A reportagem deveria arguir as policiais femininas da base da corporação, para aferir se as questões de gênero, já foram realmente resolvidas no âmbito da organizações militares do Estado.
Obviamente, querer ouvir da boca de uma Coronel PM feminina, que compõe a alta cúpula da Polícia Militar, que tais problemas que são natureza social e política, para não dizer cultural, é exigir que se oponha a política do comando e do governo, já que muito das discriminações e preconceitos são resultado da cultura machista que vigora na sociedade.
Então perguntamos, há pequisas que sustentam a afirmativa da Cel PM Cláudia Romualdo sobre as questões de gênero, pois ao tratar a afirmativa como verdadeira, estaremos colaborando para o retrocesso e o enfraquecimento da luta das policiais femininas, que começou agora recentemente, quando se mobilizaram para defender a aposentadoria aos 25 anos de serviço, direito já conquistado por outras categorias de trabalhadoras.
Sugerimos a imprensa e a Associação das mulheres profissionais de segurança pública, - AMPROSEG - por meio de sua presidenta, que manifeste sobre o tema, expressando concordância ou discordância, por ser de interesse a todas as policiais e bombeiras femininas de Minas Gerais.
José Luiz Barbosa, Sgt PM - RR
Presidente da Associação Mineira de Defesa e Promoção da Cidadania e Dignidade, e ativista de direitos e garantias fundamentais.
'Diferença de gênero já está superada pela PM', diz 1ª comandante de BH
Cláudia Romualdo está na Polícia Militar há 27 anos.
Ela lidera cerca de 5,8 mil militares dos nove batalhões.
Raquel Freitas
Do G1 MG
Sentada ao lado de um painel com fotografias de ex-comandantes de
Policiamento da Capital – todos homens –, a coronel Cláudia Romualdo
lidera cerca de 5,8 mil militares dos nove batalhões de Belo Horizonte.
Há pouco mais de um mês, ela se tornou a primeira mulher a comandar a
1ª Região da Polícia Militar (PM) de Minas Gerais e garante que nunca
enfrentou preconceito na corporação. “Durante 27 anos de serviço que eu
tenho, enfrentei alguns momentos difíceis, mas nenhum deles ligados ao
fato de ser mulher. Nunca tive nenhum problema nem com superiores, nem
com pares e nem com subordinados. Aqui, o que ganha um soldado ou uma
soldado é a mesma coisa. Essa diferença de gênero já está superada pela
PM”, afirma.
Apesar de assegurar que as condições para homens e mulheres são iguais dentro da polícia, a coronel reconhece que a novidade gera expectativas, inclusive por parte dela. A oficial, que não dispensa o batom, a maquiagem nos olhos e um perfume importado, diz que se sente responsável por demonstrar que o fato de conseguir realizar um bom trabalho está exclusivamente ligado ao empenho e à dedicação. “Ser mulher não é o fator que vai determinar se aquele comando vai ser exitoso ou não”, pontua. Para garantir o êxito de sua atuação à frente do CPC, a coronel Cláudia Romualdo aposta em um comando próximo dos militares e também da população, acompanhando o dia a dia das ocorrências da cidade. “Eu me considero uma pessoa extremamente visual. Para que eu possa solucionar um problema, eu gosto de ver o problema. Então, eu gosto de ir à rua, porque na rua o aprendizado é insubstituível, na minha opinião. Na rua eu consigo, ao mesmo tempo, falar com o cidadão, ouvir dele as suas impressões, e, ao mesmo tempo, falar com o policial militar que está trabalhando na rua, ouvir dele as sugestões, as impressões”, explica.
