Realizado nessa quinta, 25, o encontro trouxe a visão da doutora em processo penal pela USP, Ana Lucia Menezes; do repórter investigativo Rodrigo Hidalgo (Band); do jornalista da TV Globo, Valmir Salaro; e da advogada criminal
Marina Dias. Escrito por Nathália Carvalho
Repórter investigativo, Hidalgo comenta que houve coberturas sensatas e outras que merecem ser avaliadas, mas que não há estatísticas que comprovem que a imprensa influencia no desfecho dos júris. "Casos como o da Eloá Pimentel precisam ser discutidos. Como fazer este tipo de cobertura?", questionou. O profissional salientou que muitos afirmam que há sensacionalismo nas coberturas, mas que é válido ver que em muitos casos a reportagem descartou um suspeito ou inocentou um acusado. Outro ponto que apresenta preocupação é o equilíbrio. "Tentamos sempre ouvir os dois lados, mas o repórter acaba privilegiando a tese da acusação".
O caso de Eloá, morta em 2008, foi debatido durante o encontro
(Imagem: Divulgação)
Para Ana, que também é promotora de justiça em São Paulo, a imprensa cumpre papel importante na sociedade e é a garantidora natural de que juízes ajam de maneira consequente. Ela ponderou, porém, que é preciso de limites. "Se o trabalhonão for analisado, a imprensa pode acabar contribuindo mais para o entretenimento do que efetivamente cumprir o dever de informar corretamente", explicou. Em sua visão, a conversa entre Judiciário e jornalistas precisa ser cada vez mais constantes. Ela ainda alertou os profissionais ao dizer que "não tarda a surgir uma PEC para regular a imprensa". "O trabalho tem que ser feito com responsabilidade. O ser humano tem que ser julgado, mas não pode e nem deve ser pré-julgado".
Com 35 anos de profissão e passagens por Jornal do Brasil, Diário do Grande ABC, Jovem Pan e Globo, onde trabalha há mais de uma década, Salaro lembrou que nenhum jornalista trabalha com a intenção de errar. "Ele erra porque é ser humano", desabafou. Ao lembrar o caso de Isabella Nardoni, o repórter citou que os acusados, Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, chegaram ao júri condenados. "O jornalista é um pouco justiceiro, mas é preciso tomar cuidado. Fui justiceiro no caso da Escola Base e ajudei a mudar para pior a vida de várias pessoas".
Ainda sobre o caso da garota Isabella, Salaro contou que, por ter entrevistado os envolvidos, acabou virando o "terceiro acusado". "Virei acusado porque dei voz para eles. Há quem diga que foi a pior entrevista que fiz, mas eles precisam ser ouvidos". O repórter considera o julgamento como um dos mais tristes, já que ao final haviam pessoas comemorando e soltando fogos. "O desfecho chegou, mas restaram várias dúvidas. Não há detalhes sobre o crime, há falhas e os jornalistas colaboraram com a situação. É preciso ver que estamos diante de uma tragédia e não de um espetáculo".
Atrás das gradesTambém abordado em outras palestras do seminário, o trabalho do jornalista no "pós crime" foi questionado durante a oficina. Segundo Hidalgo, não existe cobertura depois das prisões por questões de governo. "Não deixam a imprensa entrar no sistema prisional. Temos que pedir autorização e muitas vezes somos barrados sob a alegação de que é perigoso. Não conseguimos fazer reportagens com presos, nemmostrar em que condições eles estão".
Ana analisou que o momento é oportuno para questionar essa decisão. "A imprensa precisa perguntar o motivo da proibição. É importante que os jornalistas tenham acesso ao que acontece lá dentro". Salaro afirmou que não vê interesse por parte dos veículos de comunicação em divulgar essas informações. "As pessoas estão lá sofrendo e não há quem queira mostrar. Então é a classe média escrevendo para a classe média", criticou.
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