Com razão, o planeta está em choque com a morte de três pessoas na
maratona nos EUA. E quem está em choque com a morte de 30 infelizes sem
amor-próprio e sem proteção do Estado brasileiro?
Ontem, houve uma debandada de deputados da Comissão de Direitos Humanos e
dezenas de pessoas continuaram gritando para afugentar o deputado e
pastor Marco Feliciano. Nem a portas fechadas a comissão consegue
funcionar.
Do outro lado, 40 evangélicos decidiram dar um troco e invadiram a
Comissão de Constituição e Justiça para exigir a saída dos deputados
José Genoino e João Paulo Cunha, condenados pelo mensalão.
Ao que se saiba, nem os deputados, nem os evangélicos, nem os
manifestantes contra Feliciano estão discutindo o que realmente
interessa nem a questão mais urgente de direitos humanos: um possível
grupo de extermínio na capital de Goiás.
A única estridência partiu da ministra Maria do Rosário, pedindo à
Procuradoria-Geral da República que a Polícia Federal entre em ação. A
ministra é do PT, e o governador Marconi Perillo, do PSDB, mas a questão
não é partidária nem apenas local.
Com tantas mortes há oito meses, não é absurdo supor que a polícia
estadual esteja, no mínimo, lavando as mãos; no máximo, envolvida.
Os moradores de rua vêm sendo atacados a tiros, a facadas e espancados
até a morte, um atrás do outro, e nada acontece. Até ontem, quando
alguns suspeitos foram presos, não havia gritaria, nem manifestações,
nem a presença do Congresso e nem mesmo operações diligentes.
É como se as vítimas, já tão punidas pela vida, não fossem nada, apenas
um fardo, um acidente. E os direitos humanos, onde ficam?
Eliane Cantanhêde, jornalista, é colunista da Página 2 da versão impressa da Folha,
onde escreve às terças, quintas, sextas e domingos. É também
comentarista do telejornal "Globonews em Pauta" e da Rádio Metrópole da
Bahia.
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