarco está tendo que recorrer as doações de moradores de outros municípios.
Não há outra forma de mudar nossa realidade a não ser pela união de toda a sociedade cobrando que os governos responsabilizem civil e criminalmente as empresas envolvidas nessa tragédia.
Para discutir essa mobilização, os movimentos sociais estarão reunidos na próxima quarta-feira, as 19h, na Sede do Sindicato dos Bancários (Rua Wilson Freitas, 93, Centro). A convocação destaca que “queremos trabalho garantido, mas com uso sustentável dos recursos e com uma estratégia de desenvolvimento que comunique com os interesses da população. Não dá pra ficar eternamente mandando minério bruto pra fora do país! NÃO DÁ PRA BEBER MINÉRIO OU ÁGUA CONTAMINADA!”
Fontes: TSE, Revista Água e Meio Ambiente Subterrâneo, Amazônia Pública
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