Presidentes da Câmara e do Senado, a pedido de Temer, se reúnem com
Gilmar Mendes e acertam estratégia para congelar PEC 33, que cerceia
poderes da Corte; ação apaziguadora, porém, é conturbada por Marco Maia,
petista que antecedeu Henrique Alves
Numa articulação com o Palácio do Planalto, a cúpula do PMDB no
Congresso entrou ontem em campo para reduzir a tensão entre o
Legislativo e o Supremo Tribunal Federal, mas a estratégia foi
atropelada por integrantes do PT? que insistem em manter o confronto com
a Corte
Os presidentes da Câmara e do Senado, Henrique Eduardo Alves (RN) e
Renan Calheiros (AL), ambos do PMDB, reuniram-se com o ministro Gilmar
Mendes. Ficou acertado que nesta semana o STF não toma nenhuma decisão
sobre a votação, no Senado, do projeto que veta recursos e tempo de TV
para novos partidos. Em contrapartida, a Câmara deve "congelar" a
tramitação da proposta de emenda constitucional (PEC 33) que tira
poderes da Corte e permite ao Congresso rever decisões sobre ações de
inconstitucionalidade e súmulas vinculantes.
Os parlamentares informaram ao ministro do Supremo que será feita uma
análise sobre a constitucionalidade da PEC 33- Se for considerada
inconstitucional, deverá ser arquivada.
A ofensiva apaziguadora do PMDB, porém, foi conturbada por declarações
do petista Marco Maia (RS), ex-presidente da Câmara, que, contrariando
orientações da presidente Dilma Rousseff, pôs mais combustível no embate
com o STF.
Da tribuna da Câmara, Maia anunciou que apresentará outra emenda
constitucional (PEC) que, se aprovada, proíbe que liminares assinadas
por apenas um ministro do STF possam suspender a tramitação, no
Congresso, de projeto de lei ou emenda à Constituição. Foi isso que
ocorreu na semanapassa, da, quando a liminar de Gilmar Mendes barrou a
apreciação, no Senado, do projeto sobre a criação de novos partidos.
Quem legisla, quem aprova mudanças na Constituição, quem altera o
arcabouço legal do País e quem debate alterações na Constituição, nas
leis, nas regras de funcionamento do País, é o Parlamento", proclamou
Marco Maia.
Henrique Alves se disse surpreso com a iniciativa de seu antecessor.
aEstou sendo informado disso agora. Não sabia", afirmou, logo depois da
reunião com Gilmar Mendes.
O conflito entre o STF e o Congresso começou justamente por uma PEC
apresentada pelo deputado Nazareno Fonteles (PT-PI).que permite ao
Legislativo cassar decisões do Supremo. No mesmo dia, o ministro Gilmar
Mendes, porli-minar, suspendeu a tramitação do projeto de lei que
dificulta a criação de novos partidos. A ação que pediu ao STF para
suspender a tramitação do projeto foi apresentada pelo PSB, sob o
argumento de que era inconstitucional Já a emenda constitucional de
Nazareno teve a tramitação suspensa por ordem da presidência da Câmara.
Alves disse ontem que pediu novos estudos sobre a constitucionalldade da
proposta.
A presidente Dilma Rousseff havia pedido ao vice-presidente da
República, Michel Temer (PMDB), que é jurista, para ajudar a conter o
embate entre o Legislativo e o Judiciário. Temer, depois de criticar
publicamente a PEC 33, acionou Renan Calheiros e Henrique Alves para o
encontro com Mendes.
"Foi uma reunião muito boa e amistosa", relatou Henrique Alves. "Na
semana que vem vamos ter nova reunião", emendou Calheiros. Indagado se
Mendes mudaria a liminar sobre os partidos, ele lembrou que haverá o
feriado de 1° de Maio. Portanto, todos terão uma semana para esfriar a
cabeça.
"Da parte do Legislativo não há nenhuma intenção ou qualquer ruído para
estremecer as relações que têm que ser, devem ser, e sempre serão
respeitosas entre dois poderes que são pilares da democracia ", afirmou
Alves.
"A bola está no chão, a coisa está distensionada", disse Renan. "O
ministro Gilmar foi gentil, defendeu seus pontos de vista. Nós
defendemos os nossos pontos de vista e a conversa vai continuar. Saímos
de lá com a convicção de que cada Poder tem a exata dimensão da sua
responsabilidade e do seu papel", acrescentou Renan Calheiros.
O presidente da Câmara informou que quer alterar o regimento da Casa. A
partir de agora, a votação de qualquer PEC será feita nominalmente e
não por votação simbólica, como ocorreu com a proposta de Nazareno
Fonteles. "Não queremos e não podemos restabelecer qualquer confronto
com o Judiciário. Essa Casa sabe dos seus direitos e deveres e o
Judiciário também", disse Alves.
Na terça-feira, 7, Marina Silva vai se encontrar com o presidente do
STF, Joaquim Barbosa. Ontem, ela agradeceu a Gilmar Mendes por suspender
o projeto que dificulta a criação de novas sigla.
Fonte: O Estado de S. Paulo - 30/04/2013
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