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terça-feira, 10 de março de 2015

Dia internacional da mulher: pouco a comemorar e muito para avançar

4 situações inadmissíveis que ainda acontecem com as mulheres


Publicado há 1 dia - em 9 de março de 2015 » Atualizado às 9:12 

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Feliz Dia Internacional da Mulher!
Sinceramente, poucos são os motivos para serem comemorados neste domingo (8). Embora muita coisa tenha melhorado para as mulheres nas últimas décadas — e sim, realmente muita coisa melhorou — ao redor do mundo inteiro elas ainda sofrem violência todos os dias. Mutilação genital, ataques com ácido, violência sexual, privação de educação.
Investigamos situações como essas, às quais milhões de mulheres ainda são submetidas, e o resultado é desanimador.
Segundo dados do Banco Mundial, mulheres entre 15 e 44 anos têm mais chance de morrer por estupro e violência doméstica do que de câncer, acidentes de carro, situações de guerra e malária.
1. Mutilação Genital
New Measures To Prohibit Female Circumcision Announced In London
Considerada pela Organização das Nações Unidas (ONU) como uma violação dos direitos humanos , esta prática consiste em remover – parcial ou totalmente – os genitais femininos, com a intenção de impedir que a mulher sinta prazer sexual. Não há nenhuma justificativa médica para esse tipo de intervenção, de acordo com a Organização Mundial da Saúde.
De acordo com dados divulgados pela Unicef em fevereiro, há cerca de 130 milhões de mulheres e meninas vítimas da prática vivas atualmente.
A mutilação genital é mais comum em países da África e em algumas localidades do Oriente Médio, mas estima-se que na Europa, o número de mulheres ameaçadas pela mutilação genital gire em torno de 500 mil – a maioria dos casos se concentra em comunidades de imigrantes que vêm de países onde a mutilação é considerada “parte da tradição”.
Geralmente a operação é feita de forma rudimentar, sem anestesia e em condições de higiene “catastróficas”, de acordo com a Desert Flower Foundation. Facas, tesouras, lâminas e até cacos de vidro podem ser usados nos procedimentos, geralmente feitos até os 15 anos da vítima.
Dados da Unicef mostram que a prática se alastra principalmente na Somália e na Guiné, onde 98% e 97% da população feminina foi mutilada, respectivamente. Caso a prática não seja inibida, 30 milhões de mulherespodem sofrer mutilação genital na próxima década.
Unicef, no entanto, afirma que a situação está melhorando, ainda que em um ritmo muito abaixo do ideal. A chance de uma menina ser cortada hoje em dia é um terço menor do que era há 30 anos.
Vários países contam com legislação para inibir a prática e uma série de tratados internacionais, convenções da ONU e a própria Declaração Universal dos Direitos Humanos trazem observações severamente contrárias à prática.
A dificuldade de combatê-la pode ser explicada, entre outros motivos, pelo fato de que muitas sociedades consideram a mutilação genital um rito de passagem da infância para a vida adulta da mulher, assim como uma prática cultural e religiosa.
OMS afirma que a mutilação causa sérios riscos como hemorragia, tétano, infertilidade e a necessidade de outras cirurgias para reparar o estrago.
2. Ataques com Ácido
PAK: Acid Violence Against Women in Pakistan
Os ataques com ácido atingem principalmente mulheres e crianças, geralmente com o objetivo de mutilar, desfigurar ou cegar as vítimas. Esse crime raramente causa a morte, mas traz danos físicos e psicológicos severos e perpétuos.
O número de ocorrências de ataques com ácido é maior em países pobres, mas há casos registrados em diversos países do mundo como Índia, Laos, China, Japão, Etiópia, Nigéria, Quênia, México, Jamaica, Guiana, Argélia, Uganda, Afeganistão, Grécia, Turquia, estados Unidos, Austrália, Reino Unido etc.
Quando jogado diretamente no corpo, o ácido derrete a carne e até os ossos, causando uma dor sem precedentes e podendo deixar, além dos danos estéticos, as vítimas cegas e mutiladas.
É muito difícil obter dados exatos sobre esse tipo de crime. A Índia, um dos países com maior incidência de ataques, até 2013 não registrava os crimes envolvendo ácido separadamente. Foi uma emenda no Código Penaldo país que fez com que esse tipo de ataque fosse registrado separadamente.
De acordo com números da Acid Survivors Foundation, de 1999 até 2014 foram computados 3.240 incidentes envolvendo 3.582 pessoas. A própria fundação, no entanto, reconhece que os números não são 100% precisos, e que o levantamento é feito com base em relatos de vítimas, ONGs e notícias.
3. Violência Sexual
Victims Of Rape Speak Out
As taxas de violência sexual são difíceis de serem estabelecidas. De acordo com a ONU, isso se deve ao fato de que em muitas sociedades, esse tipo de crime ainda causa vergonha e sentimento de culpa nas vítimas, fazendo com que muitas denúncias deixem de ser feitas.
O tema também é considerado pela OMS como um problema de saúde públicaque traz severas consequências à saúde mental, física e sexual das mulheres.
