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sábado, 6 de abril de 2013

Catástrofe no tráfego rodoviário e urbano em Minas é ignorada pelo poder público



Especialistas afirmam situação equivale a negligenciar uma epidemia como a de dengue

Guilherme Paranaiba - Valquiria Lopes -Luiz Ribeiro - Jornal Estado de Minas 

As cruzes à beira da estrada e os corpos de vítimas de acidentes caídos em vias públicas não foram suficientes para mudar uma realidade trágica no trânsito de Minas Gerais. São vistos ainda como símbolos de tragédias diluídas em um mar de 8,4 milhões de motocicletas, carros, caminhões e ônibus registrados no estado. Mas, em números, essas vidas interrompidas pela violência ao volante têm a mesma dimensão das grandes tragédias capazes de comover o país. Somente de janeiro até ontem, conforme levantamento feito pelo Estado de Minas, pelo menos 561 pessoas morreram em acidentes nas rodovias federais, estaduais e no trânsito urbano de 21 cidades mineiras. Para se ter uma ideia, seria como se a cada 41 dias o país fechasse os olhos para o incêndio na Boate Kiss, em Santa Maria (RS). Se o ritmo viário se mantiver, a previsão é que ao menos 2.178 pessoas percam a vida até o fim do ano.

Para efeito de comparação, os dados levantados pelo EM são mais que cinco vezes superiores aos 108 óbitos causados pela dengue em todo o país, mas estão longe de gerar a mesma mobilização que a doença. Os números dão conta de mortes no local dos acidentes, mas também consideram óbitos ocorridos em hospitais. No Risoleta Neves, na Região de Venda Nova, em BH, quatro pessoas que deram entrada neste ano em decorrência de acidentes de trânsito não resistiram. Já no Hospital Margarida, em João Monlevade, na Região Central do estado, que costuma receber acidentados na BR-381, sete pacientes morreram depois de socorridos. A violência é ainda maior no Hospital de Pronto-Socorro João XXIII, em Belo Horizonte, referência em Minas para atendimento de acidentados do trânsito. O hospital não conta com estatísticas relacionadas aos óbitos, mas 3.057 pessoas deram entrada entre janeiro e março vítimas da violência no tráfego urbano e rodoviário.

Para o sociólogo e consultor em segurança de trânsito Eduardo Biavati, o fato de todas as mortes levantadas não ocorrerem de uma só vez, como foi o caso de Santa Maria, faz a situação parecer menos grave do que realmente é. “A violência no trânsito tem uma raiz comum com a tragédia do Rio Grande do Sul. As duas situações apontam para cumplicidade entre poder público, cidadãos e empresários no que diz respeito à aplicação das leis, fiscalizações e cumprimento de normas”, diz o especialista. Eduardo ainda chama a atenção para uma medida simples, que poderia minimizar a carnificina: “Se não conseguimos duplicar nossas rodovias, que sejam espalhados radares para controlar a velocidade, uma medida totalmente viável”.

Conviver com tantas mortes no trânsito tem o mesmo peso de negligênciar uma doença epidêmica, avalia o diretor da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego, Dirceu Rodrigues Alves Júnior. “As mortes por acidentes de veículos já são uma epidemia, assim como a dengue. O poder público investe em equipes que vão de casa em casa combater o mosquito transmissor da doença. Por outro lado, não vemos equipes em nossas esquinas ou nas estradas, na mesma proporção, para educar motoristas e fiscalizar o trânsito”, compara.

Entre as razões para continuidade e o crescimento dessas tragédias, o especialista aponta a precariedade das estradas e a falta de fiscalização. “São vias perigosas, geralmente de pista simples, com traçado sinuoso, com buracos e pontes precárias. Por outro lado, temos a imprudência dos motoristas e a fiscalização insuficiente”, ressalta. Segundo ele, o efetivo de policiais de trânsito não dá conta de coibir uso de drogas e de álcool, além da imprudência e imperícia de motoristas, tanto em rodovias quanto em áreas urbanas. O tráfego de veículos pesados na malha viária mineira também preocupa. “Além de Minas ter intenso movimento de caminhões, o predomínio é de motoristas autônomos. E eles não fazem a manutenção adequada nos veículos”, afirma.

Para o assessor de comunicação da Polícia Rodoviária Federal (PRF) em Minas, inspetor Adilson Souza, os desastres são motivados por várias situações. “Enquanto de um lado há uma infraestrutura rodoviária com problemas, a conduta imprudente de motoristas e um efetivo que não consegue acompanhar a demanda, de outro temos um crescimento vertiginoso da frota devido à expansão econômica”, avalia. Ele acredita que uma das alternativas viáveis para diminuir a carnificina é aumentar o preço das multas para as infrações que mais causam acidentes.

Tristeza e revolta

Enquanto as tragédias não param de acontecer, parentes e amigos de quem se foi vítima lamentam. A empregada doméstica Rosilda Madalena, de 31 anos, é tia do pequeno Erick Julian da Silva, de 9 anos, atropelado na porta da escola em Contagem, na Grande BH, na segunda-feira. Ela conta que os parentes ainda não conseguiram assimilar a perda da criança. “No Brasil, a gente espera a desgraça acontecer para depois pensar em alguma coisa. Mas também não podemos deixar de dizer que as pessoas quando estão no trânsito são mal-educadas e não têm a mínima preocupação em respeitar qualquer tipo de lei”, diz ela. Também tia do garoto atropelado, Adriana Gomes da Silva, de 40, critica o valor das multas. “A punição tinha que ser muito pesada. O trânsito no Brasil mata mais que em uma guerra. A gente sabe que ninguém sai com a intenção de matar, mas, ao desrespeitar as normas, a pessoa assume o risco”, diz. ela.

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