Coronel Cláudia Romualdo é a primeira mulher a
assumir o Comando de Policiamento da capital
(Foto: Raquel Freitas/G1)
Vocação militarassumir o Comando de Policiamento da capital
(Foto: Raquel Freitas/G1)
Filha de uma professora aposentada e de um tenente-coronel da reserva, a comandante de Policiamento da Capital não demorou muito para se decidir pela carreira militar. Cláudia Romualdo nasceu na capital mineira, no dia 28 de fevereiro de 1968, em pleno sábado de carnaval. Ela conta que, durante o trabalho de parto no Hospital Felício Rocho, a mãe dela ouvia as marchinhas que embalavam os foliões na matinê Clube dos Oficiais da Polícia Militar, localizado no bairro Prado, na Região Oeste da cidade.
Doze anos depois, neste mesmo clube, encantada pelo som da banda da academia de polícia, a coronel, que se iniciava na adolescência, teve certeza de sua vocação. “Em 1981, entraram as 120 primeiras mulheres na polícia. Aí, um dia, eu me recordo que eu estava no Clube dos Oficiais, eu tinha 12 anos à época, e eu ouvi a banda de música da academia tocando e escutei que tinha uma tropa marchando. Eu subi no muro que divide o clube com o pátio da academia e vi que elas estavam fazendo aula de ordem unida [em que se aprende a marchar e a fazer continência, por exemplo]. Na hora que eu olhei, não tive dúvida. É isso que eu quero ser”, relembra.
Mesmo com o desejo contundente, a garota Cláudia teve de esperar para ingressar na PM, pois lhe faltavam idade e escolaridade. Em 1985, então com os pré-requisitos preenchidos, ela pôde tentar uma vaga na terceira turma de mulheres na PM mineira. Ainda menor de idade, iniciou sua trajetória militar. “O edital dizia que a candidata deveria completar 18 anos até fevereiro de 86, mas o curso começaria em 17 de fevereiro de 86. Como eu consegui fazer o concurso, me preparei, estudei e fui aprovada. Quando eu me incluí na Polícia Militar, no dia 17 de fevereiro de 1986, eu ainda não tinha completado 18 anos”, diz.
Extremamente detalhista e ligada a datas, a coronel conta que após se formar sargento, em dezembro de 1986, passou a trabalhar na extinta Companhia de Polícia Feminina, mas não mais que dois meses. Em fevereiro de 1987, depois de ser aprovada para uma das 12 vagas destinada a mulheres no Curso de Formação de Oficiais, Cláudia Romualdo dava os primeiros passos para se tornar coronel.
“A minha primeira unidade que eu fui servir foi o 5º Batalhão da Polícia Militar, entre aspas coincidentemente – porque eu não acredito em coincidência –, mas, coincidentemente, eu chegava aspirante a oficial na mesma unidade que, 20 anos antes, meu pai chegou como aspirante”, conta. Desde então, andou por “todo lado”, assumindo postos operacionais e administrativos, em Belo Horizonte, na Região Metropolitana e no interior do estado.
Nestes quase 30 anos de polícia, a coronel, que também bacharel em direito pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), destaca que a função mais gratificante que desempenhou foi a de comandante do 36º Batalhão, em Vespasiano, na Grande BH, por causa da proximidade com a tropa. “Era o meu sonho e eu consegui realizar. De todas as funções que já exerci, a de comandante de batalhão foi a mais plena de todas. Ali você consegue perceber na plenitude o exercício do seu comando”, justifica. Claúdia Romualdo permaneceu à frente do batalhão entre 2009 e 2011, quando foi designada para assumir a 3ª Região da Polícia Militar de Minas Gerais. Era a primeira vez em que uma mulher chegava ao comando regional no estado.
Para
conseguir êxito à frente do CPC, a coronel pretende deixar seu
gabinete, localizado no Centro da capital, e ir às ruas (Foto: Raquel
Freitas/G1)
À paisanaNo campo profissional, a comandante de Policiamento da Capital se diz plenamente realizada. Entretanto, para ela, uma pessoa só consegue se manter em equilíbrio se aliar o trabalho a outros dois pilares: a religiosidade e a família.
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