Segundo a ONU, estima-se que uma em cada cinco mulheres serão vítimas de estupro ou de uma tentativa de estupro ao longo da vida.
Em algumas sociedades, as mulheres que sofrem estupro têm ainda que se casar com o criminoso ou são mortas pela família, “em nome da honra”. O Unfpa, órgão ligado às Nações Unidas, estima que pelo menos 5.000 mulheres percam a vida anualmente por causa de crimes de honra.
Nos últimos dias, o mundo voltou a discutir um caso que chocou a Índia e a comunidade internacional em dezembro de 2012, quando uma jovem de 23 anos foi estuprada por cinco homens dentro de um ônibus em Nova Déli. Ela morreu 13 dias após o ataque, e seu caso gerou uma onda de protestos sem precedentes em todo o país.
O assunto voltou à tona por causa da repercussão do documentário India’s Daughter(A Filha da Índia, em tradução livre), que trazia depoimentos chocantes de um dos condenados pelo crime.
Esse tipo de crime, no entanto, acontece em TODOS OS PAÍSES DO MUNDO e em todas as camadas da sociedade. Em setembro de 2014, Emma Sulkowicz chamou a atenção da imprensa americana e internacional ao afirmar que foi estuprada por um colega da renomada Columbia University, em Nova York. Seu agressor continuou na instituição e ela disse que foi desacreditada por autoridades da universidadeque, supostamente, deveriam investigar seu caso e apoiá-la.
Mais recentemente, um aluno da Universidade de Illinois-Chicago foi acusado deestuprar uma colega dentro de um dos dormitórios da instituição. À polícia, ele se defendeu das acusações afirmando que estava recriando cenas do filme 50 Tons de Cinza.
Os estupros também são usados como táticas de guerra em conflitos, seja parahumilhar oponentes, aterrorizar indivíduos e destruir sociedades.
Grupos armados como o Estado Islâmico e o Boko Haram frequentemente sequestram mulheres que são transformadas em “esposas” de combatentes ou em escravas sexuais.
Entre 250 mil e 500 mil mulheres foram estupradas durante o genocídio em Ruanda, no ano de 1994 e na República Democrática do Congo, em média 36 mulheres são estupradas todos os dias.
4. Privação de Educação
Afghan Girls Receive Education in Bamiyan
Embora a Declaração Universal dos Direitos Humanos seja clara ao afirmar, em seu 26º artigo, que a educação é um direito de todos, uma em cada cinco meninas está fora da escola, segundo dados da própria ONU.
Entre as causas da ausência das meninas da escola estão a pobreza – muitas vezes a família prefere educar os filhos do sexo masculino -, o casamento precoce e o trabalho doméstico. Além disso, situações de assédio sexual no ambiente escolar podem fazer com que as jovens deixem os estudos.
No mundo inteiro, 80% das mulheres adultas são alfabetizadas. Entre os homens, o percentual é de 89%. Já nos países menos desenvolvidos, apenas 51% das mulheres sabem ler e escrever.
A Unesco afirma que 31 milhões de meninas estão fora da escola primária e que 17 milhões não devem nunca ingressar no sistema de educação formal. Os países com piores índices são a Nigéria, onde quase 5,5 milhões de garotas estão sem estudar, o Paquistão, com 3 milhões de meninas ora das salas de aula e a Etiópia, com quase um milhão de meninas fora da escola.
Os dois primeiros países do ranking tem, em seu território, a intensa atuação de grupos terroristas que visam impedir o acesso de jovens à educação.
Na Nigéria, em abril de 2014, o Boko Haram sequestrou mais de 270 meninas de um internato em Chibok, no nordeste do país. Em tradução livre da língua local, hausa, Boko Haram significa “a educação ocidental é proibida”.
O sequestro gerou condenações globais e uma enorme campanha pelo resgate das estudantes. A campanha em parte se disseminou graças à hashtag #BringBackOurGirls (tragam nossas meninas de volta).
Até hoje, no entanto, nenhuma menina foi resgatada.d
No Paquistão, o Taleban matou pelo menos 141 pessoas – a maioria crianças – ao atacar uma escolaadministrada por militares em Peshwar, no Paquistão. O grupo é o mesmo que atacou a jovem Malala Yousafzai. Ela foi baleada por causa de sua campanha contra os esforços do Taliban para negar educação às meninas.
Malala ganhou o Prêmio Nobel da Paz no ano passado. Atualmente, a jovem vive no Reino Unido e não pode voltar ao Paquistão por ameças de morte direcionadas à ela e sua família.
No ensino médio, a situação ainda é mais complicada: 34 garotas estão fora das salas de aula.
Unicef afirma que a educação feminina tem um efeito “multiplicador”.
“Meninas educadas são mais propensas a casarem tarde e ter menos filhos, que terão mais chance de sobreviver, assim como melhores condições de nutrição e educação. Mulheres com mais alto nível de escolaridade também são mais produtivas em casa e mais bem remuneradas além de serem mais aptas a participar em decisões políticas, sociais e econômicas.”
 De acordo com a Unesco, se todas as mulheres tivessem completado os estudos primários, os casamentos infantis e a mortalidade infantil poderiam ser reduzidas a um sexo, e as mortes maternas a dois terços.

9/3/2015Geledés Instituto da Mulher Negra

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