A suspeita é de que Rodrigo Neto de Faria tenha sido assassinado por policiais ligados ao crime organizado em Ipatinga.
O assassinato do jornalista Rodrigo Neto de Faria,
morto no mês de março, em Ipatinga (Rio Doce), foi tema de audiência
pública da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de
Minas Gerais (ALMG), nesta terça-feira (9/4/13). Para o deputado Durval
Ângelo (PT), presidente da comissão, a região está vivendo um período de
extrema violência e o Poder Judiciário, seja por medo ou por
cumplicidade, não está combatendo a situação. Ele explicitou esse ponto
de vista ao criticar o fato de que os juízes do Vale do Aço não
concederam nenhuma prisão preventiva a policiais acusados de
envolvimento com o crime organizado. “Existem juizes que têm medo dos
policiais, outros são escoltados pelos próprios policiais denunciados",
afirmou.
Durval levantou suspeita em relação a policiais lotados
em Coronel Fabriciano (Rio Doce), cidade próxima a Ipatinga, que
podem estar envolvidos com a desova de corpos em São Cândido, distrito
de Caratinga, também na região, e que eram investigados por Rodrigo
Neto. Segundo o parlamentar, “um gol preto era visto desovando corpos
no local e era usado, com chapa fria, pela delegacia de Coronel
Fabriciano. Depois da morte do Rodrigo, o gol desapareceu”.
O deputado citou, ainda, o caso dos irmãos caboclos, que foram
condenados a 19 anos de prisão, mas continuam soltos. Segundo ele, os
dois irmãos ofereceram R$ 100 mil pela morte do próprio deputado e R$ 60
mil pelo assassinato do delegado que apurava os crimes de que eram
acusados. “O Judiciário fica em um olimpo inatingível, enquanto isso,
temos policiais envolvidos em crime bárbaros como o da moto verde. Caso,
este, em que a cabeça de um jovem usuário de drogas foi jogada na casa
de um coronel e, logo em seguida, o policial interrompeu as
investigações que comandava e se transferiu para a área de comunicação
social da Polícia Militar”, destacou Durval.
Para a presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas
Gerais, Eneida Ferreira da Costa, “é do conhecimento geral que quem
comete esses crimes são bandidos travestidos de políticos ou de
policiais. São elementos que usam suas posições para ficarem impunes”,
afirmou. A presidente destacou, ainda, que os crimes contra jornalistas
vão desde o cerceamento do direito de informar até a violência física de
fato.
Jornalistas são alvo fácil - Eneida
reforçou os perigos vividos por profissionais ligados à área de
comunicação. Segundo ela, duas entidades que monitoram a violência
contra os jornalistas, entre elas a organização francesa Jornalistas sem
Fronteiras, destacaram o Brasil como um dos locais mais perigosos para o
desenvolvimento das atividades relativas à profissão. “O Brasil é o
sexto país mais violento do mundo para jornalistas. Morreram mais destes
profissionais no Brasil do que em países em guerra”, afirmou.
Enquanto os demais componentes da mesa pediam uma apuração rápida e
uma punição exemplar para os culpados pela morte de Rodrigo, os
delegados Wagner Pinto de Souza, que representava o chefe da Polícia
Civil do Estado, e Alexsander Esteves Palmeira reforçaram a complexidade
da investigação. “São necessárias medidas cautelares, prisões, e temos
que trabalhar para conseguir esses resultados. A Polícia Civil vai
buscar todas as provas objetivas e subjetivas para esclarecer os fatos e
buscar os responsáveis por essas barbárie”, destacou Wagner.
O presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB/MG, Willian dos
Santos, afirmou a necessidade da federalização de crimes contra
jornalistas. Eneida completou informando que está em pauta no Congresso
Nacional um projeto de lei, de autoria do deputado Prótogenes Queiroz
(PCdoB/SP), que pede a federalização de crimes contra jornalistas. Pediu
ainda que o projeto inclua, além dos jornalistas, todos os
profissionais da área de comunicação social.
Histórico - O jornalista Rodrigo Neto de Faria foi
assassinado no dia 8 de março, em Ipatinga, com três tiros. A principal
hipótese é a de que ele tenha sido morto devido ao trabalho que
realizava como jornalista investigativo na Rádio Vanguarda, denunciando
chacinas e mortes supostamente cometidas por um grupo de policiais da
região.
Além da audiência pública realizada hoje, a Comissão de Direitos
Humanos da ALMG e a ministra-chefe da Secretaria de Direitos Humanos da
Presidência da República, Maria do Rosário, estiveram no 12º
Departamento de Polícia Civil de Ipatinga, em 19 de março, para obter
informações e solicitar agilidade na apuração dos responsáveis.
Entretanto, até agora não foram indicados os autores do crime.
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