Acorda, Policial e Bombeiro Militar!


O verdadeiro desafio não é inserir uma idéia nova na mente militar, mas sim expelir a idéia antiga" (Lidell Hart)
Um verdadeiro amigo desabafa-se livremente, aconselha com justiça, ajuda prontamente, aventura-se com ousadia, aceita tudo com paciência, defende com coragem e continua amigo para sempre. William Penn.

quinta-feira, 19 de maio de 2016

Beltrame:‘Tem gente na PM que faz corpo mole’




José Mariano Beltrame está preocupado. Segundo avaliação do próprio secretário de Segurança do estado do Rio, os indicadores de segurança de abril, que ele recebeu esta semana do Instituto de Segurança Pública (ISP), estão “péssimos”. Em relação a abril do ano passado, os homicídios dolosos (com intenção de matar) aumentaram 38,9% e os roubos de rua, 29,4%. Já é o terceiro mês seguido de piora nos principais índices. Em seu gabinete no Centro Integrado de Comando e Controle, na Cidade Nova, Beltrame afirmou, em entrevista ao EXTRA, que a polícia está desmotivada pelos atrasos nos pagamentos dos agentes, reconheceu “problemas” nas Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) e reclamou que “tem gente na PM que não abraçou” as UPPs.

Os principais indicadores pioraram no estado. Por quê?
A crise econômica atingiu bastante a segurança. Tivemos uma diminuição de efetivo policial sem o pagamento do RAS (Regime Adicional de Serviço), de 300 a 400 homens a menos por dia. Quase um terço da frota da Polícia Civil não sai para as ruas por economia de combustível. Mas um aspecto forte é a desmotivação dos policiais, que não recebem em dia, não receberam o 13º, pararam de receber o RAS e estão há três semestres sem receber pelo sistema de metas. Isso faz uma diferença enorme.

Há problemas de gestão nas polícias?
Claro que tem. Numa série de lugares, tínhamos um olhar, agora temos que ter outro. Os números aumentaram muito em São Gonçalo, Queimados, Rio das Ostras, Campos. São Gonçalo sempre foi um problema, mas agora extrapolou. Mas nesses outros lugares, vamos ter que mudar nossa estratégia de policiamento. Não vão mudar as pessoas, mas vamos olhar de forma diferente. Nesse momento, representantes das polícias Civil e Militar estão reunidos para estancar esse pico nos indicadores.
Tiroteios são diários em áreas com UPPs, sete anos depois do início do projeto. Por quê?
Nós temos lugares com problemas. Fizemos trabalhos recentes no Jacaré, no Chapéu-Mangueira e na Providência. Nos dois últimos, a situação está controlada, mas ainda há traumas do nosso trabalho ali. Mas vou te dizer algo: se ninguém persuadir a juventude, deixar a juventude ocupada, se outros poderes não entrarem ali, esses problemas vão voltar, tudo vai acontecer de novo.

Há três semanas, o EXTRA mostrou que dois terços dos tiros dados pela polícia em áreas consideradas pacificadas são de fuzil. Por que essa situação se mantém?
Não vou garantir que não vai ter fuzil nessas áreas. Não há como dizer isso. Não há como dizer que não vai ter tiro no Alemão, na Rocinha, no Fallet. O que há é a falta de PMs em certos lugares. Temos carência de policiamento em algumas UPPs, mas vamos tentar recuperar com a formatura dos praças que estão no curso de formação. Mas não tem como dizer que não vai ter mais arma nesses lugares.

O senhor acredita que a polícia não realiza alguns projetos propostos pela secretaria?

Eu acho que pode acontecer. Qualquer instituição tem grupos. Não é toda a PM que abraçou o projeto das UPPs. Tem gente na PM que não quer UPP. Uma maioria, que já subiu morro, que já trocou tiro, que já enterrou companheiros, quer. Mas tem gente que faz corpo mole. Isso acontece em todo serviço público, mas acaba prejudicando a polícia e o serviço. Quanto maior a união, melhor o resultado.
O senhor ainda acredita nas UPPs? Acha que o projeto sobrevive ao seu período na secretaria?
Acredito, porque o Rio não vai ter outra alternativa, a não ser sedimentar esse programa. Só se, algum dia, esses locais também passarem a ser amplamente patrulhados. Enquanto esses lugares não forem abertos, o Rio não tem outra alternativa a não ser ocupar essas áreas com a polícia e com serviços.

Em entrevista recente, o senhor disse que “prender não adianta mais”. O que adianta, então?
Fazer com que as penas tenham caráter exemplar. O que adianta é o preso passar por processos de ressocialização que realmente socializem. A prisão não impõe mais respeito. É difícil falar isso. Vão falar que o Beltrame está tirando a responsabilidade dele. Absolutamente. O que eu estou vendo é que a gente prende pessoas, e o crime aumenta proporcionalmente ao número de prisões. Algo está errado. As pessoas dizem: “A polícia não funciona”. Mas temos resultados operacionais até bastante altos. Isso não está bastando.
A menos de três meses das Olimpíadas, há uma guerra de facções na Zona Norte. É possível impedir isso?
É muito difícil, porque é um problema ideológico das facções. A ocorrência desse tipo de coisa é só mais um motivo para continuarmos com o projeto das UPPs. O Playboy (Celso Pinheiro Pimenta, ex-chefe do tráfico do Complexo da Pedreira, morto em 2015) fez o que fez em área que não era pacificada. O programa não pode parar, mesmo que ainda se tenha o tráfico. Sempre disse que o tráfico não era o nosso problema. Nosso problema é a ostensividade obscena das armas, que, de certa forma, estamos neutralizando. No Juramento, a população está à mercê de uma luta de dois imperadores, o estado não está lá.

Na semana passada, o senhor prometeu como solução para a quantidade de assaltos na Linha Amarela algo que já havia proposto em 2010. Por quê?
O projeto Garupa fui eu quem trouxe para o Rio. Trouxe policiais de Goiás, onde o projeto existia, para o Rio, comprei as motos. Mas o que aconteceu: com seis motos rodando 12 horas por dia, muitas motos não estão em condições de circular. Agora, estou arrumando essas motos, comprando outras e 20 motociclistas estão sendo capacitados para ficar na Linha Amarela. Além disso, eu fui ao local onde a Ana Beatriz (Frade) foi morta. Ali é um breu, o mato é alto. Infelizmente é assim, no Rio é assim, tem esses lugares que propiciam que isso aconteça.

Os números ruins dos últimos meses desmotivam?
Não estou aqui para aparecer, para sair como vitorioso. Estou aqui porque acredito no que eu faço. O que fizemos melhorou a vida das pessoas. Estamos enfrentando problemas muito sérios. Se encararmos esses nove anos como um filme, para mim o filme é muito bom. Mas se você pegar só as fotos, só alguns momentos, você vai pegar fotos ruins. A foto de hoje é ruim.
Explosão da violência
As estatísticas de violência de abril deste ano, obtidas na íntegra em primeira mão pelo EXTRA, revelam um cenário preocupante. Entre os principais índices, considerados pela Secretaria de Segurança para a distribuição dos prêmios por desempenho aos policiais, todos apresentaram aumento de pelo menos 20% na comparação com o mesmo mês do ano passado — veja os dados completos no infográfico.

O quadro mais grave é o de letalidade violenta, que compila os casos de homicídio doloso, latrocínio (roubo seguido de morte), autos de resistência e lesão corporal seguida de morte. Foram 565 ocorrências no último mês, contra 423 em abril de 2015 — uma alta de 33,6%.

A situação é semelhante quando analisados os roubos de veículo (salto de 2.690 para 3.263, ou 21,3%) e de rua — soma dos registros de roubos a pedestre, de celular e em ônibus —, cujo crescimento foi de 29,4%, partindo de 7.077 para 9.158 casos. Considerando todos os tipos de roubo, foram 15.526 ocorrências ao longo de abril, em um aumento de 27,8%, o equivalente a uma vítima a cada menos de três minutos.

A análise isolada dos índices de letalidade violenta mostra ainda que a região de Niterói e São Gonçalo e o interior do estado foram as áreas mais atingidas pela escalada da violência. No primeiro caso, levando em conta o total de ocorrências entre janeiro e abril, o aumento foi de 34,2% na comparação com o mesmo período do ano passado, enquanto no interior a subida foi de 28,%.


Leia mais: EXTRA.GLOBO

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seu comentário é sua opinião, que neste blog será respeitada

politicacidadaniaedignidade.blogspot.com